Jerúsia Arruda
Repórter
jerusia@onorte.net
Em um terreno de 2.800m2, na bucólica Rua São José, número 567, no Bairro Todos os Santos, à sombra de centenários e frondosos Ficus – no tronco de um deles está incrustada a imagem de Nossa Senhora - e Barrigudas, está instalada há quinze anos a escola estadual de educação especial Abdias Dias de Souza.
Com um contingente de 235 alunos matriculados, e matrícula complementar de mais 214 alunos de outras instituições municipais e estaduais, de faixa etária que vai de 6 a 40 anos, a Abdias é a única escola estadual do Norte de Minas que atende exclusivamente a crianças com necessidades especiais.
Além das disciplinas previstas na grade curricular, a escola desenvolve uma série de oficinas que proporcionam aos alunos a oportunidade de produzir trabalhos artesanais como pintura e bordado, fabricação de doces, sapatos e móveis, o que contribui para o desenvolvimento da coordenação motora, articulação mental, raciocínio lógico e, principalmente, socialização e resgate da auto-estima.
Segundo a diretora Célia Maria Prates Costa, que está à frente desde sua fundação, em 1991, a escola é o ponto de apoio do programa Educação Inclusiva em toda região.
- A Educação Inclusiva vem sendo desenvolvida há muitos anos, mas só agora tem ganhado espaço de análise e discussão, não só pela sociedade, mas principalmente pelos gestores da educação, que têm acompanhado mais de perto os resultados do programa e viabilizado soluções para sua aplicação de forma mais efetiva e proveitosa – explica Célia.
A escola possui quinze salas de aula que recebem uma média de 8 a 15 alunos do Ensino Fundamental, uma sala de recursos, 37 professores, equipe de 10 profissionais especializados como psicólogos, assistentes sociais, pedagogos, entre outros, e uma neuropsiquiatra que atende uma vez por semana na própria instituição, em parceria com a secretaria municipal de Saúde. Segundo Célia, todos os alunos tomam medicamentos regularmente.
- Quando foi inaugurada, a escola tinha muita deficiência na estrutura e um dos grandes saltos que demos ao longo desses quinze anos foi sua reestruturação, principalmente com a quadra coberta, que tornou as atividades recreativas mais interessantes, já que os alunos ficam protegidos do sol forte. Houve uma época que nem era possível brincar na hora do recreio e muitos que se arriscavam correr pelo pátio desmaiavam por causa do calor. Hoje, além da facilidade em promover atividades interativas, a parceria com a Soebras/Funorte, Unimontes e Sesiminas tem viabilizado projetos esportivos, o que garante diversão, socialização e integração dos alunos com a comunidade – comemora a diretora, que trabalha na educação há 30 anos, 20 deles com educação especial.
Apesar de caminhar a passos lentos, Célia diz que o programa de inclusão na educação vem mostrando resultados positivos.
- Desde 2004 estamos encaminhando alunos, que antes freqüentavam apenas a escola Abdias, para as escolas comuns e, a cada ano, o número de alunos reinseridos tem aumentado. Em 2004 foram 30, em 2005, 68, e neste ano já foram selecionados 91 para integrarem turmas de outras instituições. Esses alunos são avaliados por Conselhos de Classes em conformidade com seus familiares. Temos, ainda, uma equipe de itinerância que, anualmente, faz o acompanhamento, e todos têm apresentado um bom aproveitamento, alguns inclusive com destaque em relação aos colegas de classe. Ao mesmo tempo, recebemos alunos especiais, que participam de atividades diferentes das de sua escola de origem, de forma que possam ter um acompanhamento especializado, facilitando seu desempenho e assimilação no processo ensino-aprendizagem. Estamos conscientes de que o resultado não será a toque de caixa, mas a tendência é que cada vez mais as pessoas aprendam a lidar com essas diferenças, inclusive no convívio familiar, de forma que todos possam div
idir o mesmo espaço em pé de igualdade – argumenta.
A campanha da Fraternidade da CNBB – Comissão Nacional dos Bispos do Brasil deste ano tem como tema Levanta-te, vem para o meio. Fraternidade e pessoas com deficiência, visando a promoção da inclusão social das pessoas com necessidades especiais.
Segundo Célia Prates, com a campanha da CNBB, fortalecida pelo debate provocado pela novela da Rede Globo, Páginas da Vida, e com os programas do governo, a tendência é que as pessoas se conscientizem e encarem a criança especial como uma realidade que requer atenção, carinho e respeito, e não um problema.
- Um dos maiores problemas que enfrentamos desde a criação da escola foi o descaso das empresas, que se negam em oferecer oportunidades de trabalho aos alunos, o que já é previsto por lei. Hoje já temos algumas parceiras, e todos os alunos que estão trabalhando têm mostrado que são competentes, desempenhando, inclusive, com maior atenção e desprendimento em algumas atividades, graças a sua capacidade de concentração – principalmente nos casos de deficiência auditiva – explica.
Para o próximo ano, Célia explica que a tendência é que a escola Abdias Dias de Souza se torne um Centro de Atendimento ao Surdo (CAS), se tornando referência para toda região.
- A escola está passando por um momento de transição, de reestruturação, e a meta é preparar melhor os professore e equipe de apoio para que o programa de inclusão possa fluir. Somos gestores das outras três escolas especiais da cidade – Fernão Capelo Gaivota, Vovó Clarice e Apae – e, ainda, ministramos palestras e cursos de qualificação para professores das escolas públicas, de forma que se preparem melhor para lidar com os alunos especiais, minimizando as diferenças em sala de aula. Para isso, além da especialização, que deve ser promovida pela secretaria de Estado de Educação, é preciso que as pessoas não tenham medo da inclusão, que as famílias amparem os filhos com necessidade especiais e os tratem com a mesma atenção que dispensam aos seus irmãos – nem mais, nem menos; igualmente – o que certamente irá facilita sua convivência com a comunidade, já que a família é a primeira fonte de inclusão humana. Acreditamos na Educação Inclusiva e vamos continuar dedicando integralmente na defesa dos direitos de igualdade e liberdade dos nossos alunos – conclui a diretora.