(ARQUIVO PESSOAL/MANOEL FREITAS/LEO QUEIROZ)
A virada do ano traz vários sentimentos diferentes. Representa mudança, início de novos projetos, oportunidade de recomeçar e de virar a página. Então, entra em cena algumas simpatias que já tiveram mais força, mas que ainda fazem parte de momentos especiais para muitas pessoas.
Os norte-mineiros, sem mar, terão que se desdobrar caso queiram pular sete ondinhas. Difícil mesmo é ver belos pratos montados para a data especial e não poder comer os que são a base de aves, pois elas ciscam para trás e isso pode dar azar. Não podem faltar os famosos três pulinhos, sem deixar a bebida cair da taça e, logo em seguida, joga-lá para trás, deixando o passado em seu devido lugar.
A jornalista Ludmila Guimarães é adepta das simpatias. Conhece inúmeras e realiza há cinco anos uma sequência no mínimo diferente. Na busca por prosperidade na vida financeira e profissional, além de paz por toda a vida, ela coloca porções de arroz nos quatro cantos da casa, que no outro dia são dispersadas na natureza. Antes que os fogos comecem ela já pega uma vela – para dar paz –, a carteira de trabalho – para dar sorte no emprego –, o passaporte – para que tenha boas experiências viajando – e um dólar – para trazer dinheiro.
Quando der meia-noite, ela certamente estará em cima de uma cadeira, se equilibrando apenas no pé direito – literalmente começando o ano com o “pé certo”. A piraporense diz que juntou várias simpatias em uma e que tem dado certo, mas que também tem evitado algumas situações para não colocar tudo a perder. “Não passo mais (a virada do ano) em locais que tenha mato (fazendas, roça), pois não tem me dado sorte”.
A índia Inês Correia Franca, de 85 anos, nasceu e cresceu na Aldeia Barreiro Preto, nas terras do Povo Xakriabá, em São João das Missões. Ela simplesmente acorda no dia 31 com a roupa que vai vestir na virada do ano. No fundo, ela acredita que é preciso mudar as atitudes, não a roupa. Na oração para a chegada do novo ano, pede paz para quem é e para quem não é Xakriabá.
A índia Inês faz questão de dizer que é o momento em que sente alegria pela família que criou e medo das pessoas. “Antigamente tinha medo de cobra e hoje tem gente que é cobra”, alerta.
Seguindo a tradição familiar de mais de 40 anos, a estudante de direito Vanessa Rodrigues, de 22, realiza uma simpatia bem tradicional, utilizando romã. Segundo os ensinamentos da avó, a simpatia pode ser feita do Réveillon até 6 de janeiro, quando se comemora o Dia dos Santos Reis.
Para ter prosperidade na vida financeira, basta ingerir sete caroços da fruta. Outras sete sementes devem ser jogadas por trás do ombro e sete ficam enroladas em um papel dentro da carteira, durante todo o ano – caso queira, pode-se acrescentar uma moeda de R$ 1. A simpatia é realizada ano a ano por cerca de dez pessoas da família.
De acordo com Vanessa, a superstição vem passando de geração em geração, desde a bisavó. “Mesmo sem ter convicção, todos seguem fazendo. No fundo, todo mundo acredita, nem que seja um pouquinho, senão já teriam parado. Se perguntar a cada um deles, vão dizer que vem dando certo, pois nunca deixaram de ter prosperidade”, comenta a estudante.