Paula Machado
Repórter
O sistema ortográfico adotado atualmente no Brasil é o aprovado pela Academia Brasileira de Letras, na sessão de 12 de agosto de 1943, e simplificado pela Lei nº. 5.765, de 18 de dezembro de 1971, quando foram abolidos: O trema nos hiatos átonos; O acento circunflexo diferencial nas letras “e” e “o” da sílaba tônica de certas palavras, usado para distingui-las de seus respectivos pares homógrafos, que têm as letras “e” e “o” abertas (com exceção de pôde, que continua com acento por oposição a pode); O acento circunflexo e o acento grave com que se assinalavam as sílabas subtônica das palavras derivadas em que ocorre o sufixo - mente ou sufixos iniciados por z. Em decorrência disso, palavras como saudade, cautela, saudoso deixaram de receber trema; e palavras como acordo (subst.), almoço (subst.), governo (subst.), cafezinho, sozinha, propriamente, cortesmente também perderam o acento gráfico. Curioso notar que a simplificação ortográfica de 1971 só foi adotada em Portugal em 1973.
A escrita das palavras passará por uma transformação
visando a padronização do sistema ortográfico
O projeto do Novo Acordo Ortográfico, oficialmente chamado Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, visa mais à padronização do que à simplificação do sistema ortográfico em vigor até 1993. Seu objetivo é padronizar alguns poucos pontos discordantes, como o emprego do hífen, algumas regras de acentuação e a queda de consoantes mudas (o que afeta diretamente a grafia lusitana de algumas palavras, como projecto, facto, objectivo, actual, etc.).
DINAMISMO
Para o jornalista e coordenador do curso de Comunicação Social do Crecih Funorte, Elpídio Rocha, a língua portuguesa é um processo dinâmico, que passa por mudanças e transformações necessárias para acompanhar as próprias mudanças que acontecem na sociedade e na vida de todos nós.
- Acredito que o processo de readequação ortográfica atende a um princípio de “otimização” do português eliminando elementos, que já perderam a sua função na escrita e na fala das pessoas - o trema, por exemplo. O que pode assustar é o processo, a adaptação exigida pelas mudanças - e todo processo que admite o novo não deixa de “assustar” um pouco todos nós – afirma.
Segundo ele, a partir do momento em que as mudanças forem implementadas e o prazo de transformação for estabelecido, o processo de mudança será efetivado. Quanto às questões de escrita e leitura só o tempo poderá responder plenamente as conseqüências das novas regras e normas.
DIVISÃO
A professora de português da faculdade Crecih Funorte, Patrícia Braga, diz que as mudanças que ocorrerão na Língua Portuguesa a partir de 2009. Mas nos países que falam a língua portuguesa as opiniões são divididas, o que caracteriza, inclusive, qualquer mudança e, alíás, nada mais salutar que assim se faça, pois salvaguarda a democracia na medida em que ouvimos argumentos contrários ao nosso.
- A meu ver, tais mudanças seriam desnecessárias, haja vista que menos de 05% da escrita da língua será alterado, o que não justifica tamanho sacrifício em várias áreas. É claro que essa união ortográfica facilitará acordos, emissão de documentos etc. Mas acho muito desgastante o trabalho que se terá por tão pouco.
De acordo com ela, todos os países terão que se adaptar a novas regras gramaticais e a novas escritas, lembrando que a pronúncia continuará a mesma.
INTERCÂMBIO
Os que defendem as alterações propostas argumentam que a padronização ortográfica virá estimular o intercâmbio cultural entre Portugal e Brasil, ou seja, a leitura de um livro português ficará mais acessível ao leitor brasileiro e vice-versa. Os que não vêem maior importância nas alterações propostas argumentam a dificuldade que um brasileiro encontra em ler um livro português (e vice-versa) não está na variação ortográfica ou sintática, e sim na significação das palavras - que configura uma questão semântica e não ortográfica.
- Acho que essas mudanças, agora só vão encher a cabeça das pessoas e confundi-las ainda mais. Sabemos que a gramática portuguesa, não é das mais fáceis, cheia de coisinhas, e regras demais. Para os estudantes pode ser que melhore agora, para quem já saiu da escola é mais complicado, mesmo porque não há como assimilar essas mudanças do dia para noite – afirma a estudante de jornalismo, Hayslanne Oliveira.
OFICIAL
Segundo o site portal das letras, os países da República Popular de Angola, República Federativa do Brasil, República de Cabo Verde, República da Guiné-Bissau, República de Moçambique, República Portuguesa, República Democrática de São Tomé e Príncipe têm o português como língua oficial e, são chamados de lusófonos. E, apesar da incorporação de vocábulos nativos, de certas particularidades de sintaxe, pronúncia e grafia, a língua portuguesa mantém uma unidade. A unificação dos sistemas ortográficos dos países lusófonos não é tarefa fácil, pois as divergências de pronúncia entre esses países acabam determinando grafias diferentes para as mesmas palavras, tanto que várias tentativas para unificar os sistemas ortográficos desses países fracassaram: ou porque não foram aceitas no Brasil, ou porque encontraram reações por parte dos portugueses.
A primeira tentativa de uniformizar a ortografia da língua portuguesa data de 1911, quando uma comissão de filósofos lusitanos propôs uma reforma ortográfica e o governo português a adotou imediatamente. No Brasil, essa reforma gerou muitas discussões, mas acabou não sendo adotada.