Jerúsia Arruda
Repórter
jerusia@onorte.net
- É como se eu vivesse em uma caverna e de repente visse uma luz e fosse em sua direção, saindo da caverna.
Assim Maria de Lourdes descreve a sensação experimentada ao passar no vestibular, aos 52 anos, depois de estudar quatro séries do ensino fundamental e o ensino médio em três anos, vencendo os desafios impostos pelas circunstâncias.
Quando veio de Mundo Novo/Bahia para Montes Claros, numa época em que o ensino fundamental era chamado de admissão ao ginásio, Maria de Lourdes acalentou o desejo de se formar. O sonho foi abortado pela falta de recursos. Daí veio o casamento, as quatro filhas, a falta de tempo, as muitas tarefas que só uma dona de casa, e mãe, consegue desempenhar, quase sempre ao mesmo tempo. A escola, então foi aos poucos colocada de lado, mas segundo Lourdes, jamais esquecida.
EM BUSCA DO SONHO
Casada, com as filhas criadas, mas ainda tendo que se desdobrar para cuidar da casa e da família, em 2003, Maria de Lourdes de Souza Galdino decidiu sair em busca da realização de seu sonho de adolescente: estudar.
Aos 49 anos de idade, matriculou-se em no EJA – Educação de Jovens e Adultos, projeto voltado para estudantes fora da faixa etária escolar e com defasagem de aprendizagem, retomando os estudos interrompidos, há anos, na quarta série do ensino fundamental.
- Logo na primeira semana tive certeza de ter feito a escolha certa. Perguntei-me porque não voltei antes – relembra Lourdes, dizendo que nas poucas vezes em que se sentiu insegura, o apoio da família lhe devolveu a coragem para nunca desistir.
ADAPTAÇÃO
Apesar de estar entre jovens adolescentes, diferença de idade não atrapalhou o desempenho de Maria de Lourdes. Conceição Ribeiro, coordenadora do EJA do colégio Indyu onde Lourdes estudou, diz que desde o início a aluna chamou sua atenção.
- Apesar da disparidade de idade, ela não se intimidou. O interessante é que se adaptou aos colegas, como se tivesse a mesma idade deles. E enquanto muitos reclamavam que estava difícil para acompanhar as disciplinas, ela sempre tirava boas notas. Tanto que no segundo ano do curso fez uma prova e passou em primeiro lugar, sendo contemplada com bolsa integral - conta Conceição, que diz que histórias como a de Lourdes é que justificam o trabalho e dedicação do professor e a existência de projetos como o EJA.
EJA
A Constituição Federal de 1988 estabelece que a educação é direito de todos e dever do Estado e da família... E ainda, ensino fundamental obrigatório e gratuito, inclusive sua oferta garantida para todos os que a ele não tiveram acesso na idade própria. O EJA, Educação de Jovens e Adultos, é um programado ministério da Educação destinado àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria, em cumprimento do que determina a Constituição.
NORMAL SUPERIOR
Apesar da vontade de estudar Direito, no último processo seletivo Lourdes foi aprovada para o curso Normal Superior da Funorte, classificando com bolsa de 40% de desconto no projeto Ação Soebras, que contempla os melhores colocados nas provas do vestibular e que têm baixa renda com bolsa de até 100% de desconto nas mensalidades.
- Escolhi Normal Superior porque atende às exigências do trabalho que vou começar a desenvolver a partir de agora. Mas o sonho de estudar Direito só foi adiado. Assim que terminar este curso, vou tentar realizá-lo – conclui.