Jerúsia Arruda
Repórter
Nos últimos dez anos, a oferta de curso de Medicina em todo país tem aumentado de forma expressiva. Dados do último Censo do Ensino Superior mostram que, entre 1996 e 2006, o crescimento foi de 86%, passando de 82 para 160 cursos e de 7,9 mil para 15,2 mil vagas em vestibulares.
Atualmente, são oferecidos 167 cursos de Medicina em todo país e a preocupação do ministério da Educação é com a qualidade desses cursos, que dificilmente conseguiriam criar corpo docente e infra-estrutura necessários para atender a nova demanda em um prazo tão curto.
A partir desse mês, o hospital Dílson de Quadro Godinho (antigo São Lucas) passa a funcionar como hospital-escola, em parceria com o curso de Medicina da Funorte (foto: WILSON MEDEIROS)
Para conter a expansão acelerada, a partir desse ano, a regulamentação e fiscalização vai adotar novos critérios que, de acordo com o Mec, se basearão nos resultados do Enade - Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes, e também levarão em conta as condições dos hospitais e a oferta de residência médica, além de criar novos mecanismos de avaliação, já que o curso não passa por um exame, como acontece com o curso de Direito que, para receber o título de advogado, os bacharéis são submetidos ao teste da OAB - Ordem dos Advogados do Brasil.
Em Montes Claros, o curso de Medicina é oferecido EM três instituições de ensino, com um total de 236 vagas – a Unimontes oferece 56, a Funorte, 80 e a Fasi, 100 vagas.
A coordenadora do curso da Funorte – Faculdades Unidas do Norte de Minas, Magna Abaci de Quadros Coelho diz que a instituição vem buscando aliar a prática à teoria, para que os acadêmicos possam ter acesso a um curso diferenciado.
- O curso tem um projeto político pedagógico que utiliza uma metodologia ativa de aprendizagem que facilita a atuação do acadêmico diretamente com a comunidade, não para tratar de doenças, mas para fazer o diagnóstico, prevenção e reeducação. O curso da Funorte, apesar de novo – iniciou em agosto de 2005 -, oferece uma infra-estrutura que atende às expectativas do acadêmico e às exigências do Mec, e estamos sempre buscando por novos recursos para garantir a qualidade da graduação e para que os alunos sejam bem preparados para o mercado de trabalho – explica.
Magna diz que o curso é ministrado de forma modular, que facilita a aprendizagem e formação do novo profissional.
- No Módulo de Aprendizagem, são apresentados os conteúdos específicos e o ensino é feito através de sessões tutoriais (pequenos grupos de 7 a 9 nove acadêmicos e um professor) abordando temas relevantes e prevalentes da saúde; aulas práticas em laboratórios e palestras de conteúdo específico. No Módulo Habilidades, o acadêmico tem um instrutor para facilitar seu treinamento, e são desenvolvidas as habilidades técnicas e pessoais, o relacionamento com os colegas e com a comunidade, as atividades relacionadas à ética e cuidados com o paciente. No Módulo Prática Sanitária, o acadêmico atua junto com o instrutor, que é um médico do PSF. Nesse módulo é realizado um trabalho direto com a comunidade – explica.
Segundo a coordenadora, além da estrutura física adequada para funcionamento do curso, a instituição firmou parceria com os hospitais Aroldo Tourinho e Prontocor, com a rede municipal de saúde, através dos Centros de Saúde e Programa Saúde da Família, e outros espaços, além do hospital Dílson de Quadros Godinho que, a partir desse mês, funcionará como hospital-escola, em parceria com a instituição.
- Também temos um núcleo de desenvolvimento docente, para estimular a qualificação do corpo docente do curso – completa.
REESTRUTURAÇÃO
Para criação das novas proposições, o ministro da Educação, Fernando Haddad convidou o ex-ministro da Saúde Adib Jatene, que também é professor de Medicina. Uma das prioridades do Mec é garantir a qualidade da educação, mas o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, também defende o aumento do número de anos para cursos de residência.
No ano passado, o curso de Direito passou por uma reestruturação parecida, quando o Mec fez o cruzamento dos dados do Enade com os resultados de aprovação nos exames da OAB, além de uma avaliação local nas instituições que apresentaram desempenho insatisfatório. Em algumas delas, foram adotadas medidas como redução do número de vagas e aumento de instalações. Para o curso de Medicina, os critérios ainda não foram definidos, mas o Mec garante que a as novas regras serão implantadas ainda neste ano.