Fabíola Cangussu
Repórter
No dia do centenário de morte do maior escritor brasileiro, Joaquim Maria Machado de Assis, 29 setembro, estudantes discutem em sala de aula a importância do autor para a cultura brasileira e qual o principal fator que faz com que suas obras continuem encantando os jovens, mesmo depois de um século de sua morte.
A professora de literatura do colégio Indyu, Erenice Carvalho diz que há mais de 20 anos começou a estudar Machado de Assis, e até o momento continua descobrindo a genialidade do autor.
- A primeira observação a ser feita sobre Machado é o fato de ele ser fundamental, tanto a respeito da língua quanto da técnica da ficção. É um autor que prima pela língua portuguesa, sabendo usar com maestria o nosso idioma, explorando todas as possibilidades lingüísticas. Esse gênio apresentou em seu tempo ingredientes que criam o paradigma da literatura: Perfeito, que distrai, incomoda, ensina e encanta! – explica a professora.
Erenice Carvalho, professora do colégio Indyu levou
Machado de Assis para a sala de aula
(foto: FABÍOLA CANGUSSU)
Outro fator que coloca esse escritor como o maior de todos os tempos, segundo os amantes da literatura, é a capacidade de se manter atual, mesmo um século após sua morte.
- Os textos de Assis são atualíssimos. Podemos apenas mudar os cenários externos, pois na narrativa a descrição do autor, contextualiza seu século, porém, no que se refere à interiorização de seus personagens e nas entrelinhas de seus discursos. Machado mergulha nos problemas que constituem a humanidade, e transforma a alma humana numa incrível máquina do tempo. Esse autor consegue falar sobre problemas que abalam nossa juventude, conseguindo ser em seus contos o grande jornalista da atualidade – enfatiza a professora.
Erenice afirma que Machado de Assis inventou a interatividade da literatura, conseguindo conduzir o leitor por todos os caminhos.
- Machado conversa com o leitor de forma direta, com capacidade de conhecer as linhas de pensamento que provocaram através de seus textos. A cada instante encontramos links que estão o tempo todo nos levando a conhecer um universo e, questionamentos novos em cada página desvendada. Neste momento estamos trabalhando em sala de aula O Espelho, que faz uma discussão profunda sobre a alma humana. O próximo texto a ser trabalhado será O Alienista – diz a professora.
O estudante Anderson Fabiano Soares, de 16 anos, afirma que Machado serve de conselheiro.
- Em suas obras, Machado discute temas do nosso dia-a-dia. E muitas vezes vira nosso grande conselheiro, porque discute e entende a alma humana, como o que acontece no conto O Espelho, em que levanta questionamentos sobre a necessidade das pessoas de seguirem padrões pré-existentes na sociedade - analisa Anderson.
A estudante de 16 anos, Kamila Fonseca, fala que ao ler Machado, as pessoas têm a possibilidade de entender tanto dos problemas sociais do passado, quanto da atualidade.
- Nos enxergamos em cada página escrita pelo autor. Ele tem o poder de não se perder no tempo. Não há como negar a facilidade que ele tem de abordar temas atuais com tanta riqueza de detalhes – garante Kamila.
Segundo o estudante de 15 anos, Pedro Souza, Machado é o Miquelângelo da literatura, porque conseguiu com sua arte ir além das páginas escritas.
- Além de ser esse gênio que encanta pessoas de todas as idades e culturas, Machado conseguiu influenciar outras áreas como a psicologia, a sociologia e antropologia. Sua visão questionadora serve como fonte de pesquisa que traça o perfil de nossa história- ressalta Pedro.
Um outro fator que conquista a admiração dos jovens é o fato de Assis, filho de descendente de escravo, e de uma simples lavadeira, conseguir desde muito novo se transformar no maior intelectual brasileiro.
- Ele foi praticamente autodidata. Essa sede pelo saber nos ensina que devemos buscar muito mais do que já temos. O conhecimento depende do esforço individual de cada pessoa. Essa é mais uma das inúmeras lições deixados por Machado – conclui a estudande de 15 anos, Seyara Ferreira.
MACHADO DE ASSIS
Filho do mulato Francisco José de Assis, pintor de paredes e descendente de escravos alforriados, e de Maria Leopoldina Machado, uma lavadeira portuguesa da Ilha de São Miguel. Machado de Assis, que era canhoto, passou a infância na chácara de D. Maria José Barroso Pereira, viúva do senador Bento Barroso Pereira, na Ladeira Nova do Livramento, (como identificou Michel Massa), onde sua família morava como agregada, no Rio de Janeiro. De saúde frágil, epilético, gago, sabe-se pouco de sua infância e início da juventude. Ficou órfão de mãe muito cedo e também perdeu a irmã mais nova. Não freqüentou escola regular, mas, em 1851, com a morte do pai, sua madrasta Maria Inês, à época morando no bairro em São Cristóvão, emprega-se como doceira num colégio do bairro, e Machadinho, como era chamado, torna-se vendedor de doces. No colégio tem contato com professores e alunos e é provável que tenha assistido às aulas quando não estava trabalhando.
Mesmo sem ter acesso a cursos regulares, empenhou-se em aprender e se tornou um dos maiores intelectuais do país, ainda muito jovem. Em São Cristóvão, conheceu a senhora francesa Madamme Gallot, proprietária de uma padaria, cujo forneiro lhe deu as primeiras lições de francês, que Machado acabou por falar fluentemente, tendo traduzido o romance Os Trabalhadores do Mar, de Victor Hugo, na juventude.
Também aprendeu inglês, chegando a traduzir poemas deste idioma, como O Corvo, de Edgar Allan Poe. Posteriormente, estudou alemão, sempre como autodidata.
Foi um romancista, contista, poeta e teatrólogo brasileiro, considerado um dos mais importantes nomes da literatura desse país e identificado, pelo crítico Harold Bloom, como o maior escritor afro-descendente de todos os tempos.
Sua vasta obra inclui também crítica literária. É considerado um dos criadores da crônica no país, além de ser importante tradutor, vertendo para o português obras como Os Trabalhadores do Mar, de Victor Hugo e o poema O Corvo, de Edgar Allan Poe. Foi também um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras e seu primeiro presidente, também chamada de Casa de Machado de Assis.
PRINCIPAIS ROMANCES
Ressurreição, 1872
A mão e a luva, 1874
Helena, 1876
Iaiá Garcia, 1878
Memórias Póstumas de Brás Cubas, 1881
Casa Velha, 1885
Quincas Borba, 1891
Dom Casmurro, 1899
Esaú e Jacó, 1904
Memorial de Aires, 1908
