(LUCAS PRATES)
Foi-se o tempo em que cozinhar bem era sinônimo apenas de agradar o paladar. Na era das redes sociais em profusão – em que, para muita gente, registrar os momentos é tão ou mais importante que vivenciá-los –, criar e apresentar receitas bonitas, que abrem o apetite assim que chegam à mesa ou ao feed é mais que fundamental. Obrigatório!
Não à toa, derivada da rede que mais cresce no mundo – o Instagram –, surgiu a expressão “instagramável”. Na “tradução”: o que, ao ser compartilhado, fará sucesso, sobretudo em função do apelo estético. Proprietário e chef do D’Agostim di Paratella, Paratella Matheus sabe disso. Adaptou, inclusive, o jeito de trabalhar.
“É extremamente importante que o chef esteja atento ao visual, à combinação de cores. Somado à sensação olfativa ao receber o prato, gera estímulos no cérebro e desperta o desejo de comer”, justifica o cozinheiro do restaurante italiano, localizado no bairro Santo Agostinho, Zona Sul de Belo Horizonte.
“Não podemos esquecer que o momento mais esperado pelo cliente é quando o garçom levanta a cloche”, acrescenta o chef, que aposta no contraste de cores para fazer sucesso na vida real e, claro, na virtual também.
PARA GANHAR CURTIDAS
Outro que até elegeu as criações prediletas para ganhar a internet foi Vitor Pacheco, chef do La Vinicola, em Lourdes, também na Zona Sul de BH.
Para ele, a dupla Cannoli Toscani e Gorgonzola & Filet Bread (panhoca recheada com filé mignon ao gorgonzola) são apostas certeiras para quem quer angariar curtidas.
“A massa crocante fica com uma cor muito bonita, um bege/dourado vivo, que somado ao verde brilhante da couve e ao vermelho da pimenta biquinho torna o prato super fotogênico, tanto para lentes de um profissional quanto para o celular de um amador”, ressalta, descrevendo a interpretação da sobremesa italiana.
No Gomez Restaurante, no mesmo bairro, até pratos simples, como a lasanha de berinjela, viram estrelas pelas lentes de quem curte postar o que está comendo.
Segundo o consultor do estabelecimento, Rudolf Tschoepe, 80% dos clientes costumam comer os pratos mornos. “Ficam entretidos com o visual ao recebê-los”, justifica, reforçando que o primeiro contato é essencial.
SAIBA MAIS
Fotógrafa em BH especialista em cliques de gastronomia, Débora Gabrich virou expert no assunto há pouco mais de quatro anos, quando aposentou as lentes para imagens de eventos e ensaios de pessoas para capturar, com exclusividade, tudo o que é feito e sai da cozinha.
Em fevereiro, ela abrirá vagas para a quarta turma do workshop que ministra sobre o assunto. Mais informações no instagram.com/deboragabrich.
CONFIRA 5 DICAS DA PROFISSIONAL:
1 – Observe a mensagem que o alimento quer passar. “Num restaurante, como é sentar à mesa, as sensações que o local proporciona, o sentimento ao experimentar a comida. É preciso enxergar cada ingrediente”.
2 – Comida precisa ter cara e cor de comida.
“O Instagram nos dá uma liberdade criativa grande, a possibilidade de brincar com cores, filtros. Mas é preciso lembrar que, quando o assunto é comida, tudo precisa ter característica real, natural, senão afasta as pessoas”.
3 – Aposte na luz certa e fuja do excesso de filtros.
“Procure ficar perto de uma janela para usar a luz natural. O flash do celular deixa a foto muito chapada, tira a textura e muda as cores. Se for o caso, use a luz de outra pessoa. Tente não abusar dos filtros”.
4 – Escolha ângulos que chamam mais atenção.
“O top view (vista de cima) e o 3/4, que é como enxergamos a comida quanto estamos sentados à mesa, são bem interessantes”.
5 – Não confunda produção com excesso de informação.
“A produção é boa para contar uma história. Mas é importante tomar cuidado para não colocar um monte de coisas sem sentido, apenas para preencher buraco”.