Montes Claros tem quase 6 mil jovens de 15 a 17 anos longe do ensino médio. Dados do Sistema de Monitoramento dos Planos de Educação apontam que 2.782 adolescentes nem chegaram a ser matriculados nessa etapa do ensino e outros 2.902, por diversos motivos, ainda seguem no ensino fundamental.
O sistema foi desenvolvido para o acompanhamento das metas do Plano Nacional de Educação (PNE) e mostra que várias cidades mineiras, inclusive Montes Claros, estão longe de atingir o patamar desejado.
No ano passado, por exemplo, Montes Claros teve 72,32% de alcance da taxa de matrículas para a população de 15 a 17 anos. Se continuar avançando apenas 1,08 ponto percentual por ano, como aponta o levantamento, a projeção é de 78,8% em 2024. Dessa forma, a cidade não terá alcançado a meta de 85% dos adolescentes cursando o ensino médio. O município norte-mineiro precisaria avançar, anualmente, 1,81 ponto percentual para alcançar a meta estipulada pelo PNE.
As cidades mineiras de Arceburgo (49,80%), Cabo Verde (48,78%), Nova Porteirinha (48,23%) e Santa Cruz de Minas (42,96%) foram apontadas com os piores percentuais de atendimento. A meta era a totalidade dos jovens nessa faixa etária na escola em 2016. O estudo feito pelo portal TC Educa foi feito reunindo dados mais atuais do MEC e do IBGE.
SEM PERSPECTIVA
De acordo com a socióloga, historiadora e pedagoga Carla Patrícia Melo, são vários os motivos que causam a evasão escolar, mas algumas são predominantes.
“Primeiro é a falta de estruturação familiar. A estrutura pai e mãe que não dá suporte. O adolescente acredita que tem uma gama de direitos e que não precisa dar retorno. Ele sai da escola por não ver um elo com seu futuro”, avalia Carla Patrícia.
A especialista aponta ainda que as drogas, a gestação precoce e a questão financeira também afetam os estudantes. “É um problema real, sem perspectiva e que afeta a sociedade. O jovem chega à maioridade sem projeção de carreira, se tornando cada vez mais um problema social”, completa.
Prova disso é o resultado do levantamento divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) no início deste mês: 23% dos jovens brasileiros não trabalham nem estudam (jovens nem-nem).
Como o ensino médio é de responsabilidade do Estado, a Superintendência Regional de Ensino foi procurada, mas não havia ninguém disponível para falar sobre o assunto.
UNICEF
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) é um aliado na tentativa de mudar esse quadro de baixo índice de matrículas no ensino médio e também em outras etapas da vida escolar.
Equipes do órgão internacional estarão hoje em Montes Claros para realizar o 3º Encontro de Capacitação Presencial da atual edição do Selo Unicef. Durante o evento, uma das estratégias será a identificação de crianças e adolescentes que estão fora da escola e garantir que sejam matriculados já no próximo ano.
O encontro visa a realização de um conjunto de atividades formativas, com o objetivo de apoiar os municípios na realização das ações propostas pelo Selo Unicef: em quatro anos, implementar políticas públicas para redução das desigualdades e garantir os direitos das crianças e dos adolescentes previstos na Convenção sobre os Direitos da Criança e no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
As cidades passam a ser monitoradas a partir de 12 indicadores, como abandono escolar, distorção idade e ano escolar e cobertura vacinal, e precisam evoluir em pelo menos sete. Aqueles que obtiverem os melhores resultados, até 2020, serão certificados.