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Domingo,20 de Julho

Cinema e literatura: Cineclube Curta Circuito apresenta um recorte da trajetória do romancista e cronista Fernando Sabino, um dos nomes mais expressivos da literatura brasileira

Jornal O Norte
Publicado em 30/11/2006 às 11:24.Atualizado em 15/11/2021 às 08:45.

Jerúsia Arruda


Repórter


jerusia@onorte.net



A situação da leitura dos brasileiros sempre foi motivo de acalorada discussão em todos os segmentos da sociedade, não só no Brasil, mas em todo mundo. Tanto que na edição do dia 15 de março deste ano, a influente revista britânica The Economist, publicou uma reportagem com título Um país de não-leitores, onde diz que a leitura no Brasil é uma vergonha. Segundo a reportagem, a situação precária das bibliotecas públicas e o baixo índice de leitura dos brasileiros constituem motivo para vergonha nacional, junto com o crime e com as altas taxas de juros.



A verdade é que muitos brasileiros realmente não sabem ler e uma pequena parcela da população lê livros. Se estamos comemorando 500 anos de Brasil, faltam séculos para comemorarmos 500 de funcionamento de bibliotecas públicas, 500 anos escolarização ou 500 anos de investimento em educação.



É certo que nestes 500 anos assistimos a grandes transformações no panorama cultural brasileiro, principalmente em relação à prática da leitura e circulação de impressos, que tiveram um aumento significativo de linhas editoriais e de instrumentos de formação profissional, o que contribuiu para que a expressão de idéias e opiniões ganhasse mais espaço. Entretanto, se a informação está disponível, infelizmente não se pode dizer o mesmo do acesso a ela.



Boa parte da população - incluindo a maioria dos professores e estudantes - não tem condições de usufruir da produção cultural e intelectual do país, principalmente por causa dos preços dos livros, normalmente muito caros – Imagine que um exemplar de O Código Da Vinci, de Dan Brown, custa R$ 32, o que representa mais de 10% no salário mínimo do país.



De acordo com a reportagem da The Economist, em uma pesquisa recente sobre hábitos de leitura, os brasileiros ficaram em 27º em um ranking de 30 países, gastando 5,2 horas por semana com um livro. Os argentinos, vizinhos, ficaram em 18º.



Então, neste momento, a questão não é mais como divulgar e promover a leitura, mas de como garantir o acesso efetivo da maioria da população à cultura e à educação.



Em Montes Claros existem duas grandes bibliotecas públicas municipais com um enorme acervo teórico e literário à disposição da comunidade, além das bibliotecas da Unimontes e das escolas da rede municipal de ensino e escolas e faculdades particulares.



Com o objetivo despertar a atenção para essas obras e incentivar a leitura de forma gratuita, diversos projetos têm sido realizados na cidade, como Palavras e Idéias, da secretaria municipal de Cultura, e o Tim Estado de Minas Grandes Escritores, que promovem um encontro do autor com os leitores.



Para fortalecer esses projetos e instigar a curiosidade do público pelo autor e suas produções literárias, o projeto Cineclube Curta Circuito 2006 apresenta neste sábado, dentro da mostra Panorama, um recorte da trajetória de um dos nomes mais expressivos da literatura brasileira, o romancista e cronista Fernando Sabino.



Apesar de o autor aparecer dirigindo curtas-metragens, uma outra vertente de seu pensamento criativo, é impossível resistir ao forte apelo à leitura que a trajetória dos escritores pesquisados inspira.



Serão apresentados cinco dos dez curtas desenvolvidos entre 1973 e 1974 pelo escritor em parceria com David Neves, com cenas imperdíveis de literatura e cinema.



O Fazendeiro no Ar - Carlos Drummond de Andrade: Um dia na vida do grande poeta mineiro. A presença de Minas Gerais como fonte permanente de inspiração da sua poesia.



Em Tempo de Nava - Pedro Nava: Considerado durante muito tempo como um poeta bissexto, Pedro Nava irrompe de súbito no cenário literário com as suas memórias. Sua atividade como médico, o meio em que vive e trabalha, seus amigos, idéias e simpatia.



