Jerúsia Arruda
Repórter
jerusia@onorte.net
Hoje é o Dia nacional da poesia. E não por acaso, coincide com a comemoração do nascimento de um dos poetas românticos mais importantes do Brasil, o escritor baiano Castro Alves, que nasceu em 14 de março de 1847.
Apesar de ter vivido apenas 24 anos e publicar seu primeiro poema aos 17, Antônio Frederico de Castro Alves foi autor de belíssimas obras, como Navio Negreiro e Espumas Flutuantes, com uma importante participação na fundação de uma sociedade abolicionista, ao lado de Rui Barbosa, Plínio de Lima e tantos outros. Sua arte era movida pelo amor e pela luta por liberdade e justiça e, não à toa, ficou conhecido como poeta dos escravos. Quando Castro Alves morreu de tuberculose em 6 de julho de 1871, o também poeta Manuel Bandeira disse ser a perda da maior força verbal e inspiração mais generosa de toda a poesia brasileira.
POESIA
A poesia nasceu na Grécia, como poiesis (poihsiV), com Homero, através da Ilíada e da Odisséia. Antigamente, as poesias eram cantadas, acompanhadas pela lira, um instrumento musical comum na Grécia antiga. Por isto, diz-se que pertence ao gênero lírico.
Declamada ou escrita, a poesia sempre se encontra dentro de um contexto cultural e histórico. Os vários estilos poéticos, as fases de cada autor, os acontecimentos da época e tantas outras interferências muitas vezes se misturam à obra e lhe dão novos significados.
TODO DIA É DIA DE POESIA
Em todos os cantos do mundo e em todo os momentos há alguém evocando sensações, impressões e emoções por meio de sons e ritmos harmônicos; pessoas que escrevem versos, que declamam, que lêem, ouvem e se emocionam com essa arte literária que recria a realidade e deixa a alma leve.
Em Montes Claros, o amadurecimento poético pode ser percebido a partir dos movimentos literários, com destaque para o Salão nacional de poesia Psiu Poético, evento que há quase 20 anos reúne, anualmente, poetas de diversas partes do país para celebrar a poesia, atraindo a atenção, principalmente, para os poetas e escritores da cidade e região.
VERBETES
Neste ano, em sua 2ª edição, a Enciclopédia de Literatura Brasileira (Global Editora, Fundação Biblioteca Nacional/DNL, Academia Brasileira de Letras) trás entre seus verbetes o nome dos poetas Aroldo Pereira e Wagner Rocha, ambos nascidos na cidade de Coração de Jesus e residentes em Montes Claros, e que figuram como expoentes da literatura montes-clarense.
A Enciclopédia é o mais completo guia literário do país, idealizado pelo crítico literário Afrânio Coutinho, membro da Academia Brasileira de Letras e pelo pesquisador José Galante de Sousa (ambos já falecidos), cuja coordenação se encontra hoje sob a responsabilidade das pesquisadoras Rita Moutinho e Graça Coutinho.
Segundo o poeta, contista, ensaísta, ator, letrista e vocalista Aroldo Pereira, que tem seu nome figurando na Enciclopédia desde a 1ª edição, de 1990, a escolha dos autores é feita a partir de uma pesquisa por todo país.
- Essa pesquisa já existe desde 1954, através do trabalho do crítico literário Afrânio Coutinho e do pesquisador Jota Galante que, a partir da possibilidade de publicação da Enciclopédia, que é um trabalho gigantesco, montaram uma equipe no Leblon/Rio de Janeiro, numa oficina permanente de pesquisa chamada OLAC – Oficina de Literatura Afrânio Coutinho. Além de pesquisa, a oficina oferecia cursos sobre Linguagem Literária, ministrados por nomes famosos como Wally Salomão, Chico Buarque, Geraldinho Carneiro e muitos outros. Isso foi na década de 1980 – explica Aroldo, que diz ter conhecido Rita Moutinho em Ipanema, quando participava de um trabalho com um grupo de poesia pornô.
Ela estava fazendo a pesquisa e pediu para que enviasse seu material e, na época, fizeram o verbete foi publicado na 1ª edição.
