Universitárias superam medo da violência em experiência enriquecedora no Intercom 2005 realizado no RJ

Jornal O Norte
04/10/2005 às 11:15.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:52

Jerúsia Arruda


Repórter

1100 pessoas no teatro e outras tantas do lado de fora, querendo entrar. Assim começou a primeira palestra do XXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – o Intercom/2005.

Realizado de 5 a 9 de setembro, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), com apoio da Faculdade de Comunicação Social, o Intercom é o maior encontro de pesquisadores, profissionais e estudantes de comunicação do país. Nesta 28° edição, somou-se a esse grupo, cinco montes-clarenses, alunas do curso de jornalismo da Funorte.

Eufóricas com a experiência de conhecer a cidade maravilhosa e superar o medo da violência, que dizem lhes ter sido impingido pelos meios de comunicação, as estudantes Leonídia Maria Ribeiro, Maria Edith Correia Bertoli e Sabrina Ferreira da Silva, do 6º período e Deyse Antoniana de Oliveira e Francyelle Rodrigues de Moura do 3º período, falam que o passeio que fizeram pela cidade foi tão enriquecedor, quanto as palestras e debates que participaram durante os quatro dias do Congresso. Anotando tudo que viam pela frente – nome de ruas, bares, praças, avenidas (dizem ter revivido a história ao passar pela Av. Presidente Vargas, onde aconteceu as Diretas Já!) -, se dizem impressionadas com a cidade que não tem extremos - o lado pobre e o lado rico -, onde tudo é misturado.

- Você passa por um bairro nobre e imediatamente se depara com uma favela, com o morro - diz Sabrina, a mais eufórica das cinco.

Enfrentando várias dificuldades, inclusive financeiras – além de receber uma ajuda da Funorte, tiveram que fazer consórcio de dinheiro, poupança -, as cinco garotas desafiaram os próprios medos e foram em busca de um diferencial.

- Não tínhamos grana, mesmo assim, a gente foi buscar. A ajuda da Funorte facilitou muito. O acadêmico tem muitas portas abertas na época da academia e maioria se fecha depois que ele forma. O importante é não perder nenhuma oportunidade e buscar o crescimento, a qualificação - diz  Deyse, que diz ter representado com muito orgulho a classe acadêmica, não só da Funorte, mas de Montes Claros.

SOBRE O CONGRESSO

O ensino de Comunicação no Brasil está completando 70 anos. Com o tema central Ensino e Pesquisa em Comunicação, o Intercom deste ano teve como objetivo reunir pesquisadores brasileiros e do exterior em um fórum científico interdisciplinar para refletir especialmente sobre o tema, bem como sobre todas as questões relevantes e emergentes da área.

Incluindo o Ciclo de Estudos, o Colóquio Brasil-Estados Unidos, a Sessão de Temas Livres, o Endocom, o número de trabalhos apresentados alcançou número superior a 1200, registrando assim participação crescente de pesquisadores nos Congressos da Intercom, que este ano trouxe dois eventos especiais: o Intercom Júnior, voltado para estimular a pesquisa desenvolvida na graduação, e o Mesas Temáticas, um espaço para a apresentação dos trabalhos desenvolvidos por grupos orgânicos e institucionalizados da área de Comunicação.

Sempre norteando o tema central proposto, aconteceram encontros e debates entre estudantes de jornalismo, relações públicas, publicidade, rádio e TV, cinema e produção editorial, entre outras áreas, com os pesquisadores.

Para as acadêmicas da Funorte, o Congresso lhes apontou novos rumos, novos caminhos. O contato com pessoas de outros estados, outras realidades, possibilitou perceber novas expectativas, principalmente em relação ao mercado de trabalho.

- Vivenciar experiências extra-classe é fundamental  na construção de sua visão de mundo. São vários universos que se encontram, outros  valores culturais. Abre sua mente  e você fica aberta à aprendizagem. E quanto mais aprende, mais quer aprender - diz Leonídia, que participa pela terceira vez do Intercom.

TROCANDO EXPERIÊNCIAS

O Intercom deste ano foi mais teórico, com defesa de teses, monografias e projetos. Para as acadêmicas montes-clarenses, que foram buscar idéias para projeto de conclusão de curso, foi uma oportunidade para tirar dúvidas além de trazer na bagagem várias sugestões de estudantes e também de palestrantes, que sempre perguntavam ao final de suas preleções, o que poderiam fazer para contribuir com os projetos dos acadêmicos presentes.

A maior dificuldade, segundo elas, foi o intercâmbio entre as áreas da Comunicação, uma vez que o curso da Funorte não promove nenhum contato com outros cursos. 

- No Congresso tinham estudantes e profissionais de todas as áreas e, alguns deles, muito jovens, ocupando cargos importantes, como por exemplo, um jornalista de 25 anos, recém-formado, assessor de comunicação do prefeito de sua cidade. Foi possível perceber claramente nosso limite em relação às outras áreas. Na faculdade, nós não temos contato com outros acadêmicos de comunicação e a gente fica se perguntando ‘será em que direção estamos indo?’. Falta a experiência de professores de outros centros, falta intercâmbio. E o mercado de trabalho de Montes Claros, profissionalmente falando, não é da Comunicação. As turmas que estão formando é que estão adaptando. E lá fora vamos ver um outro universo - desabafa Leonídia, que conclui o curso no próximo ano.

Segundo Deyse, com a troca de experiências que teve no Congresso, foi possível perceber que os cursos onde o período é anual, o aproveitamento dos alunos é maior, pois eles vêem oito matérias por ano, então, lêem mais livros, falam mais sobre um mesmo assunto. E aqui, como o período é bimestral, mal começamos falar sobre um assunto, acaba o semestre. Não dá para aprofundar, praticar.

ENCURTANDO DISTÂNCIAS

Para as alunas da Funorte, além de um amadurecimento intelectual e pessoal, o Intercom é uma oportunidade de aprendizagem que não seria possível na Faculdade. Segundo elas, o que viram não é muito diferente do que aprendem em sala de aula, mas  a experiência de ouvir pessoas que escreveram a teoria que você estuda em sala é ímpar, da mesma forma que ouvir, por exemplo, Wilhiam Bonner e Fátima Bernardes falarem dos erros que cometem durante a apresentação do Jornal Nacional os torna mais próximos, desmistifica, diz Deyse.

Em relação à parte técnica, Leonídia diz que em todos os Congressos que participei, percebi que os laboratórios da Funorte não estão aquém de nenhuma Faculdade, se não estiverem até melhores, inclusive em relação aos da PUC(SP). Entretanto, questiona o tipo de profissional que está sendo formado pela Funorte, se técnicos  ou pensantes, uma vez que a instituição vem se reestruturando para se adaptar ao constante crescimento dos últimos anos, mas pouco tem investido na formação intelectual do aluno. Segundo ela falta criatividade da coordenação, professores mais experientes, e estímulo ao acadêmico de forma geral.

Para encurtar essas distâncias, a sugestão das estudantes é que sejam promovidos  palestras e mini-cursos com professores de outras faculdades, que possam trazer experiências de outras cidades, de outros centros acadêmicos e que estes sejam abertos à comunidade, principalmente aos representantes dos meios de comunicação da região. Que sejam firmadas parcerias, por exemplo, com o Sindicato dos Jornalistas, com faculdades de outras áreas da Comunicação, enfim, que haja uma troca de experiências. Que eventos como feiras, simpósios, mostras, oficinas, congressos, sejam constantes e façam parte da grade curricular, no cumprimento das atividades complementares, obrigatórias aos alunos.

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