O Curso do Poeta - João Cabral de Melo Neto: O curso de sua poesia, como a do rio Capibaribe, que ele cantou em seus versos. Direção de Jorge Laclette e comentários do poeta, procurando interpretar seus versos através da paisagem nordestina e sua sofrida fauna humana.



Veredas de Minas - João Guimarães Rosa: Depoimentos de Manuelzão, Zito e outros personagens do criador de Grande Sertão - Veredas, sobre o romancista e o mundo fabuloso onde recolheu o material para a sua obra.



O Habitante de Pasárgada - Manuel Bandeira: A tocante simplicidade do criador de Pasárgada na sua solidão. Seus hábitos diários, os momentos de inspiração poética, o ambiente em que viveu admiravelmente retratado, sob a direção de Joaquim Pedro de Andrade. Um documento precioso para a história da literatura



A sessão do Cineclube Curta Circuito 2006 acontece a partir das 18h, na sala Geraldo Freire, ao lado da Câmara Municipal. Logo após tem a sessão normal do Cinema Comentado, com a mostra dos filmes escolhidos pelo público. A entrada é gratuita.



FERNANDO SABINO



Quando eu era menino os adultos perguntavam: o que você quer ser quando crescer? Hoje não perguntam mais. Se perguntassem, responderia: quero ser menino





Fernando Tavares Sabino era mineiro de Belo Horizonte, onde nasceu em 12 de outubro de 1923, filho do representante comercial Domingos Sabino e de Odete Tavares Sabino. Na infância e juventude, destacou-se como escoteiro, locutor de programa infantil aos 12 anos e autor do primeiro conto ainda no secundário. Aos 16 anos venceu vários campeonatos de nado de costas em Minas, São Paulo e Rio de Janeiro e, aos 17 anos, escreve artigos literários para o jornal mineiro O Diário, onde também eram publicados Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos e Hélio Pellegrino.



Sempre eclético, faz serviço militar na cavalaria do CPOR, estuda direito e entra para o funcionalismo público em 1942 na secretaria de Finanças, além de dar aulas de português. Em 1944, muda-se para o Rio, onde vai trabalhar na justiça e convive com a nata intelectual do então Distrito Federal, incluindo Rubem Braga, Vinicius de Moraes, Di Cavalcanti e Manuel Bandeira.



Em 1946, forma-se em direito e se muda para os Estados Unidos para trabalhar no consulado brasileiro. De lá inicia uma longa cooperação com a imprensa brasileira, escrevendo para o Diário de Notícias e, ao longo dos anos, para o Diário Carioca, O Jornal, Jornal do Brasil e O Globo.



Seu primeiro sucesso literário foi o romance O Encontro marcado, lançado em 1956, lançado em vários países e levado diversas vezes ao teatro. Em 1962, outro livro de sucesso, A mulher do vizinho e escreve o roteiro do filme O homem nu, com direção de Roberto Santos com Paulo José.



Foi adido cultural da embaixada do Brasil em Londres durante o governo de João Goulart e fundou em 1967 a editora Sabiá, em sociedade com Rubem Braga que lança autores como Vinicius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Pablo Neruda e Manuel Puig. Em 1971 exerce seus dotes de diretor de cinema, realizando um curta sobre Rubem Braga e, no ano seguinte, oito pequenos documentários sobre Hollywood para a Rede Globo.



Em 1979, lança O grande mentecapto, que lhe vale o prêmio Jabuti. Lança ainda O menino no espelho (1982), O gato sou eu (1983), Faca de dois gumes (1985) e é condecorado com a Ordem do Rio Branco pelo governo brasileiro. Em 1991, lança a biografia autorizada da então toda poderosa do governo Collor, Zélia Cardoso de Mello. Na seqüência, lança em Aqui estamos todos nus (1983), seguido de Com a graça de Deus (1995), A chave do enigma (1999) e Amor de Capitu (2000).



Morreu em 11 de outubro de 2004, véspera do seu aniversário, por volta de meio-dia, o escritor Fernando Sabino. O escritor vinha lutando há dois anos com um câncer no esôfago.

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