Sexta-feira é dia de chorinho e da melhor qualidade

Jornal O Norte
17/11/2005 às 11:16.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:54

Jerúsia Arruda


Repórter


jerusia@onorte.net

Eles começaram tocando nas tradicionais bandas do interior mineiro, em idade pueril, a maioria por influência paterna. Para alguns, ingressar na polícia militar foi uma forma de sedimentar profissionalmente na música. Hoje, o Chorando no choro, grupo de chorinho de Belo Horizonte que se apresenta em Montes Claros nesta sexta-feira, na festa Choro & cia, promovida pela jornalista Adriana Queiroz, é uma referência da MPB, parceiro de importantes e conhecidos nomes da arte de cantar e tocar o bom e velho chorinho.

Apesar de ainda não ter se aventurado pelos tortuosos caminhos da composição, o grupo é autor de releituras memoráveis de grandes clássicos da música nacional, de compositores como Pixiguinha, Jacob do Bandolim, Valdir Azevedo, Cartola e tantos outros que, além de músicos da melhor qualidade, representam os pilares da construção histórico-cultural do país.

EDINHO DO ACORDEON

Protagonista de uma história que se confunde com a história do rádio, Ed Bernard, o Edinho do Acordeon, um dos mentores do grupo, diz que nunca se dispôs a gravar um trabalho próprio porque tinha um exemplo que o deixava penalizado. Segundo ele, Luiz Gonzaga, o maior sanfoneiro do país e em sua concepção, talvez o maior cantor e compositor de todos os tempos e criador de um ritmo único, morreu na miséria porque quem levava todos os lucros e vantagens era a gravadora; o músico mesmo levava muito pouco.




Ed Bernard, sanfoneiro, mentor do grupo Chorando no choro que se apresenta em Moc

- Isso foi um grande desestímulo para mim.  Por isso, nunca quis gravar. Trabalhei dez anos na rádio Nacional do Rio de Janeiro, de onde só saí por causa da revolução de 64. Gravei com Dalva de Oliveira, Jackson do Pandeiro e com a maioria dos cantores da Rádio na época. Mas nunca animei fazer um trabalho próprio para gravar - relembra Ed, saudoso.

Ed conta que, logo que saiu da rádio Nacional, montou seu próprio grupo e, em 1973, viajou por três meses pela União Soviética. Quando retornou ao Brasil, montou um conjunto de baile, desde então, passou a atuar no cenário musical brasileiro. De descendência judia, hoje, beirando seus oitenta anos com uma elegância dionisíaca, Ed Bernard conduz o Chorando no choro, fazendo um resgate histórico do samba e chorinho, que, no sincretismo com a jovem guarda do grupo, cria pérolas de valor inestimável.

PALCO DA VIDA

Apesar da aceitação do público em relação ao repertório, o grupo, unanimente, diz que o povo brasileiro não conhece a própria música por falta de divulgação e apoio da grande mídia. Para eles, o samba derivado que invade as rádios e programas de TV não representa o verdadeiro estilo que simboliza o Brasil em todo o mundo.

Acostumados a viver em um ambiente onde a música é soberana, os músicos dizem que o mais importante palco onde já se apresentaram é o palco da vida, pois é neste que conseguem exibir e ao mesmo tempo aprimorar sua arte, sendo pessoas iguais às que os assistem e aplaudem, ao mesmo tempo em que compartilham emoções e experiências.

CHORO & CIA

Com postura disciplinada e simpatia e simplicidade cativantes, o grupo Chorando no choro se apresenta em Montes Claros com os músicos Mário de Castro (clarinete), Antônio Sampaio (trombone), Maria Eliza Andrade Bethern (acordeon), Waltinho Ferreira Gonçalves (violão sete cordas), Marquinhos Oliveira (cavaquinho) e Gilmar Silva (pandeiro).  Profundos conhecedores do estilo que adotaram como tema central do show, o grupo promete deixar a pista fervilhando com sua performance e repertório instigantes.

O show acontece amanhã, às 22h30m, no buffet Fogão de Lenha, no Choro & cia, evento que leva assinatura da jornalista social Adriana Queiroz, da coluna Gente & Idéias, deste periódico.

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