Sem deixar a peteca cair

Profissional conta sobre os desafios de se enfrentar uma pandemia e como o esporte e a fé o ajudam a seguir em frente e forte

Adriana Queiroz
Repórter
24/07/2021 às 08:06.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:30
 (LEO QUEIROZ)

(LEO QUEIROZ)

A pandemia impôs ao biomédico Douglas Rodney e a muitos profissionais da saúde uma realidade diferente de trabalho, com mais intensidade e desafios ainda maiores. A Covid-19, ainda pouco conhecida, deu à rotina profissional uma nova dinâmica de trabalho, não só para os biomédicos, como para toda a equipe (recepcionistas e técnicos), que se viram sobrecarregados pelo grande aumento da demanda laboratorial.

Para Douglas, isso tornou o serviço mais desafiador, pois tiveram que aumentar a quantidade de exames realizados sem perder a qualidade e a agilidade que são essenciais para auxílio no diagnóstico, monitoramento e evolução dos pacientes.

“Esse momento também nos limitou como cidadãos, pois os decretos em função da pandemia feriram o nosso direito de ir e vir e não temos a mesma liberdade de lazer, de cultos e viagens como antes. Foi necessário realinhar algumas atividades, adquirir novos hábitos (leitura) e fortalecer ainda mais a nossa conexão com Deus, pois tivemos uma mudança radical nos nossos costumes”, afirma.

Formado pelo Centro Universitário Funorte, especialista em biodiagnóstico com ênfase em análises clínicas e pós-graduado em vigilância em saúde pública. É com ele nosso bate-papo deste sábado.

Como é ser biomédico nessa pandemia? 
A pandemia me trouxe muitos ensinamentos, de modo muito interessante, através de perguntas, tais como: aonde está a minha fé? Em pessoas, objetos? Ou em um Deus forte e poderoso? (Efésios 6:10). Em quem eu tenho confiado/crido? Nos deuses ou no DEUS (provérbios 3:5). Já demonstrou o quanto você ama seu próximo? Especialmente aqueles que você ama. Aprendi que não é sobre o que o outro pode ser para mim, é sobre o que eu posso ser para o outro. Não é sobre o quanto eu tenho que receber de amor, e sim o quanto eu posso dar de amor. Não é somente intensificar o quanto você ama a Deus e sim entender o quanto Ele o ama. Percebi que não temos tempo para ter um pouco de fé: temos fé ou não temos fé. É momento de se autoconhecer, é momento de conhecer e se relacionar mais com aquele que o criou, é momento de perdoar e deixar mais de olhar para as nossas vaidades para olhar as do outro. Aprendi em Isaias 41:10 a não temer, pois Deus é conosco.

Alguma história nesse período mexeu com você, o fez parar e refletir um pouco sobre a carreira e a vida pessoal?
Dentre várias histórias tristes que presenciei, tiveram dois casos especiais que mexeram muito comigo. O primeiro, perdi minha tia Ângela, muito querida, muito especial. Era uma referência dentro da nossa família, com seu jeito bem alegre, espontâneo e bastante intensa nos nossos encontros. O segundo, foi nosso colega de faculdade Rodrigo, rapaz de presença leve, muito jovem, bem relacionado com os amigos, pessoa que sempre acrescentava algo de bom em nossas vidas quando nos víamos. Os dois casos me fizeram refletir muito sobre a vida. Eram duas pessoas muito amadas por todos ao seu redor. No entanto, os médicos, enfermeiros, biomédicos e amigos ficaram impotentes diante da situação. Não tinha o que se fazer, somente orar (não que seja pouco ou foi em vão). É aí que percebemos o quanto insignificantes somos e o quanto a vida é passageira. Morreram precisando de algo tão gratuito: O AR. 

Qual o maior desafio para os profissionais de saúde nessa pandemia?
Nesse período de pandemia percebi que nós, biomédicos, passamos uma vida inteira dedicada a entender sobre o sangue, alterações de exames em função da doença, interferências de medicamentos em exames laboratoriais e uma infinidade de ciências laboratoriais. Os médicos treinados em avaliar os pacientes, definir condutas, apontar um diagnóstico, prescrever tratamento. Enfermeiros supervisionando setores e a assistência da enfermagem, além das práticas privativas a eles. Os técnicos e auxiliares medicando os pacientes, realizando cuidados básicos. Entretanto, além de submeter-se a rotina intensa de serviços, carga horária dobrada, os profissionais da saúde foram pegos de surpresa no campo da mente, na gestão das emoções, no relacionamento interpessoal e, muitos, surpreendidos no que acreditavam. Fomos pegos sem os frutos do Espírito Santo. Os hospitais estão cheios de “super-heróis” que se fazem forte frente à dor, para tornar o outro mais forte, para não deixar cair a moral da equipe, mas que internamente estão sofrendo um grande tormento: a dor do próximo. A incerteza do amanhã. Agora, temos que silenciar no momento que querem gritar, ir trabalhar no momento em que querem um pouco mais de descanso, e deixar de atender as próprias necessidades fisiológicas para dar conta de procedimentos e rotinas tão importantes e oferecer o melhor e mais humano tratamento/conduta ao paciente. É ser luz e esperança aos familiares e ainda chegar em casa e cumprir papel de pais, mães, esposa (o), filha (o), dentre outros. Esse é o nosso desafio.

