(FOTOS DIVULGAÇÃO)
Um bom cozinheiro é aquele que está sempre em formação. Thaís Quadros é um exemplo disso. É daquelas que vai a campo para pesquisa e exercita a criatividade através da interseccionalidade de cultura, alimento e modo de preparo. Graduanda do curso de Gastronomia da Funorte, com especialização em slow food, cozinha vegana e vegetariana, atua com foco no atendimento de personal chef e buffets.
“Um atendimento mais personalizado, onde posso explorar minha criatividade por meio do paladar e preferências do meu cliente, criando cardápios exclusivos tanto para o cotidiano como em momentos especiais”, conta. A chef foi uma das atrações da oficina on-line durante a Expomontes, que neste ano foi totalmente virtual.
Para ela, foi uma grande oportunidade de transmitir para a comunidade montes-clarense uma nova perspectiva de um prato tradicionalmente feito por aqui: arroz com pequi “sustentável”, ou seja, todas as partes dos ingredientes foram utilizadas, desde as cascas até as aparas dos legumes, para que não houvesse desperdício.
Outro grande diferencial foi a substituição da tradicional carne de sol por cogumelo funghi, trazendo uma opção vegetariana e mais leve do prato que é a marca da região. Por se tratar da abertura da maior feira de exposição dos produtores do Norte de Minas, essa receita foi proposta com intuito de dar destaque a um movimento gastronômico que valoriza o alimento e o produtor local, que é o slow food.
SLOW FOOD
“O slow food traz uma visão holística acerca do alimento que é consumido, dando atenção a três quesitos que transformam e empoderam nossa maneira de comer. O alimento no slow food deve ser bom, limpo e justo. Ou seja: bom, por apresentar grande qualidade gustativa, boa aparência e também riqueza de nutrientes, já que é produzido de maneira artesanal. Limpo, pois se sabe a rede que envolveu sua produção, ou seja, valoriza-se a agricultura familiar e a maneira de produzir orgânica e com respeito à terra e suas estações. Produz-se uma pluralidade de alimentos conforme a sazonalidade dos mesmos, assim, os alimentos fornecidos são favorecidos pelo clima e atingem seu máximo potencial de sabor e nutrição, sem interferir na produção natural da terra. Justo, porque a remuneração é feita de forma adequada para aquele que produz, nem a mais e nem a menos, valorizando os esforços desempenhados de maneira monetariamente justa”, explica a chef.
Para Thaís, todo esse conjunto proposto reforça a importância de feiras, como a Expomontes, para valorização do produtor local e para a perpetuação da cultura local. “Afinal, comer é um ato de nutrição tanto físico quanto afetivo, que promove a formação cultural do meio social, através da transmissão da tradição local pelos alimentos e pelo modo de preparo dos mesmos”, diz.
DESAFIOS DA GASTRONOMIA
“Acredito que os desafios envolvem a desvalorização dos profissionais da área e a banalização dos alimentos. Quero dizer que, na nossa região, a profissão do cozinheiro não recebe a valorização financeira adequada para a categoria. Afinal, o cozinheiro é aquele que transforma um simples alimento em uma comida, carregada de valores tangíveis como sabor, temperatura, apresentação adequada; e também valores intangíveis, como o ato de servir, de zelar, de proporcionar formação de memórias e conforto afetivo. É uma profissão que envolve muita dedicação e paixão. É uma profissão de detalhes: desde o modo de preparo, confecção de lista de compras, pesquisa e aquisição dos melhores ingredientes e, por fim, preparo e serviço da comida. Quando isso se atrela a uma remuneração adequada, proporciona-se condições salutares de realização e valorização daquele profissional que se empenhará cada vez mais em trazer o melhor, gerando assim valor para todos os envolvidos nos processos. E, culturalmente, temos o desafio a banalização do alimento, ou seja, o foco da alimentação está apenas em sustentar energeticamente o físico e o prazer sensorial, ou mesmo o tal do “fast food”. Pouco se preza pela qualidade daquilo que se coloca para dentro. Dá-se preferência para alimentos processados e industrializados, com condimentação artificial e produtos para conservação. Assim, perdemos o contato com aquilo que é natural, com um alimento vivo e fresco, com uma preparação que valorizasse a potência do mesmo”.
PRAZER DA GASTRONOMIA
“A melhor parte está em se trabalhar com verdadeiro amor e com o ato de servir o outro. Ao cozinhar, podemos transmitir nossa identidade e criatividade a fim de proporcionar prazer para aqueles que degustarão o prato. É uma satisfação indescritível observar uma pessoa se deliciando com nossos pratos, percebendo o quanto nossas mãos podem produzir para saciar a fome tanto física quanto afetiva. Insisto em dizer que, para ser bom cozinheiro, deve-se ser um bom cuidador e apreciar o ato de zelar por outrem. É, literalmente, um trabalho visceral, que envolve lágrimas, sangue e suor para dar o máximo para a confecção de uma comida que aqueça corações. É pura paixão!”
