Do inverno frio da Síria para o sertão do Norte de Minas

Pesquisa da UFMG constata grande produtividade do grão-de-bico no semiárido

Christine Antonini
12/01/2019 às 08:06.
Atualizado em 05/09/2021 às 16:00
 (MANOEL FREITAS)

(MANOEL FREITAS)

O Instituto de Ciências Agrárias (ICA) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Montes Claros, está desenvolvendo uma pesquisa que possibilita a produção do grão-de-bico na região do Norte de Minas.

A leguminosa, que faz parte da “família” do feijão e da ervilha, é cultivada geralmente em lugares com clima frio e seco. Contudo, estudo do engenheiro agrônomo Cândido Alves da Costa constatou que a cultura da leguminosa vem alcançando bons resultados no semiárido.

Ele destaca que, nas áreas de testes, foi registrada produtividade média de 5 mil quilogramas por hectare, valor muito acima do padrão internacional, que gira em torno de 900 quilogramas por hectare. “Neste ano, pretendemos fazer um dia de campo para ampliar ainda mais a cultura na região e divulgarmos os resultados das nossas pesquisas”, diz Cândido Costa.

O grão-de-bico é originário do Oriente Médio (região da Síria), cujo inverno é frio e seco. Cândido Alves da Costa destaca que, apesar de a região norte-mineira ser semiárida e com inverno seco, o plantio se adaptou bem. Para isso, foi necessário estudar as temperaturas e solo de cada região.

“É uma cultura relativamente rústica, sem muitos problemas com doenças e pragas. Portanto, não usamos nenhuma tecnologia diferenciada. Apenas descobrimos o melhor período de plantio e testamos algumas variedades em Montes Claros, Janaúba e Januária. Percebemos que o melhor período de plantio é de maio a junho”, pontua o pesquisador.

Cândido Alves Costa ressalta ainda que financeiramente o grão-de-bico é rentável para o produtor, uma vez que a plantação e o manejo são mais baratos que os do feijão, por exemplo. Mas, em Montes Claros, o valor do grão nos supermercados é um pouco mais alto do que o feijão, uma vez que é mais comum encontrar o alimento em conserva – o pote com 300g custa em média R$ 9,30. O quilo, comercializado no pacote, sai em média por R$ 20.

Caso a cultura seja desenvolvida pelos produtores da região, o grão-de-bico chegará mais barato às prateleiras. A maior parte do produto vendido no Brasil é importada.

“Como é uma cultura nova no país, as relações entre produtor e comerciante ainda não são consolidadas. E aí entra a figura do “atravessador”, que compra muito barato e vende muito caro nas lojas. Mas acho que isso deverá mudar, pois os primeiros plantios comerciais no Brasil são de 2016 e 2017. Se o produtor conseguir se articular para vender direto aos pontos de comércio, será muito vantajoso”, assegura.

As pesquisas estão sendo feitas no Instituto de Ciências Agrárias da UFMG, em Montes Claros, envolvendo diversas áreas, como manejo da cultura, nutrição mineral da planta, produção de sementes, fitossanidade e irrigação. Cândido Costa ressalta que em 2016 a cultura foi apresentada a um grupo de produtores rurais que se mostraram interessados na produção.

Através dos testes, o estudo conseguiu a variedade da leguminosa, BRS Alepo (Embrapa-Hortaliças) _ ou seja, o grão foi cultivado com aptidão industrial para uso em conservas e consumo seco de ótima qualidade.

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