O que você faz para aliviar o estresse e exercitar o corpo?
Jogo peteca. Me proporciona um bem-estar físico e mental imensurável, é o momento que me distraio da rotina de trabalho, onde me conecto com pessoas, natureza e me renovo. Sempre me organizo de modo que consigo praticar esportes em torno de três vezes por semana. Trabalho numa escala 12/36 e, parte dessa folga, uso para esta finalidade. 

Você participar de competições? Recentemente faturou vários campeonatos, não é?
Sim, jogando em três categorias no open de peteca na cidade de Claudio, fui campeão da categoria adulto Livre, campeão da categoria 35+, vice-campeão da categoria profissional, além do campeonato de peteca no Max Mim Clube no início deste mês e campeão da categoria platina (principal). Nesse período de pandemia houve uma redução muito significativa nos eventos da peteca. Costumávamos ter uma média de 40 torneios oficiais. Os torneios possuem características peculiares, onde cada organizador define o que será concedido ao atleta em premiação e apoio (hospedagem, alimentação, deslocamento). Em geral temos os seguintes órgãos e seus eventos: Confederação Brasileira de Peteca (CBP), Liga Brasileira de Peteca, Campeonato Brasileiro, Federação Mineira de Peteca (Fempe), Campeonato Mineiro de Peteca, entre outros. Durante esses anos de peteca, já conquistei inúmeros títulos. Dentre os mais relevantes podemos citar: 2 vezes campeão da Liga Brasileira, quatro vezes 3º colocado no Campeonato Mineiro, duas vezes Bola Cheia, campeão do Circuito Norte, duas vezes campeão do Desafio MaxMim x Praia Clube, 15 vezes campeão de torneios no Maxmim, oito vezes campeão de peteca de areia e mais de 30 títulos regionais.

Quais os próximos desafios?
O desafio é sempre manter um bom nível de treino para que haja constante evolução técnica. Mesmo em face à pandemia, procuro me adaptar e realizar treinos em casa, clubes, academia. Respeitando o decreto e os limites do corpo, haja visto que o trabalho tem tomado muita energia. Teremos a previsão, para esse segundo semestre, do Campeonato Mineiro de Peteca, campeonato brasileiro, o Open de Peteca em Salinas, o Super 18 Xtreme, Liga Triangulina, dentre outros. Todos esses eventos com altíssimo nível de organização e atletas. Outro desafio grande é ter apoiadores. Temos eventos com custos elevados e isso dificulta a participação. Mas, recentemente, fechei apoio com alguns que não podem deixar de serem citados: Sacolão Dois Irmãos, Robson (Cardoso Tur), Laboratório Premier, Academia Black Gym, D. Ferrera Uniformes, Joyce personal trainer, Clínica de Fisioterapia Equilibrar. Nessa trajetória toda no esporte, nunca houve facilidades. Sempre tive que encarar os desafios com muita personalidade. Nessas vitórias tenho que incluir vários parceiros, como a AABB, que é o clube que me dá suporte nos treinos, o espaço Mota, que empresta a quadra para eu treinar também, Laboratório do Hospital das Clínicas, através da coordenadora Gracielle Andrade, que sempre ajusta minha escala para eu competir. Além de muitos amigos que batalharam junto comigo e foram professores no esporte (Carlinhos, Fred, Riza, Izaac, Renato, Coroinha, Felipe, Iann, Flavio, Bruno, Lucas, Juninho). Nos eventos bem recentes, contei com um parceiro, Petrony Santiago, atleta da peteca, ex-jogador de futebol, que é muito comprometido com os torneios e treina bastante para as competições. Embora ele seja natural de Salinas, mantém seu preparo físico em dia com a participação em jogos na região, bem como na administração do projeto na S4trainig (escola de futebol). Finalizo citando um versículo bíblico: Romanos 12-2

"Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transforme-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”.
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