Por decisão do ministério da Educação, a partir de 2008, somente as Apaes que já estiverem autorizadas continuarão a oferecer o ensino básico e fundamental. Os estudantes com necessidades especiais deverão freqüentar as aulas nas escolas públicas
Jerúsia Arruda
Reporter
jerusia@onorte.net
Muito se tem discutido sobre a inclusão de alunos com necessidades especiais na rede pública e a decisao do ministério da Educação de reduzir o trabalho de entidades como APAE - Associação dos Pais e Amigos de Excepcionais ao tratamento clínico, deixando o ensino básico e fundamental para as escolas regulares da rede pública, a partir de 2008, tem gerado polêmica.
Em Minas Gerais, as unidades da APAE atendem 76.246 pessoas com necessidades especiais e, em Montes Claros, segundo a diretora Maria Saturnina Saraiva Brasil, a entidade atende atualmente 368 alunos na sala de recurso, sendo que 76 participam de atividades pedagógicas nas escolas regulares.
Única escola estadual do Norte de Minas que atende exclusivamente a crianças com necessidades especiais, escola estadual de educação especial Abdias Dias de Souza atende alunos na faixa etária que vai de 6 a 40 anos
(foto: WILSON MEDEIROS)
- De acordo com as informações da Federação das Apaes, as escolas que já são autorizadas vão continuar oferecendo a educação básica e fundamental, como é o caso de nossa unidade em Montes Claros. De qualquer forma, as escolas regulares ainda estão se estruturando para receber os alunos e o apoio das Apaes é fundamental para que as crianças continuem recebendo atendimento especializado – explica a diretora e diz que a escola da Apae em Montes Calros oferece desde a estimulação precoce até o ensino fundamental, além de preparar as crianças para o ingresso na escola regular.
Alda Márcia Cruz de Brito, do serviço de apoio à inclusão da superintendencia regional de Montes Claros diz que o atendimento especial de escolarização está sendo realizado no contra-turno da aulas, em escolas especializadas.
- Esse atendimento inclui salas de recursos, oficinas pedagógicas, entre outros serviços, que ajudam a criança a se desenvolver, reduzindo as diferenças motoras. Nessas escolas, o acompanhamento clínico é aliado à educação e o professor recebe treinamento para trabalhar com o aluno. Em Montes Claros, as escolas conveniadas que disponibilizam de serviço de saúde e estão autorizadas a exercer o ensino pedagógico, como é o caso da Apae, podem oferecer o atendimento clínico, mas também continuam com o serviço de educação – explica Alda.
CONSCIENTIZAÇÃO
Célia Maria Prates Costa, diretora da escola estadual de educação especial Abdias Dias de Souza, única escola estadual do Norte de Minas que atende exclusivamente a crianças com necessidades especiais, diz que o trabalho de inclusão é um processo lento e depende muito da sociedade.
- As pessoas precisam estar preparadas para entender e atender ao direito do ser humano como um todo. A inclusão é um processo difícil, não só a inclusão na educação, mas, principalmente a inclusão social. A família tem que estar junto, a escola tem que mudar de atitude e criar um ambiente positivo e solidário necessário à aprendizagem de todos; é preciso criatividade para lidar com as situações novas, que surgem cotidianamente e o acolhimento dos alunos pelo professor precisa ser efetivo – argumenta a diretora.
Célia ressalta que, para que a inclusão da criança com necessidades especiais na escola realmente aconteça, é preciso mais do que colocar uma cadeira na sala de aula, mas que haja uma mudança cultural e derrubar as barreiras, arquitetônicas e sociais, para que a criança possa realmente se sentir parte do todo.
- É preciso capacitar professores e funcionários e acompanhar de perto o desenvolvimento da criança para que se tenha um resultado positivo. Desde 2004 estamos encaminhando alunos, que antes freqüentavam apenas a escola Abdias, para as escolas comuns e, a cada ano, o número de alunos encaminhados para integrar turmas de outras instituições tem aumentado. Esses alunos são avaliados por Conselhos de Classes em conformidade com seus familiares. Temos ainda uma equipe de itinerância que, anualmente, faz o acompanhamento e todos têm apresentado um bom aproveitamento, alguns inclusive com destaque em relação aos colegas de classe. Ao mesmo tempo, recebemos alunos especiais, que participam de atividades diferentes das de sua escola de origem, de forma que possam ter um acompanhamento especializado, facilitando seu desempenho e assimilação no processo ensino-aprendizagem. Estamos conscientes de que o resultado não será a toque de caixa, mas a tendência é que cada vez mais as pessoas aprendam a lidar com essas diferenças, inclusive no convívio familiar, de forma que todos possam dividir o mesmo espaço em pé de igualdade – completa Célia Prates.