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Sexta-Feira,14 de Novembro

Exemplo de vida: Em palestra, o poeta, músico e educador Sivaldo Ribeiro dos Santos fala sobre inclusão social como alternativa para a humanização da escola

Jornal O Norte
Publicado em 19/11/2007 às 19:58.Atualizado em 15/11/2021 às 08:23.

Jerúsia Arruda


Repórter


jerusia@onorte.net



Sem dúvida, Sivaldo Ribeiro dos Santos tem muito a compartilhar: sua história é por si só, um exemplo de superação e serve de incentivo aos que porventura se sentirem desencorajados pelas vicissitudes e obstáculos do dia a dia. No próximo dia 30, o poeta, músico e educador compartilha de sua experiência de vida e fala sobre inclusão social, através da educação no projeto Palavras e Idéias, que acontece na escola estadual Armênio Veloso, no bairro de Lourdes.



A trajetória do eterno menino Sivaldo é uma constante busca e defesa da inclusão, sua e de seu próximo. Sivaldo nasceu em Galho da Ponte, zona rural de Januária, no Norte de Minas, em 7 de Outubro de 1968 - o primeiro de uma família de cinco irmãos, todos com deficiência visual.



- Tenho 5% de visão e todos os meus irmãos são deficientes visuais, vítimas de catarata congênita. Meus pais foram muito fortes, pois além de conviver com a pobreza extrema, souberam cuidar, com muito amor e humor, da grande cegolândia que é minha família, além de conviver com a perda de sete filhos. Com Painho e Mãinha, descobrimos que o sorriso pode ser remédio contra a fome – conta Sivaldo.



Aos 7 anos de idade, a pobreza levou sua família embora da roça e, ao lado de seu irmão Admilson Ribeiro, com o codinome Tico-Tico e Sabiá, cantava no mercado e na rodoviária de Januária, ganhando alguns trocados para ajudar no sustento da família.



- Realmente, a roça não nos oferecia nenhuma condição de vida. Mudamos para Januária, e mesmo morando em um barracão de lona preta, nas mangueiras, conseguíamos, com nossa música matuta, garantir comida para toda a família. Nossa infância foi, como qualquer outra, marcada por lágrimas e risos, perdas e ganhos – relembra.



Em 1976, com a ajuda do médico Alsir de Matos, a família Ribeiro foi encaminhada a Belo Horizonte para tratar da visão. Ficaram em um Abrigo Belo Horizonte, onde os meninos foram submetidos à cirurgia.



Sivaldo conta que em 1981, sem conseguir melhora na visão, voltaram para Januária.



- Foi aí que mudamos para Montes Claros, em 1983, perseguindo uma vida melhor – conta.



Em Montes Claros, Sivaldo e Admilson, então com o codinome Ribeiro e Ribeirinho, com 13 e 11 de idade, respectivamente, continuaram o trabalho iniciado em Januária, cantando em frente ao prédio do extinto BEMGE, no centro da cidade.



- Em 1984 nos matriculamos em uma sala de recurso. Foi uma festa! O contato com o lápis de cera, o ato de encostar o rosto no papel para tentar descobrir as palavrinhas ampliadas com pincel atômico, apesar da irritação nos olhos e no nariz, nos encantava de verdade – relembra Adimilson.



Em 1987, já na 3º série, Sivaldo relembra como descobriu o braille.



- Foi minha liberdade: fugi da escola e fui ler por conta própria. Eu varava noites lendo. O primeiro livro que li foi Do contrato social, de Jean Jacques Rousseau. Fiquei doido, mesmo sem entender direito o que ele dizia, até por não ter lido outras coisas antes. Depois li Das leis e outros escritos, de Cícero. Meu destino estava traçado. Eu ia fazer Filosofia ou Direito – relembra.



Depois de passar por um teste de sondagem no CESU, de ser submetido a um teste de seleção, Sivaldo se matriculou em um curso técnico em agropecuária no Núcleo de Ciências Agrárias da UFMG, mas não era o que queria fazer. Cursou supletivo do Ensino Médio, prestou vestibular para Filosofia na Unimontes e passou em 2º lugar.



- Como na época a Superintendência Regional de Ensino não havia liberado o resultado das provas de matemática, física, química e biologia, tive que ir a Belo Horizonte, para ser avaliado. Seis meses depois, acatando recurso da Universidade, um juiz suspendeu minha matrícula. Foi um momento muito complicado para mim – conta Sivaldo.



Depois de vencer muitas dificuldades, hoje, aos 39 anos, Sivaldo é graduado e pós-graduado em Filosofia.



Nos anos 90 participou do filme Outras Estórias, dirigido pelo cineasta e jornalista Pedro Bial, ao lado do conterrâneo o dramaturgo Aldo Pereira. Atuou como professor de Ciência da Religião pelo Colégio Marista São José, entre os anos de 2001 e 2006, e ao longo de sua trajetória tem se destacado por sua militância em diversos movimentos sociais, em especial os trabalhos voltados para melhoria das condições das pessoas com deficiência, como a Associação de Deficientes de Montes Claros e o Centro de Atendimento Pedagógico às Pessoas com Deficiência Visual- CAPS.



Atualmente, trabalha na secretaria municipal de Educação e preside várias comissões de projetos sociais, além de participar de projetos culturais e artísticos.



PALESTRA



É a segunda vez que Sivaldo participa do Palavras e Idéias – a primeira foi em abril de 2001, quando proferiu palestra sobre o tema Deficiência Visual X Deficiência Social. No próximo dia 30, o professor abordará o tema Inclusão social: Uma chance para a humanização da escola, quando fala sobre uma série de questões do cotidiano escolar, entre elas a diversidade racial, a inclusão de alunos com deficiência, o estudante da escola rural, a educação de jovens e adultos, o sistema de educação e o papel da escola na construção da Nação Brasileira.



O projeto Palavras e Idéias é uma realização da secretaria municipal de Cultura, através das Bibliotecas Públicas Municipais de Montes Claros, em parceria com a Universidade Estadual de Montes Claros, Rádio Unimontes FM – 101.1 e Rádio Itatiaia – 100,3 e neste ano acontece de forma itinerante, em homenagem ao sesquicentenário de Montes Claros.



A edição desse mês, será no dia 30 , às 19 horas, na escola estadual Armênio Veloso (Rua Volfrânio, 192, Bairro de Lourdes). A entrada é gratuita.



Mais informações pelo telefone: (38) 3229-3456 ou pelos endereços eletrônicos: biblioteca municipal@montesclaros.mg.gov.br/ e dedodeverso@yahoo.com.br.

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