Jerúsia Arruda
Repórter
jerusia@onorte.net
Todo norte-mineiro se entrega à nostalgia quando ouve canções que são uma verdadeira ode ao Velho Chico. E não há quem não renove amores com os encantos dos romances, fantasias, folclore e natureza, cantados com simplicidade e leveza ao som de um violão. Às vezes de dois. Irresistível é essa vontade de ir de trem pra Montes Claros.
Charles Boavista e Carlos Maia: dupla comemora um ano de trabalho
com apresentação especial nesta sexta-feira (Foto: Dirceu Santos)
E, para completar o encanto, estrelas de outros sertões vêm brilhar nesse universo, tornando a noite ainda mais iluminada. Por ele passam canções de Sá e Guarabyra, Caetano Veloso, Banda de Pau e Corda, Zé Ramalho, que se juntam às estrelas de cá: Agreste e... Raízes. Essa constelação de acordes e amores é regida pela dupla Carlos Maia e Charles Boavista, cujo brilho já deixa seu rastro há exatos doze meses, comemorados hoje.
O aniversário da dupla que nasceu meio por acaso e acabou dando mais do que certo será marcado por um show com velhas e novas canções, realizado em um local cuja música norte-mineira é o tom maior, a presença mais forte: o Curralzinho do Boi, dirigido pelo não menos talentoso Pedro Boi.
CHARLES BOAVISTA
A pressão dos dissabores peculiares da arte de cantar quase fez Charles desistir. Desde que deixou Montes Claros, no final da década de 1960, para criar o Grupo Raízes em São Paulo, com direito a uma versão belo-horizontina nos anos 1980, até retornar ao berço natal, são muitas as dificuldades encontradas pelo artista, o espaço de trabalho é restrito, assim como o pão de cada dia que a labuta não dá conta de garantir.
Soma-se a tudo isso a falta de investimento na cultura por parte do governo que deixa muitos sonhos à beira do caminho, à míngua. Mas ele é o mestre, autor de grandes sucessos que ampliaram as fronteiras de Montes Claros, nacionalizando seu nome. Jamais conseguirá se olvidar.
CARLOS MAIA
Com jeito de menino, um constante sorriso estampado no rosto, o violão sempre empunhado como se fosse uma extensão de seu corpo, Maia, depois de andanças por São Paulo, Belo Horizonte e outros mundos, volta a Montes Claros para encontrar - como ele explica: por coincidência da vida, obra do destino ou, simplesmente, Deus – seu primeiro parceiro de cantorias, que deu um novo rumo ao seu trabalho.
A DUPLA
Maia diz que quando encontrou Charles ele havia perdido o gosto de cantar e estava a ponto de desistir da música. Depois de cantar juntos uma canção do repertório de Charles, constataram ser possível ir além daquela experiência, que poderiam continuar trabalhando em dupla. Foi um estímulo para que Charles voltasse a alimentar os sonhos, gênese para a alma artista.
Desde então Carlos Maia e Charles Boavista vêm compondo, cantando e tocando pela noite montes-clarense, com shows esporádicos pela região e capital mineira.
Maia conta que desde que formaram a dupla, uma legião de admiradores, em sua maioria jovens universitários, vem acompanhando seu trabalho.
- As pessoas gostam de ouvir coisas bonitas e por menos que a grande mídia toque esse tipo de música, as pessoas que gostam encontram um jeito de ouvir e conhecer. Nos nossos shows sempre tem o público que já nos conhece de mais tempo, que vem acompanhando nossa carreira ao longo dos anos, mas também tem a juventude, estudantes, universitários. Outro dia, uma garota até chorou de emoção quando cantamos De trem pra Montes Claros e ela ficou sabendo que Charles era o autor – conta Maia que diz que a música norte mineira sempre vai ter seu espaço porque as novas gerações aprenderam a apreciá-la.
PROJETOS
Com repertório selecionado, instrumentos afinados e garganta aprumada, a dupla entra em estúdio ainda neste mês para gravar um CD com as novas composições e releituras de alguns sucessos de Charles Boavista, em comemoração aos 150 anos de Montes Claros e, nos dias 8 e 9 de junho, um show no Centro Cultural Hermes de Paula será editado em DVD, com previsão para lançamento ainda neste ano.
Com projeto em andamento, intitulado De trem pra Montes Claros, que consiste em levar o show às praças públicas de cidades do Norte de Minas, a dupla aguarda aprovação do ministério da Cultura para que possam passar para a fase de execução.
Segundo Maia, mesmo que não consiga o beneficio do governo, o projeto será realizado em pelo menos dez cidades da região, gratuitamente, com encerramento em um teatro de Belo Horizonte.
Maia e Charles se apresentam hoje, a partir das 21 horas, no Curralzinho do Boi.