ENTREVISTA: Thiago Larghi - Técnico do Atlético

Efetivado após a Copa, Larghi diz que objetivo principal em 2018 é estar no G-6

Henrique André / Frederico Ribeiro
Hoje em Dia - Belo Horizonte
01/09/2018 às 07:35.
Atualizado em 10/11/2021 às 02:14
 (HENRIQUE ANDRÉ)

(HENRIQUE ANDRÉ)

O jeito tímido e discreto evidencia o DNA mineiro de Thiago Larghi, de 37 anos, que completará 42 jogos no comando do Atlético no duelo deste sábado contra o Corinthians. Natural de Paraíba do Sul, interior do Rio de Janeiro, ele tem raízes fortes na terra do “uai, sô”. O pai, Aurélio, nasceu em Mar de Espanha, na Zona da Mata; em Sabará, na Região Metropolitana da capital, residem vários familiares e amigos.

Sem sucesso em testes nas categorias de base de grandes clubes do país, inclusive o Galo, Larghi disputou o Mineiro de Juniores de 1997 com a camisa do extinto Montanha Futebol Clube, time sabarense fundado em 1959. Volante “estilo Gustavo Blanco”, como ele mesmo se define, Thiago mudou o percurso quando entrou na faculdade de Educação Física, e viu novas portas se abrindo no mundo do futebol.

Nesta entrevista, o treinador atleticano conta como se tornou analista de desempenho, fala do desafio de comandar o alvinegro em 2018, projeta um título brasileiro em no máximo três anos, e muito mais.

“Alguns nomes foram consultados. Eu achei que fosse ficar como auxiliar, de fato. Mas não foi. Estava bem preparado para isso. Vejo as coisas com muita naturalidade e pés no chão. E não mudou nada depois. O trabalho é o mesmo, o empenho também

 
Como você iniciou a sua carreira de analista de desempenho?
Começou quando eu fiz um curso de treinador, em 2003. Conheci o observador da Seleção Brasileira, o Jairo dos Santos, e aquilo que ele mostrou na palestra naquele curso me fez ver que tinha muito sentido. Daí comecei a estudar aquilo ali. Por outro lado, ele também me abraçou e viu o quão interessado eu estava. Comecei a tomar frente e a comprar softwares, em 2004. Os que tinham eram em inglês ou em francês, com desenho de tática, de animação de jogadas, e alguns com controle de campeonato: como aconteceram os gols, a equipe fez tal gol com quanto tempo... O Jairo gostou disso, achou interessante e a CBF também estava iniciando esta parte de software. Era tudo bem novo. Fiquei como auxiliar aqui no Brasil ajudando ele na Alemanha, isso na Copa de 2006, mas o primeiro trabalho mesmo foi no Botafogo. 
 
Parreira disse que você tem enorme potencial, mas que precisava amadurecer questões como treinador. Como anda este processo? Você ainda não é um técnico e sim um analista de desempenho que mudou de função, correto? 
Não, eu não gostei da sua fala. Eu acho que eu sempre fui um treinador que um dia fui um analista de desempenho. Pelo meu perfil. Você precisa iniciar em alguma coisa. O Parreira iniciou como preparador físico. Você não vai iniciar sendo treinador do Barcelona; você será treinador das categorias de base do Getafe. Vejo que tive um progresso natural, assim de quando fui de analista para auxiliar técnico. Você vai ganhando experiência conforme o tempo, como em qualquer profissão.
 
A pergunta que mais lhe foi feita antes da Copa do Mundo era se te incomodava o fato de não ter sido efetivado até aquele momento. Quando, de fato, você virou o comandante do Atlético, bateu um arrepio? Como foi?
Em todo momento eu fui muito sincero dizendo que aquilo não me incomodava. Porque, no primeiro momento, eu fui convidado para ser auxiliar do clube. Eu tinha aceito aquilo ali e de muito bom grado. Pô, eu ia fazer o melhor possível como auxiliar. E o clube tentou contratar outro treinador, né? Alguns nomes foram consultados e tudo. E eu achei que fosse ficar como auxiliar, de fato. Mas não foi. Achei que seria temporário. Foram passando rodadas e rodadas e eu estava muito preparado se o presidente chegasse para mim e dissesse: “Thiago, okay. Sua missão como interino foi bem cumprida, mas voltamos você para auxiliar e vamos trazer um treinador aqui”. Estava bem preparado para isso. Vejo as coisas com muita naturalidade e pés no chão. E não mudou nada depois. O trabalho é o mesmo, o empenho é o mesmo e a minha dedicação sempre foi a mesma.
 
