Futebol à deriva

Com estádio de R$ 2 bi, casa do Brasil não tem clube profissional desde 2013

Frederico Ribeiro - ENVIADO ESPECIAL
Hoje em Dia - Belo Horizonte
13/06/2018 às 07:28.
Atualizado em 03/11/2021 às 03:34
 (FREDERICO RIBEIRO)

(FREDERICO RIBEIRO)

SÓCHI (Rússia) – A trepidação no asfalto faz o pingente em formato de camisa de hóquei no gelo agitar no retrovisor do carro. As letras indecifráveis do alfabeto russo, acima do número 19, formam o sobrenome do microbiologista Alex Naumenko, o motorista. A predileção do cientista demonstra que em Sóchi, futebol é tão distante quanto os 2 mil quilômetros da capital Moscou.

Mesmo com um estádio de R$ 2,2 bilhões e 47 mil lugares – Fisht Stadium – prestes a receber a Copa do Mundo, a cidade litorânea que se transformou no “QG” da Seleção se importa mesmo é com o curling, patinação no gelo e esqui. Clube de futebol profissional não existe no balneário desde 2013.

Com um elefante literalmente branco – Fisht quer dizer “cabeça branca” –, Sóchi esteve representada pela última vez na Primeira Divisão da Rússia em 1999, quando o falecido FC Zhemchuzhina-Sochi caiu pelas tabelas e não voltou mais.

Aliás, chegou a ressurgir com outros nomes, mas sempre na beira do amadorismo. A primeira morte foi em 2003, rebatizado no ano seguinte como FC Sóchi-04. Durou até 2008, quando voltou ao nome original. O prego definitivo no caixão aconteceu há cinco anos, um antes de Sóchi virar atração mundial com a Olimpíada de Inverno.

“Adoro o Brasil, mas não sou particularmente fã de futebol. Esta camisa (de hóquei) é do meu filho de 7 anos. Ele adora o esporte. Gosta de futebol também, mas aqui as pessoas se entusiasmam com esportes no gelo”, diz Alex, enquanto roda de carro pelo Parque Olímpico, o local que abrigou os Jogos de 2014.

BILHÕES E BILHÕES
Se a paixão pelo futebol afasta a cultura brasileira do local onde a Seleção está instalada, há um elemento em comum entre Sóchi e a Copa do Mundo realizada há quatro anos: aparelhos esportivos com desperdício de dinheiro público.

O Fisht Stadium pode ser considerado o Mané Garrincha soviético. Afinal, custou R$ 2 bilhões só para ser erguido em 2014. Depois, mais R$ 192 milhões por uma reforma visando o Mundial de 2018. São 47.700 lugares que serão abarrotados para quatro jogos da primeira fase da Copa, mais dois das etapas finais.

Depois, o futuro nada indica. Mesmo com forte investimento estatal, desenvolvimento apoiado pelo governo de Putin, a tendência é Fisht virar apenas cartão-postal da cidade. Já que nem a Seleção Russa costuma lá jogar.

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