Dona Albertina: - não vejo mais esperança no Ateneu

Jornal O Norte
Publicado em 15/05/2006 às 11:11.Atualizado em 15/11/2021 às 08:35.

Heberth Halley


Repórter


www.onorte.net/halley



O Ateneu que já viveu dias de glórias, alegrias e títulos, e que hoje está hibernado no descaso, na tristeza e angústia. Com um gramado dando à altura do pescoço, o clube tem, além da sua sede, um patrimônio especial, mas onde todos estão tristes com tudo que vem acontecendo com o Broca, afirma Dona Albertina. Ela é a torcedora número um do Ateneu: dona Albertina Custódio de Matos, de 86 anos.






Símbolo do Ateneu vê o campo em total abandono


(fotos: Wilson Medeiros)



Mãe de cinco filhos: Nadima Custódio, José Patrocínio, João Antônio, Paulo Roberto e Neidson Custódio, o conhecido Garrincha, que jogou no Ateneu na década de 70.



Ela conta que hoje não tem esperança quanto à volta do Ateneu. Pois acredita que com o pessoal que está lá, não volta.



Em uma de suas pastas onde guarda com tanto carinho os vários recortes de jornais, tem uma crônica do ex-goleiro do Ateneu e hoje jornalista, intitulada - Do outro lado da bola - que exemplifica quem é dona Albertina.



- Falar do Ateneu sem antes falar de dona Albertina é não falar do Ateneu. Isto é o que afirmavam os abnegados torcedores do clube do bairro São José e é confirmado pelos torcedores adversários.   



Pois é, a pernambucana, de Bodocó, ela lembra de quando veio para Moc.



- Foi uma época muito difícil. Vim para Moc por causa da seca do nordeste. Todos meus filhos, meninos naquela época, já trabalhavam. Uns pegavam cestas, outros vendiam bolinho frito e cocada – conta emocionada.



Recorda ainda como foi o início desse inegável amor pelo Ateneu. Ela morava na rua Dom Pedro II e o Ateneu não tinha sede. Os jogadores Beto, Arnaldo, Bastim e Márcio Piriquito pegavam marmita com ela e Sabará levava os uniformes do Ateneu para ela lavar. Naquele tempo, o Ateneu jogava no campo do União. Lembra ainda que o pai de Tonão do Magalhães, Seu Carrinho morava onde hoje é a sede, mas que depois da morte dele o presidente da equipe, Geraldo Machado pediu para que ela fosse morar lá.






- Hoje só tem eu aqui



Dona Albertina diz que foi olhar o local e que antes de dizer se queria ou não, o jogador Bibi Canivete pegou a cama e a estante e levou para a sede, onde ela mora até hoje.



A mudança aconteceu no dia 13 de junho de 1963, dia de Santo Antônio.



- Os vizinhos ficaram muito felizes com os novos vizinhos e fizeram a maior farra. Fizemos uma fogueira, e preparamos uma canjica, mas isso aconteceu na parte da tarde, pois os pais não deixavam as meninas saírem à noite – lembra.



A torcedora símbolo do Ateneu recorda que o ex-goleiro Coró Barbosa um dia resolveu montar uma equipe de futebol de salão para os meninos e um time de vôlei para as meninas, e fez um mutirão para que todos tirassem a areia que estava sobre a quadra, para começar os treinamentos.



TONINHO REBELLO



Com as várias festas naquele local, o então presidente Toninho Rebello, sensibilizado com a atitude dos jogadores e das meninas que jogavam vôlei e também por falta de um local para confraternização, prometeu fazer a sede do clube, e foi o que aconteceu. E que hoje é situada na rua Ângelo de Quadros, no bairro São José. Na oportunidade, durante a construção da sede, o presidente resolve ajudar na reforma da casa de Dona Albertina.



- Ela merece um palacete – destacou Toninho Rebello



TEMPO BOM



Emocionada dona Albertina declara:



- Era muito bom aquele tempo, tinham várias equipes boas, como o Ateneu, Cassimiro, Ferroviário, Bancário, Tiradentes, era a maior rivalidade. Todos os jogadores jogavam pelo amor à camisa, hoje não existe mais nada, só eu que ainda estou aqui – conta triste.



Salienta ainda que as várias meninas que jogavam vôlei pelo Ateneu namoraram e se casaram com os jogadores, caso de Betinha e Bil, Si e Felipe Gabrich, Maria Helena e Nicomedes, e até mesmo o médico do time, Cláudio Pereira, que se casou com a ex-jogadora Eleuza.






Dona Albertina não vê esperança na volta do Ateneu



RECORTES



Num outro recorte do jornal da época o ex-diretor geral de esportes do Ateneu, José Gomes, no dia de natal dá uma máquina de costura para ela e diz:



- Dona Albertina, uma pessoa ardorosa, sempre dá vida a uma associação. Muitos clubes podem possuir adeptos, porém, só o Ateneu tem a senhora.



O jornalista e ex-jogador de futebol do Ateneu, Felipe Gabrich em outra crônica – Broca - escreve:



- O Ateneu é time que preza suas atitudes e tem como um dos seus valorosos patrimônios o coração de Dona Albertina...



Como podemos perceber ela sempre foi respeitada por todos, pelo seu carisma e simpatia. Foram mais de 40 anos vividos dentro do Ateneu. Lá criou seus filhos, criou netos, foi de tudo um pouco, lavadeira, cozinheira, porteira, conselheira, torcedora.



Em outra crônica, Felipe Gabrich destaca o amor que Dona Albertina tem pelo Ateneu:



- Seu amor pelo Ateneu era tão excessivo que ela não amava tão somente a bandeira do clube, as cores do clube, a camisa do clube, as vitórias, os empates, as derrotas do clube. Ela amava as paredes da sede do clube, os vestiários, as arquibancadas, o gramado. Ela amava ainda cada meião, cada calção, cada chuteira do clube. E amava os jogadores e torcedores de clube como se fosse filhos seus. Não conhecia amor maior que o dela, só possível às mães.



PRESENTE



Ela diz que este ano não tem a mínima esperança de ver o Ateneu voltar e muito menos ver as arquibancadas do Broca repletas de torcedores como antigamente.



- Sinto muitas saudades daquele tempo. Era bom demais. Mesmo com tanto descaso, ainda torço pelo Ateneu – pondera.



- O presente que queria ganhar como dia das mães era que uma empresa ajudasse o Ateneu – diz.

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