Palco da fé renovado

Igreja de Nossa Senhora do Rosário, no Brejo do Amparo, em Januário, é entregue à comunidade e reaberta à visitação após dois anos de obras de restauração

Manoel Freitas
14/06/2019 às 08:49.
Atualizado em 05/09/2021 às 19:06
 (MANOEL FREITAS)

(MANOEL FREITAS)

Dois anos após o início das obras, foi concluída a restauração e está aberta à visitação a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, no Brejo do Amparo, em Januária.

Tombado em 1989 pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha), o templo foi construído em 1688 pelos bandeirantes e é um dos mais antigos do Brasil e o segundo mais velho de Minas Gerais.

O restauro foi anunciado em junho de 2016, quatro meses após o abalo da estrutura da igreja, que provocou o desabamento do teto central, corroído pelo tempo. Posteriormente, recebeu acréscimos, como a tribuna lateral e as torres, que datam do século 19.

A edificação possui, segundo o Iepha, características construtivas da arquitetura baiana, com soluções paulistas, com elementos internos apresentando características ornamentais do estilo nacional-português, da primeira fase do barroco em Minas, com pinturas em estilo rococó.

Ao custo de R$ 1.287.022,81, a revitalização da igreja foi promovida pelo governo de Minas. A intervenção incluiu a restauração arquitetônica, das instalações complementares e dos elementos artísticos da igreja, localizada na comunidade de Barro Alto, distante 8 quilômetros da cidade.

A pintura que mais chama atenção – pelo tamanho e importância – ornamenta a abóboda: imagem de Nossa Senhora do Rosário, sobre altar-mor em colunas torcidas. E tudo faz arte e religiosidade caminharem juntas.

No piso com placas de madeiras, que segundo o Iepha são túmulos onde eram enterradas pessoas da sociedade da época, inscrições cravejadas de taxas. Na lateral da igreja, com as mesmas características arquitetônicas, ainda existe um cemitério ativo, onde são sepultados moradores do Brejo do Amparo.

Contudo, a restauração desse riquíssimo patrimônio religioso e cultural de Januária, no Vale do Peruaçu, Extremo Norte de Minas, só foi possível graças à devoção e generosidade de Santa Fernandes da Silva, a dona Santa. Ela doou ao santo, literalmente, parte de dois hectares que recebeu como herança, condição sem a qual o governo do Estado não teria como iniciar a reconstrução. Isso porque a igreja fica no meio do terreno de propriedade de Santa.

Em frente a outra igreja com vários séculos de história, a de Nossa Senhora do Amparo, a cinco minutos da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, onde reside há quatro décadas com o marido Aparício Vieira, dona Santa abriu as portas e o coração para contar detalhes de sua vida, entrelaçada com a Igreja Católica desde a infância.

Patrocinadora do santo
Com 74 anos, segundo ela, bem vividos, dona Santa, enquanto fazia o café, contou que recebeu as terras do pai, Benedito Fernandes. “E olha que São Benedito é o padroeiro da Igreja de Nossa Senhora do Rosário”, afirma.

Ao som do café filtrado pelo coador, fez questão de frisar não ser devota apenas de São Benedito. “Todos os santos, as santas e os anjos são protetores, são todos iguais, porque você sabe que tem Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora de Fátima, muitas. Mas, na verdade, Nossa Senhora é uma sozinha, a mãe de todos nós, a Maria”, explica.

Baseada na fé que carrega por toda a vida e nas visitas que recebeu de dom José Moreira da Silva, bispo diocesano de Januária, tomou a decisão de doar a área para a igreja.

O filho Milton também contribuiu para a decisão. “Ele me falou: mãe, doa esse terreno, porque sem o papel eles nada podem fazer porque a igreja está no meio dos dois hectares que era do meu bisavô”, rememora, argumentando que não faltou gente para incentivá-la a vender o terreno.

“Mas eu não poderia vender, porque desde menina conheci a igreja lá, onde está, palco de bingos e dos leilões de gados que a comunidade realizava para manter e reformar a igreja”, diz dona Santa.

“Atitude cristã, porque Januária começou aqui. Aqui começou a história da igreja em Minas Gerais, muito antes de Mariana e Ouro Preto”, afirma dom José Moreira da Silva, observando que o tombamento e, agora o restauro, “são instrumentos de proteção do patrimônio cultural de todos os mineiros, principalmente para a história e cultura das gerações futuras”.

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