Educação

Violência nas escolas é reflexo social, diz pesquisa

Homens brancos com baixa autoestima são os principais perfis de autores de ataques

Larissa Durães
Publicado em 31/05/2023 às 20:43.
Diálogo é a melhor forma de evitar agressões (pexels)

Diálogo é a melhor forma de evitar agressões (pexels)

O perfil dos autores dos ataques em escolas no Brasil está traçado em um estudo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que acaba de ser publicado. Nele, a violência tem um rosto: homens brancos com baixa autoestima e sem popularidade dentro da escola. 

Entretanto, para o psicólogo e especialista cognitivo comportamental, Willian Faria, a questão da intolerância não tem necessariamente relação com o que acontece na escola. “Nós que estudamos psicologia educacional, responsabilizamos a escola por muitas coisas, mas esses atentados específicos, são reflexos da nossa sociedade. É claro que a escola é um ambiente extremamente violento, existe bullying, existem funcionários que deveriam proteger os alunos que sofrem violência psicológica, existe violência sexual com culpabilização da vítima, muitas vezes. Mas esses atentados não foram culpa somente da escola”, considera o psicólogo.
 
POSSÍVEIS CAUSAS
Para Faria, a questão ultrapassa os muros da escola e está centrada na estrutura da sociedade, relacionadas por exemplo, com a hipermasculinidade, muitas vezes entrelaçada com racismo, que para ele, é “a noção machista e patriarcal do homem de que ele é muito especial, e tem todos os direitos a seu favor. A vítima não precisa ser uma mulher, mas o machismo está envolvido em razão da hipermasculinidade. A pessoa branca também sente que ela é dona do mundo, então ela não pode ser atravessada, e qualquer coisa que ela desaprova, é uma injustiça e não precisa ser injustiçado, basta achar que está sendo injustiçado. Se o indivíduo achar que está sendo injustiçado, principalmente na adolescência, o estopim estoura a raiva é a resposta a essa injustiça”, explica. 

A professora de Biologia de uma escola estadual em Montes Claros, Ana Paula Gama, concorda com Faria. Para ela, os pais também têm culpa. “Tem 19 anos que dou aula, e notei nesses anos que os pais estão deixando de educar os filhos e jogando esta responsabilidade para a escola e para o celular”, pontua 

Para a professora, uma das maiores violências cotidianas que pode acontecer com a criança e com o adolescente, é a ausência dos pais. “Vejo crianças cada vez mais novas com celulares na mão, substituindo a babá ou pior, os pais”. Em relação aos adolescentes, ela diz que “esses sendo curiosos, entram em salas negras onde adultos mal-intencionados mudam a cabeça da dela”. Isso, de acordo com ela se dá em função dos pais não prestam atenção nos filhos, no que estão que estão fazendo.
 
AGRESSOR 
Por falta de orientação ou mesmo da construção de um diálogo escola-família, A.D. afirma ter sido um praticante de bullying em colegas que para ele eram “esquisitos, diferentes e nerds”. Ele conta que depois de sofrerem o bullying, a vítima ficava ainda mais isolada e triste. Hoje, com 20 anos e cursando medicina A.D. se culpa. “Me arrependo amargamente de ter feito isso, porque posso ter causado ansiedade e traumas neles. Mas não fui orientado para não fazer, mesmo assim, me culpo”, declara. 

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