WAGNER ROCHA
Mestre em filosofia pela PUC-Rio, Wagner Rocha é professor e coordenador do curso de filosofia Unimontes e também professor do curso de Letras da Funorte. Com poética dotada de um sentido existencial, publicou seu primeiro livro de poemas, intitulado Lápis Lapso em 1998. É co-autor das antologias poéticas, Vozes do Psiu Poético (Editora Plurart’s - 2001), Fenda: 16 poetas vivos (Orobó Edições – 2002), organizada por Anelito de Oliveira e O achamento de Portugal (Anome Livros – 2005), organizada por Wilmar Silva. É também autor de Poemas nômades (no prelo) e possui poemas publicados no Suplemento Literário de Minas Gerais.
Em 2002 foi poeta homenageado no Salão nacional de poesia Psiu Poético. Com descrição de poeta, contista, cronista e ensaísta Wagner teve seu nome como verbete na 2ª edição da Enciclopédia de Literatura Brasileira.
AROLDO PEREIRA
Com alma irrequieta e uma constante busca pelo novo, Aroldo Pereira é parte da cultura norte mineira, sempre atuante como agitador cultural, escritor, compositor ou qualquer outro segmento artístico que resolva abraçar. Ainda bem jovem, participou das principais manifestações literárias do Brasil, tendo, inclusive, convivido de perto com grandes nomes do cenário nacional, sempre levando obras e nomes montes-clarenses na bagagem, na tentativa de atrair a atenção do país para a arte produzida na cidade.
Idealizador do projeto Psiu Poético - evento que coordena, há quase vinte anos através da secretaria municipal de Cultura, da qual é gerente -, com poemas publicados na Agenda Arte, Jornal Não, Revistas Dimensão, Espaço de Prática Poética, Káthedra e em diversas edições do Livro da Tribo, o pai de Amora, Amanda, Renata, Samuel, Lucas e Maluh é autor dos livros Canto de Encantar Serpente, Azul Geral, Hai Kai Quem Quer, Doces Pérolas Púrpuras, Amor Inventado, Cinema Bumerangue, Ana Formosa e Parangolivro (ambos no prelo).
Aroldo também empresta seu nome ao Centro Acadêmico de letras da Unimontes e recentemente recebeu da International Writers Association - Fraternity, sediada nos Estados Unidos da América, o mérito de Melhor Ativista Literário, reconhecimento concedido nos 05 continentes por excelente trabalho literário e artístico.
ENCICLOPÉDIA
A Enciclopédia faz um amplo levantamento sobre autores e obras, escolas e movimentos literários, e instituições ligadas à vida intelectual, sendo que a mesma possui cerca de 17 mil verbetes distribuídos em 02 volumes que totalizam 1.672 páginas, representando um importante documento acerca da literatura brasileira, tornando-se indispensável em todas as bibliotecas do Brasil e do exterior.
Ao lado dos escritores montes-clarenses Cyro dos Anjos e Darcy Ribeiro, além de uma infinidade de escritores brasileiros, dentre eles, Tomás Antônio Gonzaga, Cruz e Sousa, Machado de Assis, Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade e Caetano Veloso, os norte-mineiros Aroldo Pereira e Wagner Rocha figuram como dois verbetes, onde aparecem destacadas as suas produções poéticas e seus respectivos dados biográficos. Tanto Pereira quanto Rocha são poetas que vêm desenvolvendo um trabalho intenso e constante de criação literária, cada qual com sua forma de expressão e suas referências de linguagem.
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REFLEXO
O dia a reprimir os meus sapatos livres,
a cidade e seus gestos apagados.
Tristes as sombras de um laranjal,
cavalo em pasto,
a poesia dos postes e das igrejas.
Esta é aldeia onde assustei
os anjos embalados.
Vês no jornal o outro rosto do paraíso.
Vês o grito das pirâmides vindo, insólitos,
da lógica dos livros.
Como não sacar a fruta do embornal?
Como não me atirar nos braços densos
da noite?
Como não sofrer?
(Wagner Rocha)
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POEMA
01 poema é 01 coração
explodindo
uma incapacidade
de dizer coisas
em outro formato
é 01 desejo inquieto
de te ver de manhã
no metrô ou
dentro da maçã
(Aroldo Pereira)