Agora, como efetivado, você pode ser chamado de “burro”, né?
Ah! Até como interino tinha também, sabe? Faz parte da profissão, né? Eu não fui o primeiro e nem vou ser o último. O que a gente pede às vezes é a compreensão do torcedor e um pouquinho de paciência, porque vai ter momento ruim, e precisamos disso para suportar. No momento bom, o nosso papel é não entrar na euforia. Temos que manter o trabalho com pés no chão, porque o campeonato é de pontos corridos, não é tiro curto. Temos que estar tranquilos para atingir o nosso objetivo que é, principalmente, estar entre os seis no final da competição.
 
Já sofreu preconceito de algum jogador por ser tão novo? 
Às vezes o jogador pode não te respeitar pelo simples fato de nunca ter sido um atleta profissional ou por não ter um currículo com títulos importantes. Vai ter um mais experiente que eles viram e falam: “Esse cara já está ultrapassado”. Aí vem o Felipão, por exemplo, e faz um bom trabalho (no Palmeiras). A Alemanha está com bons técnicos novos na Bundesliga. A Inglaterra também, a última Copa mostrou isso. 

“Quero conseguir dentro de, um, dois ou três anos, um título brasileiro para o clube. É muito difícil a gente conseguir num primeiro ano de trabalho. Nosso objetivo em 2018 é estar entre os seis no final da competição

O Atlético tem uma das zagas mais vazadas do Brasileirão. Como você enxerga este problema crônico no sistema defensivo?
É exatamente a sua última fala. É um sistema defensivo, não é zaga. Se eu considerar só lateral, zagueiro, zagueiro, lateral, eu estou desconsiderando os 11 do time. É um sistema defensivo onde todo mundo tem o seu papel. Houve falha de todos os setores, praticamente, em algum momento. O ataque e o meio de campo também precisam defender. 
 
E os méritos por ter o ataque mais positivo?
Com certeza não é somente dos atacantes. É desde o goleiro, que participa da ação ofensiva, zagueiro, lateral, então todo mundo tem participação em todas as fases do jogo. Ninguém lembra que o gol do 1 a 0 contra o Corinthians foi um cruzamento do Patric para o gol do Roger Guedes. Ah, o Roger Guedes foi artilheiro? Foi. Mas foi com a assistência do Patric; com assistência do Blanco, do Elias, do Adilson que retomou a bola, do Gabriel que iniciou quando o Victor deu o passe... A gente tem que valorizar o conjunto.
 
Leonardo Silva deve pendurar as chuteiras no final do ano. O Atlético vai precisar de uma figura mais experiente para compor a zaga em 2019?
Acho que a experiência do Léo é importantíssima e hoje é fundamental. Se for o caso de ele aposentar, não sei, não estou sabendo de nada, pelo contrário, acho que pelo nível que ele está jogando tem total condições de continuar se quiser, se o corpo dele permitir, enfim, mas é sempre muito importante ter alguém mais experiente, principalmente no setor defensivo. É uma opinião minha. Algumas pessoas podem discordar, com total liberdade disso, mas eu entendo que, na defesa, um pelo menos tem que ser o mais experiente. Não precisa ser o mais velho. A rodagem é importante para a maturidade. É um setor no qual as falhas podem ser decisivas. Ali o jogador precisa ter a cabeça boa para, quando errar, seguir com tranquilidade e no próximo lance acertar. 

Você está satisfeito com as contratações para o segundo semestre? Alguns jogadores importantes também saíram e está sendo feita uma remontagem. Tem dado muito trabalho?
Sim, muito trabalho. Mas eu estou bastante satisfeito com a qualidade dos jogadores que chegaram, com o perfil deles. A gente vê jogadores jovens, mas sérios e que querem trabalhar e buscar o seu espaço. Eles sabem a importância que tem esse clube. Eles vêm de fora, de outros clubes, mas chegaram aqui e se incorporam bem ao nosso sistema. Não está faltando trabalho, então isso aí fica muito claro. O entrosamento e a química que acontecem dentro de campo serão somente com os jogos. 
 
Qual o seu grande sonho como treinador?

É conseguir dentro de, um, dois ou três anos, um título brasileiro para o clube. Eu acho que é muito difícil a gente conseguir um Brasileiro num primeiro ano de trabalho, né? Então eu espero que a gente faça um bom campeonato, para a gente continuar no ano que vem, e aí em 2019 sim, que a gente forme um time mais sólido, que tenha menos mexidas do que aconteceu esse ano e que com um trabalho desde o início a gente consiga este título que a torcida tanto merece. 

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