Ei, tem alguém aí? valoriza espírito questionador das crianças

Jornal O Norte
Publicado em 11/01/2008 às 11:40.Atualizado em 15/11/2021 às 07:22.

Fabíola Cangussu


Repórter



Quem falou que escrever para criança é esquecer o potencial intelectual do adulto escritor? Às vezes temos a impressão que as pessoas regrediram ao escrever para o público infantil. Como se para a criança entender a mensagem fosse preciso uma espécie de atrofiamento das idéias. Parecido com o que acontece quando uma pessoa resolve conversar com um idoso. Agem como se a capacidade de entender o mundo, de decidir seus caminhos ou mesmo de ir até a  padaria  fosse algo extraordinário. Chegando ao cúmulo de mencionarem frases surrealistas como :  Olha, hoje eu vou colocar aquele sapatinho na senhora ; Hoje o senhor vai assisti a esse filminho que eu escolhi ou Que gracinha! Foi a padaria sozinha? Não existe nada pior do que  subestimar a capacidade intelectual de uma pessoa, seja em qualquer fase da vida que essa se encontre. Jostein Gaarder  sabe a importância desse respeito, e tem competência para dissertar para qualquer público. Ele já demonstrou em outros títulos saber aproveitar as diversidades de cada universo. No infantil, Gaarder mergulhou na liberdade criativa das crianças e a usou como ingrediente na narrativa de Ei! tem alguém aí?



Muitos devem está se perguntando neste momento quem é Jostein Gaarder? Um nome de certa forma desconhecido para a maioria dos leitores. Porém se falarmos O Mundo de Sofia, a história muda um pouco, pois mesmo quem nunca leu, já pelo menos ouviu falar desse título. 



O autor nasceu em 1952, na Noruega. É formado em literatura, teologia e filosofia. Exerceu o magistério por mais de 10 anos. Talvez veio da experiência em sala de aula, a capacidade de falar de assuntos até então, considerados complexos com simplicidade e clareza. Estreou como escritor em 1986, tornando-se logo um dos maiores de seu país. Em 1991, conquistou o leitor internacional com O Mundo de Sofia, obra traduzida em 42 idiomas.



Ei! Tem alguém aí? São cartas de um tio, Joakim,  à Camila, sobrinha de oito anos, contando sobre uma aventura fantástica que viveu na mesma fase que se encontra a menina, esperando a chegada da mãe do hospital com o novo irmãozinho.



Poderia até ser considerada uma história simples. Porém, a genialidade de Jostein transforma a espera do novo, em algo tão mágico quanto a realidade de cada família, mas que no dia-a-dia não se observa.



O livro é dividido em oito capítulos O céu, O Jardim, A casa, O mar, O ovo, A montanha, A noite e A Cartola. 



Começa a historia com Joakim escrevendo à sobrinha e falando da promessa que fez de contar uma história a ela. Inicia o relato do encontro inusitado com Mika, um ser de outro planeta, que chega a  terra  e cai bem no jardim da casa de Joakim. O mais estranho, ele vive de cabeça para baixo.



Nos diálogos é possível perceber pelas interrogações e respostas, como o ser humano pode interagir e descobrir novas possibilidades.



Na casa, tudo é novidade para os novos amigos. Mika precisa se adaptar ao novo ambiente e, Joakim percebe em pequenas coisas, forma de ajudá-lo nesta missão.  Aos poucos vai se criando um contexto para introduzir a criança e o leitor em conceitos filosóficos e existencialistas.



Os questionamento de Mika, sedento de conhecimento, faz com que Carl Sagan, Darwin e Eisntein sejam citados a todo momento, através de suas teorias e estudos complexos, sem a pompa  e reverência que os acadêmicos exigem. De repente uma criança tem o poder de explicar esses gênios através do seu olhar. Apenas relatando a sua percepção de mundo.



No segundo momento do livro, que começa  em O ovo, é a vez de Mika contar sobre o seu mundo. E, fala sobre os sentidos e as necessidades deles.



As trocas de informações ajudam os dois a compreenderem seus mundos.



Sem dúvida, Ei! Tem alguém aí? testa os limites da imaginação infantil ao extremo. O narrador joga a sementinha da dúvida até sobre a veracidade da história, insinuando inclusive que tudo pode ser um sonho. Mas, certamente o objetivo ao final da leitura é conquistado. Desperta o senso de questionamento e ajuda a entender que muitas respostas estão dentro de cada pessoa.



Essa é uma dica de leitura para pais, filhos e professores. É um livro que merece ser lido sem cobranças, sem provas, sem questionamentos pré –fabricados. É um delicioso guia de exploração do universo que cerca a todos e que não se aprende a observá-lo e nem a questioná-lo. Ei! Tem alguém aí? Valoriza o sentimento questionador nato nas crianças, mas que se perde com o decorrer do tempo por não ser incentivado no processo de amadurecimento. Vale mudar essa realidade!



Para refletir



(...) Foram necessários milhares de milhões de anos para criar seres como nós. Tudo começou com alguns organismos bem simples no mar. E agora temos uma cabeça capaz de pensar e sonhar, lembrar e esquecer (...) A partir de algumas coisinhas minúsculas, surgiu uma compreensão de todas as coisas (...) 



Forte: Ei! Tem alguém aí? Jostein Gaarder, editora Companhia das Letrinhas

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