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Terça-Feira,26 de Novembro

Eduardo Lima: jornalista, radialista, cronista, poeta e montes-clarense

Jornal O Norte
22/03/2006 às 10:17.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:31

Jerúsia Arruda


Repórter


jerusia@onorte.net

Com humor aguçado, jeito de menino e uma voz impecável, o jornalista, radialista, cronista e poeta montes-clarense Eduardo Lima, lançou na última segunda-feira, 20, em Montes Claros, o cd Momentos e Pensares, uma coletânea de textos de autores consagrados como Vinícius de Moraes, Manoel Bandeira, Bertold Brecht, Dalai Lama, Thiago de Mello, Carlos Drummond de Andrade, Mário Quintana, Eduardo Alves Costa, Rui Barbosa, Madre Tereza de Calcutá, além de suas próprias criações, com destaque para o poema Dia dos Namorados, de sua autoria.

Com a participação dos músicos Célio Balona, Nino Antunes e Ladston do Nascimento, que executam trilhas inéditas, produção da Bacia Da Zalma Artes e Ofícios e a voz de Eduardo Lima, o cd teve seu lançamento no início de dezembro do ano passado, em Belo Horizonte, vendendo 7000 cópias até o Natal.

Em Montes Claros, o escritor foi recebido por amigos de infância, alunos do curso de Comunicação da Funorte - que aproveitaram a oportunidade para fazer laboratório de telejornalismo –, e colegas de profissão, inclusive de outras cidades, como o jornalista Jota Dias, de Janaúba, que esteve presente ao evento especialmente para rever o companheiro de rádio, além dos montes-clarenses Nascimento Silva, Leandro Aguiar e muitos outros.

A abertura da programação foi feita pelo cantor e compositor Pablo Silêncio - filho de Eduardo, e do músico Franklin, que apresentaram músicas autorais e sucessos consagrados de outros artistas do cenário pop. No bate-papo, presentes à mesa, o jornalista e dramaturgo Reginauro Silva e o poeta e escritor, Georgino Jr.

Em entrevista ao jornal O Norte e em sua preleção, Eduardo Lima fala de sua infância lúdica e peralta, de suas experiências profissionais e revela estar vivendo um momento de plenitude, profissional e pessoal.

CD

Um cd era uma dívida natural a minha própria história. É coerente. Estou, há 36 anos, no rádio, escrevi três livros, então era hora de fazer um cd. Escolhi textos consagrados de grandes inteligências da humanidade para registrar minha voz. Seria no mínimo pedantismo fazer um cd autoral. Seria vaidade demais. Mas para surpresa minha, o texto mais reivindicado é um de minha autoria, Dia dos Namorados, que é um romântico, babão, e as pessoas adoram e têm comprado o cd muito por conta dele. Gravei um texto de Bertold Brecht, mas as pessoas compram o cd por causa de um texto meu. Quer dizer, é um absurdo. Se eu gravo um disco todo autoral, correria o risco primeiro de vender nada e ainda de ser taxado de vaidoso.

CIDADÃO MONTESCLARENSE

Tenho muito orgulho de ser daqui. O fato de eu ser de Montes Claros me ensina minimamente a ser calango, ou seja, não tenho medo de sol, eventualmente posso mudar de pele, se me cortam o rabo, ele nasce de novo.

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Tenho muito orgulho de ser daqui. O fato de eu ser de Montes Claros me ensina minimamente a ser calango, ou seja, não tenho medo de sol, eventualmente posso mudar de pele, se me cortam o rabo ele nasce de novo.

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150 ANOS

As lembranças me mantêm em Montes Claros. Lembro, embora fosse pequeno, de quando a cidade fez cem anos. É uma alegria vê-la crescendo, as pessoas interessadas, a cada dia mais preparadas. Aos 150 anos, esta é uma cidade essencialmente artística, de pessoas sofridas, mas nem por isso resignadas; de pessoas que aceitam o próprio desígnio, contudo, não aceitam com dolência, reagem a isso.

CATIBUM

A origem do nome é o som da pedra caindo na água. Era um grupo de jovens politicamente anárquicos que queriam mudar o mundo, composto por pessoas como Márcia Sá, Eduardo Brasil, Tadeu Leite, Reginauro Silva, Georgino Júnior, Luís Carlos Novais, Martha Ulhoa, Fernando Rubinger, e vários outros. Um movimento de contracultura literário e musical da década de 70, de onde saíram poetas, jornalistas, músicos, escritores, radialistas, atores... Reuníamos, a cada quinze dias, sob a égide de nossa rebeldia inocente. Fingíamos ser doidos para convencer. Isso em uma época que Montes Claros deixava de ser fazendona para se tornar cidade de porte médio. Foi um momento importante de minha história.

CLASSE ARTÍSTICA BRASILEIRA

O artista brasileiro é omisso. Crítico, acha que é o dono da verdade, mas se cala, não se apresenta para a luta. Produz arte com caráter mercantilista, sem engajamento social. Meu pirão primeiro. O que Gilberto Gil chama de hipocrisia da civilidade.

MOVIMENTOS MUSICAIS

Minas tem uma música riquíssima, mas alguns movimentos não vingaram. A música do Vale do Jequitinhonha, por exemplo, é ultrapassada, não emplaca mais. Alguns artistas norte-mineiros se descaracterizaram. Permanece o Clube da esquina, que se renova a cada dia, se internacionalizou e tem seguidores.

RISCOS

Ficar velho, virar folclore. O jornalista é o narrador do dia-a-dia, e não pode ser lembrado por uma história. Tem que estar sempre presente.

FAMÍLIA

Sou pai de 13 filhos com 10 mulheres. Lá em casa não tem caçula. O mais novo tem cinco meses. Todos convivem bem, apesar de morarem em cidades diferentes. Sou um eterno apaixonado e me apaixono por tudo. Minha família é minha vida.

PROJETOS

Estou planejando um livro com os bilhetes e recados que troco com os amigos pela Internet.

AUTO DEFINIÇÃO - PROFISSIONAL

Sinto-me pleno. Essa coisa da realização é algo distante, mas é bom que você a persiga. Estou em um momento bom de minha carreira, tenho um programa de rádio líder de audiência, com 80 mil ouvintes por minuto (programa Viva a tarde, que apresenta diariamente, há 14 anos, pela rádio Itatiaia Am/Fm), já publiquei três livros (dois de poesia - Cismas e Rufares e O despertar de Mona, e um de crônicas - Além da Voz), escrevo em jornal de grande circulação em Minas  (às quintas feiras no jornal Hoje em Dia), em jornais e revistas de outros estados, escrevo prefácios, contra-capa de cds, enfim, vivo disso. Tenho meu cantinho, meu escritório, já não tenho medo do computador. Tudo isso me coloca de novo no mundo e me completa, me sublima.

AUTO DEFINIÇÃO - PESSOAL

Carrego infinitas frustrações, mas também carrego alegrias que suplantam tudo. Estar aqui em Montes Claros, lançando meu cd, cercado de amigos, por exemplo, é um momento sublime. E é fruto do meu trabalho. Só do meu trabalho, sem apadrinhamento. Isso me dignifica sensivelmente e também me torna pleno.

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