Reduto pré-histórico

Serra do Sabonetal guarda cavernas de grande riqueza arqueológica, com pinturas rupestres e “ indústria” de armas dos nossos ancestrais, além da natureza exuberante

Manoel Freitas
O Norte - Montes Claros
11/10/2018 às 04:55.
Atualizado em 10/11/2021 às 02:55
 (MANOEL FREITAS)

(MANOEL FREITAS)

Sítios arqueológicos de grande valor científico e histórico, formações rochosas que constituem um sítio cárstico de extrema importância para a região e um complexo de lagoas marginais que atrai bandos de aves migratórias nas diversas estações do ano. Esse é o retrato da Área de Proteção Ambiental (APA) do Sabonetal, patrimônio natural riquíssimo que fica em Itacarambi, abrangendo ainda os municípios de Jaíba e Pedras de Maria da Cruz.

Localizada no extremo Norte de Minas, a área foi criada em 1998, com 82.500 hectares, como uma das medidas de compensação ambiental tomadas pelo Estado para implantação do Projeto Jaíba, maior plano de irrigação da América Latina, através das águas do rio São Francisco.

Composta basicamente por mata seca, a unidade de conservação está inserida no bioma da caatinga. A área cárstica é valiosa e funciona como base de recarga do lençol freático.

As pinturas rupestres, encontradas nos abrigos rochosos e cavernas da Serra do Sabonetal, são de grande valor científico e artístico, pois revelam nos paredões traços culturais de povos já extintos.

De beleza cênica expressiva e riqueza gráfica, os sítios arqueológicos são recobertos por vegetação de mata seca calcária, sendo que na Lapa da Pintura – retratada pelo jornal O NORTE no mês passado –, sub-bosques resguardam esses ambientes das intempéries, “seja relacionada a chuvas, altas temperaturas e umidade”, observa o monitor ambiental Raimundo Nonato Borges, explicando que essa vegetação “tem grande relevância, porque dá essa proteção maior, mantendo as pinturas por milhares de anos”.

VANDALISMO
Nos painéis de pinturas rupestres, distribuídos ao longo de uma área aproximada de 500 metros, em alguns pontos do abrigo, ocorrem cavidades rasas, mas outras chegam a atingir 15 metros de desenvolvimento horizontal, apresentando uma grande concentração de arte pré-histórica com formas e cores fortes.

Contudo, os registros evidenciaram pichações que o ambientalista e integrante da expedição prefere chamar de “pinturas burestres”. Segundo Raimundo Nonato, essa ação de pichadores só será contida “com um trabalho de educação patrimonial continuada, de modo a preparar as novas gerações para que possam contribuir na preservação desses sítios arqueológicos. “Muitas vezes, eles não têm a ciência de que estão destruindo um patrimônio natural, sua própria história, história da humanidade”, afirma.


São Francisco abastece a região
A mata de carste, que emoldura as lapas Saluzinho, Isaías, Cipriano, Forjão, Camboja, Isael, Dirín, Seu Antônio, Marçal I e II, ocupa área de 9.723,87 hectares da unidade de conservação. De acordo com José Luiz Vieira, gestor da APA, característica comum de todas essas cavidades é a chamada “indústria lítica, que tem a ver com a construção de ferramentas que eram utilizadas para caça, como facas, machados, que serviam para cortar os animais abatidos”.

“Nesses ambientes percebe-se uma concentração muito grande de sílex, um tipo de material mais duro se comparado ao calcário e utilizado para transformar as rochas em armas pelos nossos ancestrais”, conta Vieira.

O administrador do Instituto Estadual de Florestas (IEF) lembra que as matas ciliares ocupam 7.477,72 hectares, quase todas ao longo da zona de influência do rio São Francisco, o que diferencia a APA de outras unidades de conservação, por desempenharem um papel importante no ambiente, funcionando como filtros.
 
ABRIGO E ALIMENTO
Além disso, Vieira observa que servem de abrigo e fonte de alimento para a fauna silvestre e aquática e que as chamadas planícies de inundação, decorrentes de cheias sazonais dos rios, “são habitat de alimentação, reprodução e refúgio para os peixes”.

“No caso da Sabonetal, mormente o bagre, surubim, tuvira, cangati, mandi-amarelo, cascudos, tambuatá, traíra, lambari-do-rabo-amarelo, peixe-cigarra, matrinxã, dourado e piau”, enumera.

Durante uma jornada de três dias, com apoio do IEF, documentamos a riqueza da avifauna da APA Sabonetal. A primeira espécie rara foi o alegrinho-balança-rabo (Stigmatura budytoides), sexto registro em Minas; seguido do gavião-pernilongo (Geranospiza caerulescens).

Mas o que chamou atenção dos observadores de aves foram os bandos de espécies migratórias, como o colhereiro (Platalea ajaja), que lembra os flamingos.

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