Ganha-pão no semiárido

Produtores de umbu apostam no cultivo do fruto para aumentar a renda

Patrícia Santos Dumont
Hoje em Dia - Belo Horizonte
13/05/2018 às 07:12.
Atualizado em 03/11/2021 às 02:48

Fruto nativo da caatinga, presente em praticamente todo o semiárido mineiro, o umbu vem deixando o anonimato para receber status de ganha-pão no Estado. Graças à seleção de cultivares mais produtivas e, portanto, economicamente mais viáveis, produtores têm apostado na planta para aumentar a renda. A expectativa é de que o produto comece a ser disseminado por outras áreas do país. 

Pesquisador da Epamig em Nova Porteirinha, no Norte de Minas, o agrônomo Nívio Poubel Gonçalves explica que a profissionalização do cultivo está ligada ao trabalho realizado pelo órgão. As plantas selecionadas frutificam na metade do tempo e produzem frutos quase duas vezes mais pesados que os “naturais”. 

“Cada quintal na região do semiárido tem pelo menos um umbuzeiro. Mas, de três anos para cá, percebemos um aumento muito grande da procura por mudas selecionadas, que produzem num tempo menor e dão frutos de melhor qualidade”, detalha Gonçalves, mencionando a rentabilidade da produção.

A maior parte do que é produzido em Minas é destinado a o consumo in natura. Mas o fruto também vira geleias, doces e até sorvetes. 
 
VANTAJOSO
Para se ter uma ideia, enquanto um fruto que nasce espontaneamente na região pesa cerca de 35 gramas, os selecionados podem chegar a 50. Já os umbuzeiros frutificam até duas vezes mais rápido. Enquanto os nativos levam em torno de dez anos para produzir os primeiros frutos, os selecionados iniciam produção de quatro a cinco anos após o plantio.

O pesquisador explica que o melhoramento foi possível pela técnica de enxertia. “Coletamos, por três anos consecutivos, amostras de 20 umbus, sendo dez “de vez” e dez maduros, de umbuzeiros cujos frutos se distinguiam pelo tamanho maior em relação aos comuns”, detalha. 

Foram selecionadas, então, cerca de 30 plantas mais promissoras e, dentre elas, eleitas as 18 com frutos mais pesados e, portanto, com melhor rendimento para extração de polpa.

O jardim clonal com as mudas enxertadas fica no Campo Experimental do Gorutuba, em Nova Porteirinha. 

Atualmente, conforme o pesquisador, existem cerca de 4 mil mudas – em torno de 40 hectares – de umbuzeiros no Norte de Minas. A produção é destinada para as cidades vizinhas, além de São Paulo, Rio e Belo Horizonte. 

Produtor rural, morador de Verdelândia, a 40 quilômetros de Janaúba, Pedro Nogueira expandiu a área plantada e engordou a renda da família. Antes, o cultivo de umbu nativo era exclusivamente voltado para a alimentação de suínos. “Eram cerca de 11 plantas, que nasceram espontaneamente, mas a produção superou as expectativas e, atualmente, comercializamos em torno de 12 toneladas”, relata. 

SAIBA MAIS

Mais de 350 famílias de pequenos produtores rurais do Norte de Minas, que produzem frutos do cerrado, estão sendo apoiadas pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). 
 
Os produtores têm à disposição freezers, despolpadeira, mesas, liquidificadores industriais, dentre outros equipamentos destinados à estruturação de unidades de beneficiamento.
 
Além do umbu, outras espécies nativas da região são beneficiadas com a iniciativa, tais como pequi, baru, coquinho azedo, araticum, buriti, babaçu, maracujá, macaúba, tamarindo e cagaita.  
 
A ação, que integra estratégias de estruturação do arranjo produtivo de frutos do cerrado no Norte de Minas, tem como objetivo o desenvolvimento sustentável da região e o aumento das rendas das famílias. 

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