Uma montes-clarense em Timor-Leste

Jornal O Norte
10/05/2006 às 10:59.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:35

Jerúsia Arruda


Repórter


jerusia@onorte.net

Em dezembro de 2004 a CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior- abriu um edital amplamente divulgado pela imprensa recrutando 50 professores preferencialmente das áreas de Química, Física, Biologia e Matemática para trabalhar no Programa de qualificação do docente e ensino de língua portuguesa em Timor Leste.

Tatiana Rodrigues: uma das 50 aprovadas em concurso de 17 mil concorrentes

Se inscreveram 17.000 pessoas. Depois das averiguações, chegaram a um número de 13.500 inscrições válidas para selecionar 50 candidatos. No dia 30 de março de 2005, após os preparativos necessários, a professora de química montes-clarense Tatiana Rodrigues Brommonschenken, 30 anos, solteira, embarcou para Timor-Leste, chegando em Díli, capital do Timor, em 02 de abril de 2005.

Tatiana diz que se inscreveu no programa pelo desafio de vivenciar outra cultura e ajudar de alguma forma a um país pós-guerra.

TERRA DE CONFLITOS

Timor-Leste é uma meia ilha localizada na Ásia, entre a Indonésia e Austrália. Foi colônia de Portugal até 1975, que após a revolução dos cravos, concedeu a independência a todas as suas ex-colônias. Mas o Timor teve poucos dias de independência, pois a Indonésia, que já era dona da outra metade da ilha, invadiu o país e promoveu uma integração fria e sangrenta. Foram 24 anos de ocupação Indonésia. Porém, o povo timorense resistiu bravamente, votou no referendo realizado pela ONU contra a integração e se tornou conhecido no mundo pela vitória contra a grande potência e pelo modo terrível como a Indonésia se retirou, queimando todo o país com a ajuda das milícias (timorenses pró-integração).

Atualmente, o país vive um momento de tensão política, com 70% da população refugiada nas montanhas e prédios públicos.

IDIOMA

O Timor-Leste possui uma imensa variedade lingüística, com 33 dialetos falados na pequena meia-ilha. Com a independência, a língua portuguesa proibida durante a ocupação, tornou-se uma das línguas oficiais do país junto com a língua nativa, o tétum.

RECONSTRUÇÃO

Timor-Leste recebe o apoio de vários países para a reconstrução que começou em 1999, com saída das tropas indonésias e a chegada das forças de paz da ONU. Na educação, o maior parceiro é Portugal, que desde 2000 envia professores para o ensino na Língua Portuguesa em todo território.

PARCERIA BRASILEIRA

A cooperação educacional brasileira segue um objetivo mais ousado: capacitar os professores que após a guerra foram voluntários e não possuem em sua maioria formação e habilidades básicas para ministrar aulas, e preparar estes professores para ensinar as matérias específicas em português.

Foram enviados para o programa 4 profissionais na área de educação química.

Segundo Tatiana, no primeiro ano em Timor-Leste, o trabalho foi realizado basicamente no IFCP (Instituto de formação contínua dos professores), com cursos de capacitação para professores de química de todo o país.

- A situação é precária no que diz respeito às condições de vida e de trabalho dos professores timorenses. Os recursos são mínimos, o que nos levou a criar um programa de ensino de química com materiais alternativos. Os experimentos precisam ser realizados com materiais de fácil acesso, pois não têm laboratórios nas escolas e muito menos condições para comprar material, explica Tatiana, que trabalha na universidade nacional de Timor Lorosa’e, apoiando o departamento de química ao lado de professores que ministram cursos de português instrumental para as diferentes áreas, como foi o caso de um curso de português específico para os alunos da primeira turma de medicina do país, projetado e ministrado pela cooperação brasileira, trabalhando temas voltados para o vocabulário médico.

REFORÇO

Para o ano de 2006, a cooperação tem se programado para enviar profissionais para os diferentes distritos (estados) de Timor-Leste para capacitação continuada dos professores em exercício.

- Os desafios são grandes, porém acreditamos que seja a melhor forma de ampliar os resultados do trabalho, proporcionando ao professor um acompanhamento mais freqüente e eficaz, conclui Tatiana, que diz que a capacitação realizada na área de química não tem como objetivo apenas a construção do saber científico, mas também incentiva a produção de novas alternativas de materiais de limpeza, reforço na alimentação, conscientizações sobre a higiene e saúde e discussões pedagógicas sobre aprendizagem e relação aluno-professor.

RETORNO

Tatiana fica em Timor-Leste até o mês de novembro de 2006, com possibilidades de retorno. Antes de ir para o continente asiático, lecionava na escola estadual Levy Durães Peres, onde deve continuar trabalhando, caso não retorne ao Programa.

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