Com dinheiro se brinca, sim

Aprender de forma lúdica a poupar e a gastar ajuda a ter saúde financeira duradoura

Patrícia Santos Dumont
13/02/2019 às 07:24.
Atualizado em 05/09/2021 às 16:31

Ter uma vida financeira saudável, sem furos no orçamento e com gastos equilibrados, não deve ser preocupação apenas de gente grande. Para que os pequenos aprendam desde cedo a lidar bem com o dinheiro, pais de uma geração cada dia mais precoce se empenham em falar sobre finanças dentro de casa.

Gerente de tecnologia da informação, Luciano Meirelles Lobão, de 46 anos, começou, há cerca de dois, a abordar o assunto com o filho, Eduardo. Queria ensinar ao filho o valor do dinheiro. “É claro que o assunto deve ser tratado de forma lúdica, não tão severa nem técnica. Para mim, o mais importante é que ele aprenda que se não ganhar, não pode gastar”, afirma.

Aos 7 anos, o garoto já demonstra maturidade para gerenciar as próprias contas. Toda semana, recebe R$ 20, que, a próprio gosto, são guardados para compras –como os peixes do aquário marinho que mantém em casa.

Pequenas negociações, que ajudam a entender como a vida financeira funciona, também são incentivadas pelo pai. “Há um tempo atrás ele vendeu um videogame antigo para comprar um novo. Percebo que já tem noção, por exemplo, do que é caro e barato e, assim, compreende a melhor forma de gastar o próprio dinheiro e o nosso”, acrescenta o pai.

PRESENTE E FUTURO
Consultor do site de educação financeira do Mercantil do Brasil, Carlos Eduardo Costa explica que os ensinamentos devem começar assim que a criança passa a interagir com o mercado de consumo –antigamente, entre 7 e 8 anos; hoje, cada vez mais cedo.

Segundo ele, abordar o tema ajuda não só a criar consciência no presente, impactando nas finanças da família, como a preparar um futuro mais tranquilo e promissor.

“Ensinar a ganhar, gastar, poupar e doar garante que, independentemente do caminho que será percorrido, a criança bem educada financeiramente tenha uma caminhada mais tranquila”, reforça.

Filha caçula de uma especialista em educação financeira, Victória Reis é prova disso. Seguindo os passos da mãe, a menina de 13 anos tornou-se embaixadora mirim do assunto no Brasil. Há cerca de seis, perpetua os ensinamentos que recebeu (e ainda recebe) dentro de casa.

“Queria unir minhas duas paixões, a educação financeira e a música”, resume Vickye – como é conhecida –, que compõe canções com abordagem de educação financeira e dá palestras. Ela conta que, desde os 3 anos, quando foi apresentada ao tema, consegue, mais que estabelecer sonhos, realizá-los.

“Na minha casa, funciona da seguinte maneira: se almejo alguma coisa, se tenho um sonho, sou eu quem devo correr atrás para economizar e conquistá-lo. Às vezes, minha mãe ajuda com 40%, 50%, se é algo mais caro. E não tem problema nisso. A ideia dela é me dar um incentivo, me estimular a economizar”, ensina.
 
REPROGRAMAÇÃO
Mãe da menina, Lusciméia Reis, palestrante e educadora financeira, diz que cabe aos pais a responsabilidade de abordar o assunto com os filhos ainda pequenos. Para ela, trata-se de um exercício de reprogramação mental a partir de um modelo financeiro saudável.

“Levamos para a vida o que vemos e aprendemos ao longo dela”, afirma.

Ensinar o valor de dinheiro é o ponto de partida
Compatibilizar as ferramentas utilizadas à idade da criança é fundamental para proporcionar entendimento sobre gestão de finanças, dizem especialistas. De nada adianta, por exemplo, dar uma mesada a quem ainda não sabe quantificar o valor do dinheiro.

“Que tal começar com uma semanada, que pode ser usada na compra de figurinhas ou balas na porta da escola, por exemplo? O importante é ter em mente que tipo de uso será feito daquele dinheiro com base no que é permitido para cada faixa etária”, esclarece o consultor do site de educação financeira do Mercantil do Brasil, Carlos Eduardo Costa.

Um bom primeiro passo sugerido por ele são pequenas idas ao supermercado. Oriente a criança sobre as melhores escolhas, comparando preços, e reforce a importância de fazê-las com base em necessidades reais e não em urgências.

“Não é evitar de falar sobre o assunto, mas saber fazê-lo. A dificuldade da educação financeira está justamente no número de ‘nãos’ que falamos. Ninguém consegue ter sempre tudo o que gostaria”.
 
CULTURA
Na casa de Cloé, de 7 anos, é assim há bastante tempo. Mãe da menina, a dentista e funcionária pública Renata Flávia Tavares, de 42, conta que tudo é negociado e bem explicado. “Abordar o assunto desde cedo incentiva um consumo consciente e o bom planejamento. Procuro esclarecer o valor das coisas e reforçar que não precisamos de tudo o que existe”.

Recentemente, Cloé empregou as próprias economias para arrematar um móvel para o quarto. Depois de pesquisar, optou por um mais barato. Com a sobra, conseguiu levar outros produtos. “Aprendeu a não gastar tudo o que tem, mas a economizar para um desejo futuro”, diz Renata.

A gerente de projetos Tatiane Demétrio usa estratégia parecida com a filha Carolina, de 3. “É sempre lembrada de que já ganhou algo que desejou num passado recente e, assim, vai criando senso de que nem tudo é na hora que queremos”.

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