Passa a tesoura

Sem preocupação com o desejo masculino pelo cabelão, mulheres mandam ver nos curtinhos

Flávia Ivo
22/03/2019 às 07:57.
Atualizado em 05/09/2021 às 17:55

Tempos atrás era preciso certa dose de coragem para “tosar” longas madeixas, símbolo de feminilidade, e assumir o cabelo curto –permissão social dada só às mais velhas. Hoje, a cena é outra, mas ainda assim o corte “radical” é considerado quase exclusividade das mais ousadas ou fashionistas. No entanto, a adesão de artistas, influenciadoras e da recém-eleita Miss Brasil 2019, a mineira Júlia Horta, tem mudado a demanda nos salões.

“O estereótipo da mulher sensual de cabelos longos ainda prevalece no imaginário masculino. As mulheres têm se preocupado menos em corresponder aos desejos dos homens quanto à aparência. E isso é, com certeza, fruto dos movimentos feministas, de libertação”, reflete a psicóloga Karina Mendicino, criadora do projeto Ser Inteira, na capital.

Apesar da mudança de comportamento delas, a especialista afirma ainda estarmos “engatinhando”.

“O que chamamos ‘feminilidade’ não passa de uma construção historicamente masculina. Foram homens do saber médico e filosófico que definiram, ao longo da história, o que é ser mulher. Estamos apenas começando a descobrir isso e a protestar o direito de nos definir por nós mesmas”, explica.
 
SURPRESA
Reflexo desse movimento libertador pelo qual passam as mulheres é percebido pelo cabeleireiro Célio Faria, proprietário de instituto de beleza homônimo no bairro de Lourdes, região Centro-Sul de BH. Cortando cabelos há mais de 30 anos, ele está surpreso com o boom de pedidos por curtos nos últimos seis meses.

“Foi um processo demorado de desapego do cabelo longo. Entre os motivos estão o calor intenso, a falta de tempo para cuidar – já que as mulheres passam muitas horas trabalhando e levam trabalho para casa –, uma transição de fase de vida, o rompimento de um relacionamento ou mesmo um novo”, destaca.

Quem também comemora a onda ascendente de movimento em função dos curtos é a hair stylist Rosângela Rocha, da Maison Rocha.

“Houve uma mudança grande nos últimos tempos. Recebemos muitos pedidos de cortes curtinhos, sendo um dos campeões o bob hair da Bruna Marquezine”, revela.
 
APROVAÇÃO
Investir em um corte curto é, em primeiro lugar, uma escolha estética e a mulher precisa entender que há, sim, uma imagem transmitida ao fazer essa opção. “A mulher que opta pelo curtinho passa a imagem de decidida, moderna e de personalidade. Mas ainda é uma escolha difícil para a maioria de nós”, coloca a psicóloga Karina Mendicino.

Ela observa: “Estão dizendo aos homens: ‘não estamos interessadas em agradá-los, queremos ser o que quisermos!’”.

De acordo com Célio Faria, não existe mesmo essa coisa de que “meu marido/namorado não gosta ou não deixa”. “A mulher quer se destacar no universo feminino, impor personalidade forte, um poder”.

Já Rosângela Rocha vem percebendo que muitos companheiros pedem às mulheres para que cortem os cabelos.

“Parece que o fetiche em relação ao cabelo longo vem mudando. Algumas contam que os maridos têm pedido curtos pois querem esposas modernas”.

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