Gratidão ao clube e aos seus fundadores fez com que Didi Canivete jogasse apenas pelo Ateneu por toda a carreira Mesmo iniciando pelo Ateneu, Nicomedes fez história ao defender o Cassimiro de Abreu por pelo menos 16 anos
Quase duas décadas depois, o clássico Ateneu versus Cassimiro volta a movimentar a cidade. A ideia do reencontro nasceu da diretoria do Broca, que entendeu que essa fosse a melhor maneira para inaugurar o novo gramado do Estádio João Rebello, que passou e deve seguir com inúmeras reformas. A partida tem importante valor por ser um marco no ressurgimento do Ateneu, que há anos luta pela sobrevivência.
A reportagem de O NORTE colocou frente a frente Didi Canivete e Nicomedes para um bate-papo. Eles fizeram dupla de zaga no Ateneu entre 1962 e 1964, mas são marcados por caminhos diferentes.
Durante anos os duelos entre o Broca e o Mais Querido foram marcados por uma rivalidade sadia, mas que obrigavam os organizadores a dividir o estádio em dois, para que as torcidas pudessem acompanhar os jogos. A partida era truncada, pesada, de muita força e também de muito talento.
Craques como Jomar e Nilson Espoletão faziam de tudo e mais um pouco para deixar para trás zagueiros como Didi Canivete e Nicomedes. Didi conta, por exemplo, que para parar Jomar tinha que chegar junto. “Jomar? Bom de bola. Era difícil. Para marcar ele era só no cacete”.
ÚNICO TIME
Jogador e torcedor, Didi Canivete não abriu mão e vestiu apenas a camisa do Broca por toda a carreira. Defendeu as cores do Ateneu por 18 anos, de 1954 a 1972, passando desde as categorias de base até o profissional. Já não bastasse uma mistura de emoções ao retornar ao campo onde fez história, Didi completa 78 anos no dia do clássico. “Eu tenho muito amor pelo Ateneu né? Tive oportunidade de sair, com direito a receber um bom dinheiro, mas decidi ficar”.
Quando surgiu a equipe do Ipê, várias propostas chegaram a cativar Didi, que optou por ficar, já que acreditava “dever muita obrigação a Toninho Rebello” –ex-prefeito de Montes Claros e um dos fundadores do clube.
Defendendo o Broca, Didi lembrou diversos jogos importantes. Os duelos contra os grandes da capital eram corriqueiros e, aqui, enfrentaram também clubes de outros estados. O Vasco da Gama, por exemplo, veio desafiar as duas equipes montes-clarenses. O time carioca passou por um, mas esbarrou no outro.
“Sempre que vinha um grande de fora enfrentava tanto o Ateneu quanto o Cassimiro. No domingo, o Vasco fez 3 a 0 no Cassimiro e nós (Ateneu) enfrentamos o time carioca na quarta-feira à noite, e devolvemos o placar. Vencemos também por 3 a 0”, conta Didi, lembrando que os jogos davam muita renda, já que a cidade se mobilizava para ver a partida.
ENTREGA
Já Niccomedes, assim como Didi, foi banqueiro, e chegou depois a se formar em Letras e lecionar na Unimontes. Jogar em sua época requeria a prática de mais de uma atividade.
Segundo Nicó, futebol não dava o dinheiro que se ganha hoje. Aos 74 anos e com muita história para contar, Nicomedes aproveitou para desabafar e não entende o porquê, então, jogadores profissionais atualmente não rendem o esperado.
“A gente vê os jogadores que viajam em bons aviões, têm nutricionista, fisiologista, todo o amparo de saúde e ficam reclamando de dor nos músculos. Ora, isso não tem condições. Como queriam então que a gente viajando de ônibus, com bancos duros e coma mínima estrutura pudesse chegar e jogar no dia seguinte?”, indagou.
Inconformado com o corpo mole de jogadores na atualidade, Nicó vê que, mesmo com as adversidades, na sua época todos deixavam tudo que tinham dentro de campo. Contou ainda sobre a dificuldade em lutar pela bola durante o clássico.
“Cassimiro x Ateneu sempre era diferente. Não era uma rivalidade doentia, mas sim sadia. A torcida vivia o jogo a semana inteira. Todos os clássicos eram muito difíceis e bem prestigiados”, lembra Nicó.
O mesmo Ipê, que tentou mas não convenceu Didi, tirou Nicomedes do Ateneu e pôs fim à parceria dos dois zagueiros em 1964. Tempos depois, Nicó, por mais que tenha vestido a camisa de Ipê e Ateneu, fez muita história defendendo o “Mais Querido”.
“Eu joguei mais tempo no Cassimiro, mesmo me formando no Ateneu. Foram 16 anos de clube, talvez essa ligação (com o Cassimiro) seja maior pelo tempo que vesti essa camisa”, disse Nicó.
RETOMADA
A cidade que já foi berço para grandes atletas tenta recuperar agora a força no esporte. Para Nicó, geralmente os bons dirigentes e entusiastas do futebol local são pessoas que não têm muitos recursos financeiros para investir e a cidade perde muito sem esse investimento. Ainda de acordo com o ex-atleta, a volta do Ateneu é um grande passo nesse processo.
Mesmo que cotados para jogar como titulares por suas equipes, Didi e Nicó não sabem se vão a campo no domingo. Acreditam que já fizeram muito, por vários anos, e que agora, relembrar e reunir a velha guarda é o suficiente.
Mesmo assim, Nicó não abre mão de uma coisa: “Quero pelo menos dar o pontapé inicial em uma das partidas”. E será atendido.
Quem quiser ver esses dois craques e muitos outros, basta ir ao jogo comemorativo deste domingo, no Campo Ateneu, a partir das 8h. As entradas são limitadas e ao preço de R$ 10, com direito a um chaveiro personalizado.