Adilson Cardoso *
Nesta quarta-feira será realizada eleição para escolha da nova diretoria do DCE - Diretório Central dos Estudantes. Esta que é a entidade representativa de todos os estudantes de uma instituição de ensino superior, sejam eles de universidades, faculdades ou centros universitários. De acordo com dados históricos, estima-se que o primeiro diretório tenha sido criado na década de 30 pela USP. Daí em diante diversas tendências lideraram o movimento em todo o país, de extrema esquerda a direitas conservadoras.
Na Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), três chapas disputam o poder. Com visões diferenciadas, os acadêmicos buscam a conscientização dos colegas, com diretrizes pautadas na realidade da instituição e também naquelas promessas que lembram a política partidária, onde os próprios candidatos sabem que são inviáveis, mas sustentam nos discursos e panfletos em nome da persuasão do eleitorado.
A chapa 01 denomina-se As Luluzinhas. Que se rotulam como um grupo de pessoas em busca de uma consciência política, que só poderá ser conseguida através da mudança significativa na vida acadêmica dos estudantes (segundo elas). Que o seu objetivo é recuperar a autonomia do DCE, mantendo-o longe dos grupos políticos que se utilizam do espaço como rampa para pretensões pessoais e, ainda, que existem estudantes profissionais que, quando no poder, nada fazem para a comunidade. E dão ênfase à luta para que se amplie o espaço para as mulheres nas estâncias superiores da universidade.
Sara Leal, uma das componentes da chapa, fala que pelo simples fato de ser mulher, acha que as pessoas não dão a elas a mesma credibilidade que dão aos homens no campo da política, com aquele preconceito de que o sexo feminino não entende de política. De acordo com a estudante, as Luluzinhas vão surpreender nas urnas, pois vieram para acabar com o clube do Bolinha.
A chapa 02 vem com o lema Ousadia e atitude, usando o refrão da música dos Titãs: Comida, você tem sede de quê? você tem fome de quê?, falando aos acadêmicos que têm fome de justiça e sede de mudança, convocando-os a deixarem os jargões rotuladores de que são somente o futuro.
Pregando que não só o futuro, mas sobretudo o presente que emana toda a força e ousadia para a luta com vontade e atitude de mudar . O DCE não pode continuar como um mero emissor de carteirinhas estudantis, deve ser plural e objetivo. Daniel Dias é o candidato a presidente da chapa. Ele lembra que grande parte dos acadêmicos ainda vota por favor, sem um adequado conhecimento político e também a falta de busca para compreender o universo em que está inserido. A verdadeira importância deste pleito passa despercebido por essa parcela de graduandos.
André Ferreira, que também compõe a chapa 02, acrescenta que é preciso que haja uma mudança salutar no diretório dos estudantes, que a falta de credibilidade gera a desmotivação acadêmica. Como a primeira chapa, eles também acreditam que irão receber o respaldo da conscientização nas urnas, que foram claros o bastante para que todos entendessem que não são apenas mais um grupo de candidatos vazios, são de verdade, com ousadia e atitude.
A chapa 03 vem com a frase imperativa: A hora é agora!, fazendo um subtítulo com o refrão da canção Pra não dizer que não falei das flores, de Geraldo Vandré. Música esta que foi hino da resistência ao modelo de governo repressor nos anos de chumbo no Brasil. Perguntam como mudar a política estudantil e respondem que não existem receitas, que o único caminho é se dedicar a conscientizar os colegas, estimulando-os a lutar por melhorias da educação pública e das condições de vida. Que o DCE precisa ir aonde os estudantes estão, levando idéias de como se organizarem dentro dos cursos.
No panfleto deixam clara a crítica ao modelo de governo atual da entidade, dizendo: "Se a situação continuar como está, estarão todos condenados aos interesses pessoais dos partidos políticos". E terminam a explanação com parte da letra da música de protesto ao comodismo citada acima.
Maria Fernanda, do curso de Artes Visuais, integrante da chapa 03, reforça que a mudança tem que ser a bandeira maior do movimento, já que a insatisfação é explícita. Vê ainda com bons olhos a mudança de atitude da mulher acadêmica na disputa das eleições. Só lamenta o grupo das Luluzinhas parecer uma brincadeira, de acordo com ela, por deixar claro que é para acabar com o clube do Bolinha, o que foge um pouco do objetivo de transformação ideológica. A exemplo das duas outras chapas, Maria Fernanda é categórica:
- Acho que o acadêmico já escolheu quem são os melhores e nesta quarta-feira vai dar nós...
Enfim, três chapas que pregam mudanças em linguagens diferentes, que após a vitória nas urnas vão precisar de um minucioso trabalho de conscientização política, pois a esta altura, prestes a acontecerem as eleições, muitos estudantes não sabem nem o que significa DCE.
* Aprendiz de escritor