Educação

Projeto incentiva jovens a escrever e publicar livro

Professora Noêmia Lopes fala, com orgulho, das 15 edições já publicadas

Adriana Queiroz
Publicado em 22/07/2022 às 00:14.
Noêmia Lopes é criadora do projeto “Escritores da liberdade na estrada de tijolos amarelos” (Arquivo pessoal)

Noêmia Lopes é criadora do projeto “Escritores da liberdade na estrada de tijolos amarelos” (Arquivo pessoal)

Escrever pode fazer bem. É o que acredita a professora Noêmia Lopes, criadora do projeto “Escritores da liberdade na estrada de tijolos amarelos”, que auxilia pessoas, principalmente os jovens, a acreditar no próprio potencial e publicar textos da própria autoria.

“Já temos 15 livros publicados, de adolescentes e adultos. Os gêneros variam desde coletâneas de contos, crônicas, relatos, poemas até romances. Os temas tratados abordam vivên-cias cotidianas, com suas angústias e descobertas, mistério, amor e fé”, conta. 

Nascida na cidade do Rio de Janeiro, Noêmia veio morar em Montes Claros quando ainda era criança, há mais de 30 anos. A ideia do projeto surgiu quando a professora observando, na prática, o quanto a escrita pode auxiliar as pessoas, principalmente os adolescentes, ainda tão cheios de dúvidas sobre os próprios sentimentos e o lugar que ocupam no mundo. 

“Por meio da escrita, organizamos nossos pensamentos e, a partir disso, somos capazes de entender melhor o que nos incomoda, acalenta, inspira, por exemplo, tornando-nos mais aptos a caminhar, com mais segurança, nessa estrada chamada Vida”, diz. 

Ao lerem livros de temas diversos, publicados em épocas e contextos diferentes, os adolescentes são convidados a mergulhar nas histórias e acompanhar a trajetória dos personagens, bem como as estratégias dos autores.

“Ler sobre o outro proporciona aprendizado sobre nós mesmos. E essa é uma oportunidade incrível de crescimento! O nome do projeto é a junção de outros dois, já conhecidos da maioria das pessoas: o filme “Escritores da liberdade” e a estrada que perpassa o livro “O mágico de Oz”. Com as reflexões proporcionadas por essas duas obras, confirmamos que a escrita liberta e aproxima e que a “estrada de tijolos amarelos” – caminho percorrido pela personagem Dorothy em “O mágico de Oz” – pode ser entendida como uma metáfora da vida. Sabemos onde essa estrada se inicia, mas só a percorrendo é que vamos descobrir aonde ela nos levará. E nada melhor do que trilhar essa estrada com passos mais seguros através do aprendizado que cada leitura proporciona. Daí para a escrita, é um pulo! Por que não escrever também? Assim, os adolescentes – público principal do projeto – são convidados a colocarem suas ideias no papel e a compartilharem com outras pessoas, publicando um livro”, conta. 

A maioria dos livros publicados tem como autores alunas e alunos de turmas de Literatura do colégio onde leciona. E, também, adultos.  

A professora conta que os livros têm lançamento oficial, muitos deles com a presença de representantes da Academia Montesclarense de Letras, familiares, amigos e a comunidade, mostrando o quanto a leitura ainda encanta e enriquece as pessoas. 

“Interessante ressaltar que, em dois desses lançamentos, as jovens autoras doaram a renda da venda dos livros para projetos sociais. Afinal, se faz bem para nós, por que não ajudar, de alguma maneira, outras pessoas?”, indaga. 

Noêmia conta que um dos pontos que mais chama a atenção dela é a crença de que o adolescente hoje não lê. 

“Engano! Ele lê e muito! Entretanto, é importante analisar o que esse adolescente lê, qual o nível de compreensão e de criticidade nessas leituras. Diante disso, por que não apresentar outras opções no rico cardápio que a literatura oferece e ensinar a esse adolescente que é possível experimentar outros autores e seus sabores? Costumo dizer que há livros como os sanduíches no combo com refrigerante e batata frita. Ou seja, para consumo rápido. Da mesma forma, há livros que são mais sofisticados, que permitem ao leitor desenvolver outras habilidades importantes em sua formação. E cabe à escola apresentar aos alunos a literatura em suas variadas possibilidades. Assim, estará garantindo o direito à literatura, tão defendido pelo pesquisador e crítico literário Antonio Candido”, finaliza.

PARA SABER MAIS

Qual o objetivo do projeto?
Auxiliar pessoas, principalmente os jovens, a acreditarem no próprio potencial e a publicarem seus textos. Há quem tenha textos engavetados, achando que não são dignos de serem lidos por outras pessoas! Assim, o projeto auxilia na escrita, organização do texto, adequação ao público-alvo e revisão final. Já formatado em livro, as famílias entram em contato com uma editora para os registros e a impressão. Os livros tiveram lançamento oficial, muitos deles com a presença de representantes da Academia Montesclarense de Letras, familiares, amigos e a comunidade, mostrando o quanto a leitura ainda encanta e enriquece as pessoas. Interessante ressaltar que, em dois desses lançamentos, as jovens autoras doaram a renda da venda dos livros para projetos sociais. Afinal, se faz bem para nós, por que não ajudar, de alguma maneira, outras pessoas?

