Da Agência Minas
O Centro de Pesquisa e Extensão da Universidade Estadual de Minas Gerais (Cepead/Uemg) há dois anos estuda a implantação de softwares específicos para auxílio de pessoas portadoras de necessidades especiais. O objetivo principal é, sobretudo, fortalecer a auto-estima e devolver a eles parte de sua autonomia pela facilitação da comunicação.
O passo inicial de cada procedimento é conhecer a história de vida do assistido e suas principais dificuldades no processo comunicativo. A partir dessa análise são indicadas soluções para facilitar a expressividade. A estudante Camila, 11 anos, que mora no Bairro Taquaril, e o coronel aposentado do exército, Hélio Vilela, 69, morador do Bairro São Bento, têm uma extrema dificuldade de comunicação e já recebem assistência do Centro de Pesquisa.
Quando tinha apenas quatro meses de idade, uma inflamação no encéfalo que evoluiu para um quadro de paralisia cerebral, deixou Camila impossibilitada de mover-se e expressar-se com desenvoltura, embora seja aluna regular de uma escola pública na região. Já o coronel Vilela teve diagnosticada, há quase um ano, uma esclerose lateral amiotrófica, patologia que provoca a degeneração acelerada dos neurônios motores da medula espinhal e da parte inferior do cérebro, responsáveis pelos movimentos musculares voluntários do corpo, o que resulta em uma paralisia gradual. No estágio atual, já quase não fala e apresenta dificuldades de movimentação nos membros superiores.
Consciente de sua situação, Vilela não permitiu que o temor o estagnasse: pretende, em breve, finalizar sua biografia e garantir, desse modo, sua locomoção por tempo e espaço. Os pais de Camila, por sua vez, pretendem legar à filha o melhor aproveitamento intelectual e cognitivo possíveis, a despeito da fragilidade socioeconômica em que a família se encontra. Em ambas as situações, Camila e Hélio não estão sozinhos.
No caso de Vilela, uma simples cartolina escrita com expressões cotidianas, as quais ele indica com os dedos, torna os cuidados dos acompanhantes bem mais suaves. “Facilita demais a interação”, indica Regina Maria Padilha, esposa e principal cuidadora de Vilela. “O procedimento permite um auxílio bem mais imediato”, afirma.
Camila, por sua vez, recebeu a doação de um computador, adaptado com um acionador que realiza as funções de mouse e teclado, específicas para suas atuais condições motoras. Para decodificar os comandos enviados pela estudante, foi instalado o programa Comunique, que é open source, ou seja, possui o código aberto para cópia, livre modificação e distribuição.
CAPACITAÇÃO
A legislação infraconstitucional (Lei Federal nº 10.172/2001) garante que alunos com deficiência sejam integrados a quaisquer escolas dos ensinos básico e médio. O maior obstáculo encontrado nesse procedimento é o despreparo dos professores para lidar com essa nova realidade. Nesse sentido, o Cepead mantém pesquisa sobre o uso de softwares de acessibilidade para deficiências e determinadas síndromes. Para aproximar os professores do uso dessas ferramentas, criou diversos materiais impressos e manuais explicativos no formato de histórias em quadrinhos.
Testados por dois grupos de professores, 80 em Contagem e outro de doze, a distância, a receptividade tem sido bastante positiva, por aproximar os professores das tecnologias, e em especial, do computador. “Alguns professores ainda têm resistência à tecnologia”, afirma a professora e coordenadora do órgão, Luciana Zenha. “Quando a comunidade envolvida com deficiência descobre uma saída para expressão e para leitura, descobrem o sentido da tecnologia”.
Estagiária do Cepead, Maria Mônica Rodrigues, que é deficiente visual, ainda questiona: “Lançaram a inclusão, mas não deram a oportunidade de os professores se formarem adequadamente.” Para preencher essa lacuna, aguarda o credenciamento pelo Ministério da Educação do primeiro curso de pós-graduação à distância, em nível stricto sensu, oferecido pela Uemg, intitulada Necessidades Educacionais Especiais: Saberes e Práticas de Inclusão Social. O curso será promovido pelo Núcleo de Ensino a Distância da Uemg (Nead), com material de apoio baseado nas descobertas dos projetos do Cepead, e visará a capacitação de educadores à nova realidade de inclusão exigida por Lei. Segundo informações do Nead, a expectativa é de que o curso esteja disponível até junho de 2009.
DOAÇÃO
Para possibilitar que outros estudantes obtenham as mesmas facilidades da aluna Camila, o Cepead criou uma campanha de doação de computadores. Segundo Luciana, os equipamentos doados serão adaptados aos alunos, que o receberão com os programas open source relacionados já instalados e terão acompanhamento periódico de representantes do Centro. O objetivo é que muitas crianças com deficiência possam, pela mediação das Tecnologias Assistidas, se expressar, aprender e, inclusive, ensinar.
Para realizar doações é preciso entrar em contato com o Cepead pelo telefone (31) 3224 8183.