Vítimas do caos

Atleticanos (as) e cruzeirenses ficam reféns dos baderneiros, e diretorias dos clubes optam por retorno de “torcida única”

Henrique André / Thiago Prata
13/11/2019 às 09:19.
Atualizado em 05/09/2021 às 22:40
 (PEDRO SOUZA/ATLÉTICO // ANDRÉ ARAÚJO/CRUZEIRO)

(PEDRO SOUZA/ATLÉTICO // ANDRÉ ARAÚJO/CRUZEIRO)

A selvageria ocorrida no Mineirão, após o empate sem gols entre Cruzeiro e Atlético no último domingo, além dos vários feridos e detidos pela polícia, resultou numa decisão drástica, realizada em conjunto pelas diretorias de Raposa e Galo. A partir do próximo clássico, que acontecerá apenas no ano que vem, não haverá mais torcida visitante nos estádios.

Em conversa ao telefone, realizada na manhã de ontem, Sérgio Sette Câmara, presidente do alvinegro, e Zezé Perrella, gestor do futebol da Raposa, entraram em consenso e viram nesta opção a chance de diminuir os embates entre as torcidas, dentro e fora das arenas.

“Infelizmente, diante das cenas de barbárie e de toda violência no clássico de domingo, chegamos ao consenso de que, pelo menos nos próximos clássicos, seja assim. Para os dois clubes, isso minimiza a possibilidade de cenas lamentáveis como aquelas”, se posicionou o Atlético ao Hoje em Dia, por meio da assessoria.

“Aconteceram ocasiões dolorosas para todos que acompanham e torcem para o bem do futebol. Acho que o futebol nada mais é do que a gente lá dentro trabalhando e uma festa para o torcedor. É o maior clássico daqui, e confesso que fiquei bastante chateado por ver um clássico terminando daquele jeito, com injúrias raciais também”, disse Fabrício Bruno, zagueiro do Cruzeiro.
 
POSIÇÃO DA PM
Apesar de garantir ter competência e efetivo suficientes para fazer a segurança nos clássicos entre Atlético e Cruzeiro, em todas as configurações (torcida única, dividia ou 90%/10%), a Polícia Militar diz que não é quem decreta esse tipo de decisão.

“Ela tem que ser tomada em conjunto com a Federação Mineira de Futebol, Ministério Público, Polícia e demais órgãos do Estado. Essas pessoas estão atrapalhando o espetáculo, estão atrapalhando a família de entrar no estádio, atrapalhando de levar uma criança para ver uma coisa sadia”, disse o tenente-coronel Juliano Trant à Band.
 
INJÚRIA RACIAL
Na tarde desta terça-feira, os irmãos suspeitos de terem cometido injúria racial contra um segurança particular durante confusão nas cadeiras do Mineirão se apresentaram à Polícia Civil e prestaram depoimento.

Por meio de uma nota, repassada à imprensa pela advogada Aline Lopes Martins, a dupla pediu desculpas à vítima e a todos os ofendidos e rechaçou ser racista.

Sociólogo rechaça ‘torcida única’
Em entrevista ao Hoje em Dia, o sociólogo Mauricio Murad, que há anos estuda o comportamento das torcidas de futebol e é autor do livro “A Violência no Futebol: Novas Pesquisas, Novas Ideias, Novas Propostas”, acredita que os culpados dessa onda de violência no futebol estão em várias esferas da sociedade e ressalta que, geralmente, os principais episódios que mancham o esporte “ocorrem de forma mais aguda no fim de uma temporada”.

“É uma repetição de uma tendência. O problema da violência no futebol brasileiro, de agressão, morte, mutilação, preconceito, é antigo. Uma das grandes causadoras disso tudo é a impunidade, que estimula delitos. Temos uma legislação razoável, que poderia melhorar, claro. Mas o que falta é a aplicação da lei”, salienta Murad.

Murad não vê como solução uma hipotética decisão de os clássicos comportarem apenas uma torcida.

“Torcida única não adianta, mais de 90% dos conflitos acontecem fora do estádio, de acordo com novas pesquisas. Você ‘mata’ o gado e acaba com o carrapato. Com torcida tem é que prevenir esses casos, punir os infratores e preservar a maioria”, diz. (H.A/T.P)

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