Limites que precisam ser colocados na hora do estudo

Jornal O Norte
09/08/2005 às 17:15.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:49







Káthira Cangussu

Repórter

kathira@onorte.net

 

Muitos pais acreditam que dar o bom exemplo é suficiente, o que não é verdade. Abusar de proibições e punições por si só também não funciona.

 

Para a psicopedagoga, Wanderlucya Amorim Ruas, os filhos precisam aprender, e cabe aos pais ensinar.

 

- Se um filho não quer estudar, não adianta nada os pais se valerem de seu poder, trancá-lo no quarto e obrigá-lo a sair com a matéria decorada. O adolescente não vai estudar e pronto - fala ela.

 

Por outro lado, afirma que os pais podem negociar e dizer que ele, o filho, vai poder sair, fazer o que quiser, desde que explique o assunto que precisa estudar, com suas próprias palavras.

 

- Ele terá então estímulo para se debruçar sobre os livros e até se abrirá um canal para que esclareça dúvidas com a ajuda dos pais. Muitas vezes o jovem não estuda simplesmente porque não entende a matéria - conclui.

 

Esse parece ser o cenário atual. Os pais suam a camisa, pagam a escola, correm de um lado para o outro, disponibilizando cursos de línguas, de informática, atividades esportivas, mas e o estudo... Como é que fica mesmo?

 



DISTRAÇÃO

 

A professora Rita de Cássia Vieira, que há 30 anos leciona aulas de matemática, afirma que o tempo de concentração é mínimo, e que os livros são trocados por qualquer atividade.

 

- Tudo, absolutamente tudo, parece ter mais peso em suas vidas: o filme que estreou, a balada de quinta-feira à noite, o recente show do artista predileto, o lançamento de um novo CD, o bate-papo informal na casa de amigos. Mas é importante que os pais estejam atentos, pois os filhos precisam ter deveres, mas também precisam que seus direitos sejam respeitados.

 

A estudante do segundo ano, Jéssica Meyryellen Alves Dias, 16 anos, diz que seus pais muitas vezes não a deixam sair no final de semana, pois querem que ela estude.

 

- Minhas amigas saem no sábado à tarde, e às vezes à noite, mas meus pais insistem em não me deixarem sair. Eles sempre têm a desculpa de que sou nova e que preciso estudar. Tenho notas boas. Acho isso um abuso. Cumpro com meus deveres, faço a lição de casa, sou boa aluna.











DIREITOS E DEVERES

 

Enquanto os pais não compreenderem que o cumprimento de algumas regras básicas, dentro da família, é fundamental no desenvolvimento da autodisciplina, todo o resto perderá o sentido.

 

A psicóloga Cleidinir Araújo Silva, diz que não adianta os pais exigirem tanto dos filhos, pois no futuro essa cobrança pode gerar problemas.

 

- Esqueçam a idéia de que simplesmente pagar uma boa escola, oferecer cursos diversificados resolverão o problema. Não raro as famílias transferem para os filhos muitas responsabilidades, fazendo com que todo o tempo seja ocupado, esquecendo que eles precisam se divertir também.

 

Ela diz que em seu consultório atende jovens com problemas sérios de pressão psicológica.

 

- Tenho uma paciente de apenas 19 anos que vem fazendo tratamento há um ano. Desde os 15 seus pais a forçavam a estudar, pois queriam que ela passasse no vestibular pela primeira vez. A reprovação a fez ficar com transtornos psíquicos. Hoje os pais se arrependem da pressão feita.

 

Quando é necessário, os pais deverão dizer não, cortar passeios, cinemas, controlar horário, o tempo ao telefone, mas, isso não significa tirar de seu filho o direito de ser jovem, mas de ajudar a escola e mostrar que há momento para tudo. Ensiná-los a administrar bem o tempo é necessário, para que eles se sintam produtivos e, também, com direito ao lazer.

 



DE OLHO NO FUTURO

 

Os pais não podem se sentir culpados quando buscam oferecer o que há de melhor aos filhos. Devem, sim, ter em mente que o mundo de hoje e o do futuro pedirá, aos jovens, determinação, disciplina e persistência. Por isso mesmo, fazê-los compreender essa necessidade por meio do estudo é essencial.

 

- Algumas vezes você baterá de frente, noutras, negociará alguns desejos, mas o importante é que percebam que nada no mundo nos é dado de graça. A batalha é difícil e eles devem estar preparados para o que virá - fala a professora Rita de Cássia.


A psicopedagoga ainda diz que no dia em que os pais se convencerem definitivamente de que no mundo atual tão importante quanto o conhecimento é a conquista de algo denominado autonomia, talvez consigam fazer com que os filhos efetivamente se debrucem em pesquisas, estudos.

 

- Nesse dia, quem sabe, conseguirão puxar o freio de mão, deixar de acelerar nos momentos certos, enfim, aparar as arestas de uma forma mais produtiva e eficaz. Permitir-lhes ter equilíbrio entre o prazer e a obrigação. Nesse momento não terão receio do não, da palavra mais dura ou firme. Nesse instante, serão simplesmente pais, exercendo seu papel sem culpas ou maiores anseios.

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