Cerca de 200 jovens e adolescentes estudantes do colégio Integral, professores, familiares e amigos se reúnem para render homenagens a Montes Claros pelos seus 150 anos. O símbolo da homenagem foi o escritor Luiz de Paula Ferreira e sua obra literária, A Venda de Meu Pai
Jerúsia Arruda
Repórter
jerusia@onorte.net
Faltando pouco mais de três meses para o aniversário de 150 anos de Montes Claros –completados no próximo dia 03 de julho - a data vem inspirando projetos desenvolvidos por várias instituições da cidade, entre elas, as escolas.
No último sábado, 17 de março, cerca de 200 jovens e adolescentes, estudantes do Colégio Integral renderam homenagens a Montes Claros com a realização da 3ª edição do Sarau Poético do Integral, tendo como pano de fundo a obra do escritor Luiz de Paula Ferreira, A Venda de Meu Pai.
De acordo com a diretora do Colégio Integral, Nilva Vilasboas o Sarau Poético tem o objetivo de trabalhar o hábito da leitura e despertar nos estudantes o interesse pela história e formação cultural da região.
- O Sarau Poético já faz parte do calendário do Integral e sua realização é importante porque promove um momento de interação entre a comunidade escolar, além de criar uma oportunidade dos alunos conhecerem os valores literários, não só as obras, mas também seus autores. Neste ano convidamos o Dr. Luiz de Paula para ser nosso homenageado por dois motivos: primeiro pela sua obra literária, que retrata os valores e comportamento do povo de nossa região; segundo, porque ele representa a chegada do progresso a Montes Claros, através da fundação da companhia de tecidos Coteminas, que tanto contribuiu e continua contribuindo para o crescimento econômico do município – explica a diretora.
Alunos da 5ª série fazem apresentações alusivas
às festas de agosto (foto: Manoel Freitas)
Nilva afirma que o hábito da leitura só se forma a partir do momento em que as pessoas passam a sentir necessidade de ler, e é essa a missão da escola.
- Através de atividades de pesquisa, artísticas e lúdicas os alunos descobrem que os livros trazem sempre conhecimentos surpreendentes e começam a buscar pela leitura espontaneamente. Mesmo sendo coordenado pela professora de Literatura, o Sarau Poético mobiliza professores de todas as disciplinas e cria um envolvimento de toda a escola durante a preparação. Na hora que acontece realmente, é um congraçamento onde os alunos têm a oportunidade de expressar os sentimentos e emoções aflorados pela leitura e atividades artísticas. O mais interessante é que eles compartilham esse momento com sua família, com as pessoas que amam e confiam – diz.
HOMENAGEM
Comovido e honrado. É assim que Luiz de Paula Ferreira diz se sentir com a homenagem.
- Na maioria das vezes essas homenagens são póstumas e comentei com minha família de como me senti feliz em ter sido lembrado em vida. Tenho 90 anos de idade e alguns problemas me impediram de comparecer pessoalmente ao encontro, mas fui muito bem representado pela minha secretária Nilza. Agradeço sinceramente pela lembrança e me sinto muito honrado com a homenagem – diz o escritor.
Luiz de Paula diz que o livro A Venda de Meu Pai, conta as lembranças de sua juventude, quando trabalhou como caixeiro na venda seu pai.
- Apesar dos meus 90 anos de idade, posso dizer que, como Montes Claros, também tenho 150, devido às muitas histórias que ouvi na minha infância e adolescência e que resguardei na memória. Através dos muitos causos que ouvi ao pé do balcão, pude entender como a cidade foi tomando forma, mesmo anos antes de ter nascido. Por lá ouvi histórias da Política, Economia, apartei e entrei em brigas, desavenças ideológicas de um povo apaixonado pelo seu pedaço de chão. A Venda de Meu Pai conta um pouco dessas lembranças e seus personagens eram os mesmos de minha adolescência. Na verdade, o livro é mais do que minha história, é a história de todos nós montes-clarenses – conclui.
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LUIZ DE PAULA, CORAÇÃO MONTES-CLARENSE
No dia 27 de junho, nasceu na zona rural um garoto que, aos oito anos de idade, veio para Montes Claros para aprender a ler e escrever. Estudou na Escola Gonçalves Chaves e sua primeira profissão foi engraxate.
Na sua adolescência, pegou uma doença que só se curou depois de 20 anos.
Formou-se em contabilidade e, como contador, trabalhando muito e economizando para montar sua própria empresa, fundou a Coteminas.
Em 1971, deu início a sua implantação. Eram apenas escavações, alicerces, andaimes, paredes sendo erguidas, mas o coração desse homem transbordava de felicidade e confiança no que estava por vir.
Todo o dia, após sua labuta, ia com a família ao local deste sonho para ver como a Coteminas crescia, para ver a Coteminas nascer. E todos os dias cantavam uma cantiga com essas palavras: - Olha a Coteminas, toda iluminada, na beira da estrada, Olha a Coteminas...
Mas não foi fácil erguê-la. Os obstáculos eram enormes, principalmente escassez de recursos. Mas com muita fé e ajuda o sonho se tornou realidade, em trabalho organizado, competente e competitivo.
Aquelas paredes e andaimes, iluminados à beira da estrada, são hoje 11 fábricas de tecidos e confecções, faturando milhões de reais por ano, boa parte em dólar.
Para edificar esse complexo têxtil, a Coteminas foi buscar acionistas no exterior, conquistando capitais de risco para o desenvolvimento do país.
Hoje, esse homem que é importantíssimo para o Norte de Minas, é um acionista da empresa, mas deixa muito claro:
- A Coteminas sempre será uma lembrança iluminada no meio da noite, mas não somente isso: é uma visão mágica que vem do passado, como moldura romântica e luminosa. Ela é e sempre será presença majestosa e real de um sonho realizado em sua plenitude.
Esse homem é Luiz de Paula.
Casado com Isabel Rebello, Luiz de Paula Ferreira tem cinco filhos e dois netos. Estudou o primário em Pirapora, o secundário e Contabilidade em Montes Claros e Direito no Rio de Janeiro.
É sócio-fundador e atual vice-presidente da Coteminas – Companhia de Tecidos do Norte de Minas; sócio-fundador e diretor da Fazenda Cantagalo e da Fardal Agropastoril e Participações.
Fez cursos de Política e Estratégia Empresarial para executivos na Fundação João Pinheiro e curso de Liderança, Conferência e Discussão para Grupos, nos Estados Unidos.
Foi deputado federal, com legislatura de 1967 a 1970, é membro da Academia de Ciências, Letras e Artes do São Francisco, da Academia de Letras de Montes Claros e do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais.