Os primeiros resultados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) de 2006, em que o Brasil aparece como um dos piores países em educação em ciências, foram divulgados na mesma época em que foi realizado o 6º encontro nacional da Abrapec - Associação Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências.
A Abrapec, espaço específico para reflexões, discussões e de divulgação sobre o ensino de Ciências, foi criada há apenas 10 anos e seus eventos e iniciativas têm crescido significativamente neste tempo. O caminho a ser percorrido é longo, o qual encontra nas desigualdades sociais um elemento que nos ajuda a melhor dimensionar o desafio que temos pela frente.
A manchete em que o Brasil aparece entre os piores na educação não pode ser lida desassociada com as notícias da permanência da desigualdade histórica, na qual se tem no país a coexistência de realidades de riqueza e de pobreza que expressam os extremos do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). As noticias também afirmam o descompasso entre a produção científica brasileira, bem colocada internacionalmente, e o desempenho dos estudantes no ensino médio.
Há toda uma carência de infra-estrutura, de laboratórios apropriados e de condições adequadas de formação e de trabalho para os professores. Estes resultados e a desigual realidade do país devem servir de alerta para a necessidade de um envolvimento ainda maior com o enfoque CTS - Ciência-Tecnologia-Sociedade no ensino de Ciências. Nesta perspectiva, afirma-se a necessidade de que os aspectos científico-tecnológicos sejam considerados sempre em relação com os aspectos sociais, destacam-se algumas experiências que se baseiam na obra de Paulo Freire com o objetivo de desenvolver uma versão brasileira dessa abordagem educacional.
É preciso avançar neste caminho, em que a partir da realidade brasileira e com o auxílio das idéias propostas por Freire se repense e planeje o ensino de Ciências. Situação em que se adota uma abordagem temática numa perspectiva interdisciplinar do trabalho pedagógico; e onde repensar o papel do educador no processo de ensino e aprendizagem e na formação de cidadão é um importante foco de atenção.
Nos resultados anteriores do Pisa, o Brasil ficou na última colocação em relação às habilidades de leitura e na penúltima no que se refere à Matemática. Estes resultados expressam a extensão do problema, o qual exige, por exemplo, uma revisão do processo de alfabetização no sistema educacional brasileiro.
Melhores resultados não serão vistos tão cedo, e é preciso que algumas das ações recentemente divulgadas no âmbito do MEC e do MCT sejam implementadas e monitoradas. Não há como fugir da necessidade de um contínuo e crescente aumento de recursos para a infra-estrutura e materiais para as escolas, museus e outros espaços de divulgação científica, além de maiores investimentos na remuneração e na formação de professores e de incentivos para o desenvolvimento de métodos e práticas educacionais específicas e socialmente contextualizadas para o ensino de Ciências.