PRATOS PARA O FRIO
Acho que o inverno traz ânimo a qualquer cozinheiro. Como o frio leva o nosso corpo a consumir mais energia para produzir calor e nos aquecer, sentimos mais fome. E tem coisa melhor que juntar a fome com a vontade de comer? Para esse inverno estou desenvolvendo um cardápio que valoriza os alimentos da época, focado em carboidratos e também condimentos termogênicos, ou seja, que proporcionem aquecimento corporal, como pimentas. Esses alimentos poderão ser adquiridos e consumidos no conforto do lar dos meus clientes, favorecendo o isolamento social com uma alimentação diferenciada”.
PROJETO SOCIAL
“Desenvolvo junto com amigos o Comvida, que atende pessoas em situação momentânea de rua, realizando entrega de quentinhas (uma vez por semana) e atendimento multidisciplinar (banho, troca de roupa, corte de cabelo, atendimento médico, psicológico). Estamos arrecadando fundos para manter nosso estoque de alimentos e não deixar faltar nada, principalmente nessa época mais fria do ano”.
(Para saber mais, Instagram @projetocomvida.moc)
RECEITA
CHILLI DE CARNE
(opção vegetariana e tradicional)
A receita de hoje é de origem mexicana, mas que encontra seu espaço nos ingredientes que utilizamos tradicionalmente. É também uma receita para nos aquecer!
Ingredientes molho de tomate:
– 4 tomates
– 5 dentes de alho sem casca
– 1 cebola cortada ao meio sem casca
– Salsinha a gosto
– Sal a gosto
– Pimenta do reino a gosto
– Azeite de oliva a gosto
Modo de preparo:
1 - Picar o alho, a cebola, a salsinha e o tomate em pedaços pequenos
2 - Refogar com azeite a cebola até ficar transparente, depois adicionar o alho e o tomate
3 - Temperar sal e pimenta. Reservar na geladeira.
Ingredientes chilli:
– 250g de feijão vermelho ou carioca
– 5 folhas de louro
– 1 cebola picada em pedaços grandes
– 3 dentes de alho picados
– 1/2 pimentão verde picado em pedaços grandes
– 4 colheres (sopa) de óleo ou azeite de oliva
– 2 colheres (sopa) de extrato de tomate
– 150g de proteína de soja granulada desidratada OU 250g de patinho moído
– Molho de tomate (receita acima)
– 1 colher (sobremesa) de pimenta chilli em pó
– 1 colher (sobremesa) de pimenta dedo de moça finamente picada
– 4 colheres de sopa de shoyo
– ½ xícara de vinagre
– Coentro e salsinha a gosto
– Sal a gosto
– Pimenta do reino a gosto
Modo de preparo:
1 - Deixe o feijão e a soja de molho durante a noite na geladeira (em travessas separadas).
2 - Escorra o feijão e coloque para cozinhar na panela de pressão (não se esqueça de colocar mais água, até cobrir o feijão) com 3 folhas de louro; assim que pegar pressão deixe cozinhar por 20 minutos. Escorra a água da soja e ferva-a em água e vinagre, depois esprema a soja e reserve.
3 - Em uma panela grande e/ou funda, aqueça bem o óleo ou azeite e doure a cebola. Adicione o tomate, o pimentão verde e deixe fritar bem, até começar a grudar no fundo.
4 - Coloque a soja na panela (ou o patinho moído) e tempere com shoyo, pimenta do reino e chilli. Refogue bem.
5 - Abaixe o fogo, adicione o extrato de tomate e misture, deixe fritar bem, até que o fundo comece a ficar dourado.
6 - Coloque 1 concha do caldo do feijão para soltar o fundo dourado da panela. Essa técnica se chama pinçage, confere sabor diferenciado à preparação além de soltar cor à prepação.
6 - Adicione o molho de tomate até cobrir a soja e as duas folhas de louro restantes.
7 - Adicione o feijão e a pimenta dedo de moça, mexa bem. Verifique o tempero e, se necessário, adicione mais caldo. Deixe ferver por 10 minutos.
8 - Retire as folhas de louro e finalize com a salsinha e/ou coentro.
9 - Sirva com milho cozido e arroz branco. É também um recheio para wraps.
Rendimento: 8 porções
Para acompanhar a chef, basta acessar:
Instagram @thaquadros e telefone para contato: (38) 99110-0898