Ao todo são quantos livros publicados? Em linhas gerais, quais os temas tratados nesses livros e a que gêneros eles pertencem?

Já temos 15 livros publicados, de adolescentes e adultos. Os gêneros variam desde coletâneas de contos, crônicas, relatos, poemas a romances. Os temas tratados abordam vivências cotidianas, com suas angústias e descobertas, mistério, amor e fé. 

Atualmente você trabalha com formação docente na área de literatura. Quais são os maiores desafios?
Um dos pontos que me chama a atenção nos cursos de capacitação e formação docente que ministro é a crença de que o adolescente hoje não lê. Engano! Ele lê e muito! Entretanto, é importante analisar o que esse adolescente lê, qual o nível de compreensão e de criticidade nessas leituras. Diante disso, por que não apresentar outras opções no rico cardápio que a literatura oferece e ensinar a esse adolescente que é possível experimentar outros autores e seus sabores? Costumo dizer que há livros como os sanduíches no combo com refrigerante e batata frita. Ou seja, para consumo rápido. Da mesma forma, há livros que são mais sofisticados, que permitem ao leitor desenvolver outras habilidades importantes em sua formação. E cabe à escola apresentar aos alunos a literatura em suas variadas possibilidades. Assim, estará garantindo-lhes o direito à literatura, tão defendido pelo pesquisador e crítico literário Antonio Candido. A partir dessa conversa inicial com os docentes, socializando as angústias, faço um convite para começarem uma nova história, buscando (re)acender neles o brilho nos olhos a fim de que sejam luz na vida dos alunos. Atingiremos todos? Não. Todavia, quem for tocado pela literatura terá oportunidade de ampliar o próprio horizonte. Outra situação que percebo é a falta de conhecimento técnico, mesmo básico, sobre o que é literatura e o que é ser professor de literatura. É preciso conhecer seu objeto de trabalho e os documentos que regem a educação. Nos cursos de formação trabalhamos, além desses pontos, técnicas de ensino, dinâmicas, como escolher os livros que serão ofertados aos alunos, bem como avaliar o trabalho desenvolvido, propondo intervenções e, o mais importante, como (re)acender o brilho nos olhos de professores e alunos. Apesar de todos os desafios, ser professor é uma honra e uma missão. As palavras de um professor ecoam na vida dos alunos, mesmo ainda muitos anos depois. Não há como ignorar isso!

Qual a sua percepção sobre a forma como a literatura é trabalhada na Educação Básica? Você acha que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC, 2018) favorece o trabalho com a literatura na Educação Básica?

Infelizmente, vejo algumas práticas de trabalho mais voltadas a quase uma recreação do que, verdadeiramente, a uma aula de literatura. A BNCC traz um norte para o trabalho, até mesmo por morarmos em um país de dimensões continentais. É preciso que o professor conheça os documentos que regem a educação e a BNCC é um deles. Somente conhecendo as orientações e propostas dos documentos, bem como o que aclaram os pesquisadores na área seremos capazes de traçar caminhos mais adequados às aulas. Não se trata de uma receita pronta nem mesmo palatável para todos. É importante que o professor saiba o caminho linguístico que o aluno percorre desde a alfabetização, os níveis de leitura e os tipos de leitor. A BNCC aponta alguns olhares para a formação do leitor literário. Literatura não deve ser um componente curricular estanque. Ao contrário, literatura fala de vida. Assim, deve ser trabalhada com vida e preparando o aluno para a vida! 

Que conselhos você daria a quem pretende se envolver com a área de literatura - tanto no que diz respeito à docência na Educação Básica quanto ao campo de pesquisas acadêmicas?
O primeiro conselho que eu deixo a quem pretende se envolver com a área de literatura e suas possibilidades de atuação é despir-se de preconceitos em relação ao objeto livro. Talvez alguns não tenham uma memória afetiva favorável, seja porque não foram apresentados de maneira convidativa a um livro ou porque não leram livros adequados a seu nível de leitura, por exemplo. Em segundo lugar, é importante despertar o leitor em si mesmo. Como conquistar o outro para a literatura se nem a si mesmo você consegue convencer? Agora, já vencidos esses dois primeiros pontos, aconselho a procurar bons professores e pesquisadores, pessoas de referência na área para aprender com quem já está trilhando o caminho. Tanto a docência quanto as pesquisas acadêmicas oferecem muitas possibilidades e vale a pena investir nesse universo. Há muitos alunos apenas aguardando professores competentes e conscientes da importância de seu papel para serem conquistados pelo mundo da literatura, bem como há livros, talvez até esquecidos em alguma biblioteca, aguardando por pesquisadores para tirá-los desse anonimato. 

SOBRE NOÊMIA COUTINHO
É graduada em Letras com habilitação em Português/Inglês; pós-graduada em Linguística Aplicada ao Ensino de Português; mestra em Literatura Brasileira e está cursando disciplina isolada em Desenvolvimento Social, no Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Social da Universidade Estadual de Montes Claros (PPGDS/UNIMONTES).

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