‘Minha regra é criticar sem ofender e elogiar sem bajular’

Comentarista consolidado, Júnior segue ensinamento de Armando Nogueira

Henrique André
Publicado em 06/07/2019 às 10:39.Atualizado em 05/09/2021 às 19:25.
 (ARQUIVO PESSOAL)
(ARQUIVO PESSOAL)

Um gigante dentro das quatro linhas e um comentarista consolidado fora delas. Apesar de ser um resumo simplório das duas carreiras bem sucedidas de Leovegildo Lins da Gama Júnior, o eterno “Maestro Júnior”, o que não se pode deixar de lado é a capacidade do ex-lateral do Flamengo e da Seleção Brasileira de jogar e falar de futebol.

Filho de empresário – o pai era dono de uma fábrica de azulejos e pisos e tinha irmãos atletas (o mais novo chegou a defender a Portuguesa-RJ e o mais velho a Seleção de vôlei) –, Júnior deixou a Paraíba aos 5 anos para morar no Rio de Janeiro. Ali, ainda não imaginava o quão importante se tornaria.

Sessenta anos depois, o maestro coleciona histórias. Em seu Instagram, por exemplo, o número de imagens ao lado de ícones do esporte impressiona.

Nesta entrevista ao HOJE EM DIA, Júnior analisa o desempenho do Brasil contra a Argentina, na semifinal da Copa América, relembra os duelos contra o Atlético na década de 1980, comenta a revolta alvinegra com José Roberto Wright, e muito mais.
 
Como viu a classificação do Brasil para a final da Copa América, na vitória por 2 a 0 sobre a Argentina?
Rapaz, foi além da expectativa. O jogo foi bom porque a Argentina jogou, pelo menos individualmente. O Messi jogou bem pra caramba e teve uns “lampejos de Messi”. A intensidade não foi aquela que estamos acostumados a ver, mas se eles tivessem jogado assim desde o início, estariam numa outra posição e não teriam cruzado com a gente nessa semi.
 
Eles reclamaram muito de dois pênaltis não dados ou até mesmo revisados pelo VAR. Concorda ou é choro de perdedor?
O resultado foi justo. É lógico que na falta do Daniel Alves no Agüero, o árbitro poderia ter dado uma olhada no VAR. Como é uma coisa interpretativa, fica difícil tirar conclusão. Em consequência saiu aquele golaço do Firmino.
 
Você foi um dos primeiros ex-jogadores a se consolidar nas últimas décadas como comentarista, mesmo tendo uma forte ligação com o Flamengo. Como você enxerga hoje o ex-atleta que entra e busca espaço na TV?
Isso foi uma evolução da nossa classe de jogadores. Começaram a usar ex-jogadores como comentaristas em função da experiência. A gente tem uma visão, em algumas situações, das pessoas que não jogaram profissionalmente. Esse espaço foi se abrindo, e o próprio torcedor começa a se identificar com isso. Temos que seguir algumas regras básicas. Minha experiência foi na Itália, comentando alguns jogos pela rádio e a TV. Me deram uma boa experiência. Em 1995, participei da final do Brasileiro entre Botafogo e Santos, na Globo, e fiz alguns outros jogos. Quando cheguei de fato para trabalhar, em 98, o Armando Nogueira era o chefe. Ele me falou uma coisa que jamais esqueci: “critique sem ofender e elogie sem bajular”. É uma regra que serve para todos. Consegui dissociar minha ligação com o Flamengo porque estou ali para comentar e não torcer.
 
O que faltou para a Canarinho voar na Copa do Mundo de 1982? Em entrevista ao Hoje em Dia, o argentino Mario Kempes citou certo preciosismo contra a Itália...
É uma questão de detalhes. Quando empatou o jogo em 2 a 2, o Telê me chamou à beira do campo e me pediu para ficar, assim como o Leandro. Dali para frente, não apoiamos mais. Tomamos um gol de escanteio. Aí entra aquela coisa do comentário em cima do resultado. Não havia outra forma para aquela Seleção jogar; até porque ele encontrou um jeito de colocar Sócrates, Zico, Cerezo e Falcão em campo, juntos. É tudo questão de detalhe. Tivemos a oportunidade de empatar numa cabeçada do Oscar, e hoje o comentário poderia ser outro. Depois de 1970, talvez nosso time de 82 seja o que mais demonstrou o que é o futebol que o torcedor brasileiro gosta.
 
De Cruzeiro e Atlético, quem foram os grandes amigos que você fez?
Nós jogamos naquela época em que Flamengo e Atlético dividiam a supremacia do futebol brasileiro. Na Seleção você tinha João Leite, Éder (Aleixo), Cerezo, Luizinho, Reinaldo... Esses caras, de tanto conviver, acabaram virando amigos. Não é conversa fiada. Ficou um laço. O que aconteceu durante os jogos, acontece mesmo, mas nem por isso atrapalhou nossa relação. O “Rei” é um cara que, não só pelo futebol, mas pelas coisas que superou na vida, para mim, é um motivo de prazer e satisfação. O Nelinho, quando a gente era solteiro aqui no Rio, fizemos história demais no Carnaval (risos). O “Manel” é um daqueles com quem você senta e tem a maior satisfação por estar ao lado. Quando cheguei na Seleção em 1979, ele me abraçou como novato. Disso não esqueço nunca mais.

E com a Seleção?
Aí já é um pouco diferente. Visto um pouco a camisa mesmo. Semana passada, reprisaram a final da Copa de 2002, quando eu grito o gol do Ronaldo junto com o Luiz Carlos Jr. É uma coisa que jamais a gente deve fazer, mas ali não teve jeito. Era final de Copa, estava tão envolvido com as coisas, além de terem alguns hermanos atrás da gente nos perturbando demais (risos). Nos anos (1998 a 2003) em que passei no SporTV, foi onde criei uma base; foi minha universidade de comunicação.
Pergunta sobre o “jogo que não teve fim”. Qual a visão sobre aquele duelo entre Atlético e Flamengo, pela Libertadores de 1981, no Serra Dourada? A arbitragem do José Roberto Wright causa indignação aos atleticanos até hoje.
Eu também, se estivesse do lado do Atlético, não gostaria de escutar o juiz que acabou um jogo o qual eu teria a possibilidade de ganhar. Só que você tem que levar em consideração que num dado momento do jogo, o Wright parou a partida, chamou os dois capitães e falou que dali para frente expulsaria quem começasse com jogadas violentas. O jogo recomeçou, e o Reinaldo deu um carrinho de cima para baixo no Zico. Isso! Reinaldo deu um carrinho no Zico; olha só que heresia. Em função disso, desencadeou um certo desequilíbrio no Éder, no Palhinha... Daí, naturalmente, ficou a revolta. Mas eu te faço uma pergunta: “Você acha que Flamengo ou Atlético precisavam de árbitro para ganhar jogo naquela época, com os times que tinham?”. Não tínhamos nada a ver com José Roberto Wright, até porque ele nunca foi torcedor do Flamengo. Ele foi criado no Fluminense. Não precisávamos daquele tipo de ajuda.
 
Como vocês foram para o vestiário naquele dia?
A gente queria jogar. Do mesmo jeito que ficou o amargo na boca do Atlético, ficou no time do Flamengo. Queríamos continuar. Tínhamos totais condições de ganhar do Atlético, como já havia acontecido em diversas oportunidades.
(Leia a entrevista completa em hojeemdia.com.br)

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