Estudantes aprofundam debate sobre referendo

Jornal O Norte
21/10/2005 às 10:08.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:53

Jerúsia Arruda


Repórter

O pátio lotado de estudantes atentos. Na mesa de debates, uma calorosa discussão sobre dizer Sim ou Não ao referendo sobre o comércio de armas e munição, que acontece neste domingo 23. O evento promovido pelos acadêmicos do curso de Jornalismo da Funorte reuniu alunos no pátio do colégio Indyu, na manhã de quarta-feira, para ouvir opiniões de representantes da comunidade, que além de explicar a importância da participação no referendo, esclareceram muitas dúvidas sobre o assunto.

Segundo o acadêmico e integrante do grupo promotor do evento, Délio Pinheiro, o objetivo do debate é promover uma conscientização dos alunos em relação à necessidade de participar como cidadãos na evolução do processo histórico, político e social do país, considerando que o esclarecimento de todas as implicações que o tema propõe é a melhor forma de se chegar uma decisão.

DEMOCRACIA

O debate começou na noite de terça-feira, com a participação dos alunos do curso de Biomedicina, Educação Física, Serviço Social, Administração e Jornalismo, no campus Funorte JK. Participaram da discussão os vereadores Lipa Xavier e Athos Mameluque, o presidente da OAB-Montes Claros, advogado Dalton Caldeira Rocha e a presidente eleita do PT em Montes Claros, professora titular de Sociologia e chefe do departamento de Ciências Sociais da Unimontes, Cláudia Regina Santos Almeida.

Defensor convicto do Sim, o vereador Lipa Xavier, diz que se antes as pessoas estavam meio confusas em relação ao que estava sendo proposto pelo governo, hoje já estão mais esclarecidas.

- Esse tipo de iniciativa é fundamental para que as pessoas possam se situar. O referendo é um instrumento de consolidação da democracia e é importante que todos participem. Acho louvável a iniciativa dos universitários, principalmente pela forma organizada como conduziram todo o processo, permitindo um esclarecimento amplo de muitas questões.

DECISÃO DE FORO ÍNTIMO

A segunda etapa do debate foi quarta-feira, no colégio Indyu, envolvendo alunos do ensino médio, que participaram ativamente da discussão com a vereadora, Fátima Pereira de Macedo, com o pastor da igreja evangélica Pentecostal, Deli Pereira de Figueiredo, com o comandante do 10º Batalhão de polícia militar, tenente Eli José Gonçalves, jornalista Arthur Leite, assistente social, Ester Mendes e com o advogado, Rodrigo Silva Fróes.

Para o comandante Eli, mais importante que responder Sim ou Não é considerar individualmente a presença da arma no dia-a-dia do cidadão. Ele diz que, como policial precisa usar a arma como instrumento de trabalho, mas acredita que se não houvesse livre comércio de armas e munição, talvez a necessidade de fazer uso da própria arma seria menor, e que provavelmente o índice de violência e criminalidade diminuiria.

Satisfeita em participar do debate, a vereadora Fátima Pereira diz que devemos todos ser defensores da vida, seja dizendo Sim ou Não, cada um tomando como referência suas necessidades e convicções.

- O nosso papel não é dar essa resposta para formar opinião ou atrair adeptos, mas promover uma discussão para que se tenha consciência na hora de fazer escolha, considerando a individualidade. Esta decisão é de foro íntimo.

O pastor Deli, diz que jamais poderia deixar de levantar a bandeira do Sim, pois como pastor prega a paz, a vida, e não acredita que a arma possa  dar condições  do cidadão se  defender e sim, a educação que liberta e a participação da família para reconstruir os laços de afeto entre as pessoas.

DÚVIDAS

Os alunos presentes aproveitaram para tirar suas dúvidas sobre como proceder, não só em relação ao referendo, mas como eleitores de modo geral.

Mariana, 15 anos, aluna do 1º ano do ensino médio, diz que o debate trouxe um esclarecimento, principalmente para a maioria dos colegas que vão votar pela primeira vez e ainda não tem suas idéias formadas. 

- Mostrou como funciona o processo, de como vão ser as coisas depois do referendo, quem se favorece com Sim e com o Não. É bom, para termos mais informação e votar com consciência.

Alisson Noel, 15 anos, aluno do 2º ano do ensino médio diz que os adolescentes de um modo geral são meio desligados e o debate chamou a atenção para importância de participar do referendo, inclusive para poder explicar aos pais, amigos e vizinhos que não estão bem esclarecidos.

PLEBISCITOS NO BRASIL

A utilização de instrumentos de consulta popular é um avanço importante nos mecanismos democráticos. Previstos na Constituição de 1988, foi utilizado pela primeira vez no plebiscito sobre a forma de governo - monarquia ou república - e sobre o sistema de governo - presidencialismo ou parlamentarismo. Outros países já proibiram o comércio de armas e munição, mas o Brasil é o primeiro a propor que o povo tome essa decisão através de um referendo. 

Apesar das críticas divulgadas pela mídia, dando conta que, neste caso, o referendo é inútil, supérfluo e representa um gigantesco gasto de dinheiro público que poderia ser empregado em outras questões sociais, o comandante Eli Gonçalves, em sua participação no debate, ressaltou a importância do referendo. Para ele, é um momento onde a democracia ganha ênfase e o cidadão tem a oportunidade de tomar sua própria decisão, sem representantes. Assim como Fátima Macedo, ele acredita que essa é uma decisão individual que não pode ser delegada.

SIM OU NÃO?

Para se chegar ao Sim ou Não no dia 23, há muitas questões a se considerar: a tentativa de vivermos sem armas algum tempo e voltar a ter armas sempre será possível; o lucro, o dinheiro envolvido e como somos marionetes de uma indústria de armas e munição; o perigo das armas em casa que crianças e adolescentes podem encontrar; a hipótese de um golpe militar pegar a população desprevenida, e muitas outras que, dependendo da posição de cada um, fazem tender para um lado ou outro.

O importante é que na hora de escolher o cidadão esteja consciente, considerando não somente sua necessidade individual, mas o bem-estar da sociedade como um todo.

Iniciativa como a dos acadêmicos do curso de jornalismo da Funorte é importante porque atinge uma parcela da comunidade que é formadora de opinião e pode orientar àquela que ainda não conseguiu se situar diante da pergunta formulada de maneira confusa: O comércio de armas e munição deve ser proibido no Brasil?

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