‘Ser campeão Brasileiro aqui no Atlético é meu estímulo’

Confirmado para 2018, Oswaldo de Oliveira sonha em tirar Galo da fila do título nacional

Frederico Ribeiro / Henrique André
Hoje em Dia - Belo Horizonte
Publicado em 01/12/2017 às 22:29.Atualizado em 03/11/2021 às 00:00.
 (Bruno Cantini/Atlético)
(Bruno Cantini/Atlético)

Dos 42 anos dedicados ao futebol, Oswaldo de Oliveira passou mais da metade trabalhando fora do país. Campeão do mundo pelo Corinthians, em 2000, e com rápida passagem pelo Cruzeiro, em 2006, o treinador agora encara o desafio de acabar com o jejum do Atlético, que desde 1971 não sabe o que é ser campeão brasileiro.
Em entrevista exclusiva, o carioca, que completa 67 anos na próxima terça-feira, fala da experiência adquirida no Mundo Árabe e no Japão, comenta o desafio de salvar o ano do Galo, e projeta os próximos passos pelo clube alvinegro, com o qual tem contrato até 2018.
 
Sua história no futebol, até onde conseguimos pesquisar, começa no Bonsucesso, em 1975. Mas quais foram os primeiros passos no esporte? Chegou a ser jogador profissional?
Futebol eu jogo até hoje, e bem pra caramba (risos)! Mas, profissionalmente, não cheguei a jogar não. Eu tentei. Treinei no Vasco, depois no Fluminense e, por último, no Bangu. Era meia-direita.
 
Sua carreira como treinador começou, de fato, no Timão, já aos 49 anos. Como foi esse processo de deixar a função de auxiliar para decretar ser treinador?
Eu trabalhei no Al-Sharjah, dos Emirados Árabes, como preparador físico do Procópio Cardozo. Ele ficou adoentado, com problemas particulares, e eu assumi o time com um turno todo pela frente. Isso foi em 1983, 1984. Dali, porém, eu fui para o Catar, onde fiquei onze anos, ainda como preparador do Al-Arabi, clube que eu fui dirigir só agora (antes de assumir o Galo), e o tirei do rebaixamento. 
 
Em cinco anos de Japão, o que mais te surpreendeu na cultura do país? E qual foi o maior aperto que passou num local tão diferente do Brasil?
Sinceramente, sem medo de errar, foi a melhor experiência que tive no futebol. Fui lá para ensinar, mas aprendi. O Japão é um país maravilhoso. Com uma semana de treinamento, na pré-temporada, a gente ia para Miyazaki, que é uma cidade no Sul, onde é um pouco mais quente no inverno. Nestes dias por lá, chamei meus auxiliares e falei que ganharíamos tudo. Os caras (atletas) disciplinados e obedientes. Eu mandava e não pulavam uma vírgula.
 
Por que os jogadores no Brasil não têm a mesma postura?
A formação do jogador brasileiro é a melhor do mundo. Ninguém forma mais atletas que nós. O Brasil tem mais de 5 mil jogando fora do país. A diferença é que nós não formamos pessoas como se forma em outros países. Este é o fator determinante. No Japão, aluno não agride professor na sala.
 
Como você enxerga essa disputa entre técnicos medalhões e técnicos da nova geração? Os mais novos são mais estudiosos que os mais consagrados?
Eu estou sempre em contato com Abel, Autuori, Tite, Levir... Todo mundo estuda e procura se aprimorar. Aqui, tentou-se criar esta divisão. Eu estudei minha vida inteira. Em 42 anos de carreira, vinte dois e meio eu passei fora do Brasil. Na última Copa do Mundo, inclusive, três treinadores eram meus adversários no Japão. 
 
Você citou nomes de treinadores mais experientes, com os quais mantém contato, mas não mencionou nenhum da nova safra...
Falei destes que nunca deixaram de estudar. Os outros, trabalhei com a maioria deles. Um pouquinho com o Carille no Corinthians, dois anos com o Jair Ventura no Botafogo. Trabalhei com o Alberto no Palmeiras, com o Zé Ricardo no Flamengo e outros. São os caras que estão aí, batalhando há muito tempo.
 
Dois meses de trabalho. Como você avalia o desempenho do Galo sob suas mãos?
São duas derrotas. Perdemos nos pênaltis para o Londrina e não conta. É muito pouco tempo para avaliar. Em dois meses não dá. Tudo tem que ter início, meio e fim. Cheguei numa situação dificílima, “trocando pneu com carro andando”. Se não fosse para vir para o Galo, eu não teria aceitado. Tinha muita vontade de trabalhar aqui.
 
Talvez algo mais chamativo do seu trabalho seja o rendimento de Robinho. Qual foi o segredo?
Eu não usei nenhum segredo e não tem nenhuma história particular. Eu apenas coloquei o cara para jogar. O Robinho eu já conheço e é um dos melhores jogadores com os quais trabalhei. É a terceira vez que eu trabalho com ele. Conversamos normalmente, como fiz com todos os outros. Eu motivei todo mundo. O Léo Silva, inclusive, era um zagueiro que eu sempre tive uma imensa vontade de trabalhar. Tem também o Victor, que é um ídolo da torcida, o Marcos Rocha... Eu procurei motivar esses caras. 
 
Por outro lado, Cazares, em duas temporadas no Brasil, passou nas mãos de seis treinadores, sempre com altos e baixos. O que é preciso para fazê-lo um jogador de ponta?
As pessoas são diferentes entre si. O Cazares é um cara que veio “lá não sei de onde”, no Equador. De repente vira ídolo nesta cidade. É um menino humilde, que em pouco tempo tem uma ascensão tão grande. Ele tem que passar por uma tal adaptação que a gente não admite. Eu vejo no Cazares um potencial enorme. Com paciência vamos conseguir dar asas para que ele desenvolva seu máximo. 
 
Para muitos, o Atlético é um time envelhecido. Acredita que é preciso “rejuvenescer” a equipe? Você vê a necessidade de tornar este elenco mais jovem, até pela pressão que os torcedores fazem pela volta do “Galo Doido”?
A gente pode conjugar muito bem as duas coisas. Eu gosto deste estilo e já fiz desta forma intensa. Só que aqui temos um calendário que não absorve. Temos quase 70 partidas na temporada. O Adilson, por exemplo, jogava 30 por ano e não está aguentando. Ele está acima daquilo que estava acostumado lá fora. Aqui, o calendário, combinado com a temperatura e as logísticas, é mais complicado. No Catar, a viagem mais longa é uma hora de ônibus. 
 
Os clubes têm parcela de culpa nisso?
O futebol brasileiro ficou com uma autonomia muito grande da televisão, que interfere. O clube não decide tanto assim e, muitas vezes, tem que participar e aceitar determinadas injunções.
 
Chegar no Atlético, que não ganha o Brasileirão desde 1971, é um fator que te motiva para 2018?
Esse é o meu plano e o meu estímulo. É o meu alvo e a minha intenção. Quero trabalhar muito para isso.

“O Eduardo Maluf era um grande amigo. Eu estava ainda no Japão e ele falava que iríamos trabalhar novamente e que me traria para o Galo. Infelizmente vim depois que ele se foi”

“Não usei nenhum segredo e não tem história particular. Eu apenas coloquei o cara para jogar. Robinho é um dos melhores jogadores com quem trabalhei. É a terceira vez que trabalhamos juntos”

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