Káthira Cangussú
Repórter
kathira@onorte.net
Ouvir dizer que se precisa de alguém com mais experiência se tornou uma frase diária para quem busca emprego todos os dias. Mas, como ter experiência sem a oportunidade de aprender?
Caso o currículo não tenha estágio como palavra-chave, por exemplo, esta é uma frase que os universitários costumam ouvir no momento de disputar uma vaga em sua área de estudos.
Especialistas defendem que é justamente pelo estágio que o jovem pode traçar o melhor caminho para dar início à conquista de um lugar ao sol no concorrido mercado de trabalho. Sendo assim, investir o quanto antes nesta direção é mais que uma simples opção profissional: trata-se de uma escolha eficiente na construção de uma carreira promissora.
Para a consultora de estágios, Marisa da Silva Lina, muitas pessoas que fizeram o curso superior e priorizaram os estudos ao invés da experiência prática que o estágio proporciona, encontram dificuldades para se colocar no mercado de trabalho. Isto porque as empresas sempre estão à procura de mão-de-obra qualificada, mesmo entre os jovens que ainda têm pouca vivência de mercado.
- Neste cenário, quem fez estágio certamente acaba levando vantagem - conclui ela.
MÃO NA MASSA
Embora o conhecimento teórico seja fundamental, segundo Marisa, colocar a mão na massa garante que os jovens aprendam de uma forma mais efetiva para o seu ambiente profissional.
- As empresas sabem disso e priorizam quem tem este perfil na hora da contratação - declara.
Ela acrescenta também que quanto mais cedo o jovem se deparar com as dificuldades que seu mercado oferece, melhor preparado ele estará para desenvolver competências e resolver as crises corporativas. Por isso, estagiar nos primeiros anos da faculdade torna-se fundamental.
Além disso, o estágio também pode ser uma fonte de experimentação. Um estudante de psicologia, por exemplo, pode descobrir se quer trabalhar em uma clínica ou consultório atendendo crianças ou adultos a partir de uma vivência como estagiário.
Para Michelle Meira Torres, 23 anos, estudante de Odontologia, muitas vezes o jovem chega na faculdade com seu futuro traçado. Quando começa a fazer estágio descobre que não é nada daquilo que imaginava. O contrário também pode acontecer.
- Em boa parte dos casos, inclusive, o estágio abre portas que antes ele nem podia sonhar - acrescenta.
Foi o caso da estudante de Normal superior, Gisele Caroline Veiga, de 25 anos. No terceiro ano do curso, a jovem já está encaminhada em sua profissão graças ao tempo que estagiou em uma escola infantil. Dois anos de estágio, renderam uma contratação e uma experiência muito mais ampla do que ela imaginava que a carreira poderia lhe proporcionar.
- Além das atividades de dar aulas, também faço parte do corpo secretariado da escola. Assumindo diversos papéis na escola, me envolvo com uma série de procedimentos que contribuem para minha evolução profissional - diz.
INTEGRAÇÃO
O CIEE - Centro de Integração Empresa-Escola, tem a função de integrar o estagiário na empresa. Além das competências específicas que ele desenvolve dentro de sua área de estudos, o estagiário entra na empresa com a função de aprendiz e muito do que ele vivencia ali será fundamental para a construção de sua identidade profissional.
Embora especialistas encarem o estágio com uma experiência que vale ouro, não são todos os estudantes que conseguem ter essa vivência e, por conseqüência, conquistar um lugar na empresa. Seja pela impossibilidade de trocar um emprego estável e com um bom salário por um estágio de baixa remuneração, ou pela falta de tempo para se dedicar a esta experiência, muitos deles chegam ao final do curso sem ter estagiado ou ainda acabam com o diploma em mãos sem o conhecimento necessário para atuar em sua área.
É o caso do jovem Luis Gustavo Rossi. Sem tempo para o estágio, sua experiência se resumiu à carga horária obrigatória de atividades práticas que o curso exigia para que o diploma fosse expedido. Formado e com pouca experiência na bagagem, conquistar uma vaga na área de Marketing virou uma missão quase impossível.
- Quando ingressei na universidade, já tinha um emprego fixo e com um salário competitivo. Por mais que não fosse a área dos meus sonhos, com a faculdade para pagar eu simplesmente não podia jogar tudo para o alto e estagiar - lamenta.
A falta de tempo foi outro motivo que impediu o jovem de seguir carreira como profissional da área.
- Os estágios, geralmente, são de seis a oito horas diárias e conciliar os dois empregos, além de estudar era realmente uma tarefa muito difícil - diz.
Assim como Luis Gustavo, esta é situação de muitos jovens. Encarar a dura realidade, no entanto, aumenta a sensação de frustração por não poder investir em seu sonho profissional.
- Muitos estudantes se arrependem de não ter largado o trabalho que garantia estabilidade, ou lamentam o fato de não terem como abandonar a segurança financeira pelo futuro incerto do estágio, mas aí é muito tarde. Nos últimos anos da graduação, dificilmente empresas contratam os estagiários. Aí, então, o sonho da carreira vai ficando cada vez mais distante - declara Gilvan Matheus Dias Silveira, proprietário de uma loja de informática, que hoje tem dois estagiários que cursam sistema de informação.
AINDA HÁ TEMPO
Porém, para estes jovens, nem tudo está perdido. Quem ainda está na faculdade tem chance de conseguir estágios relâmpagos ou oportunidades em curto prazo que possam lhe render uma experiência. Além disso, estes estudantes, e também os jovens, recém-formados fora de sua área de atuação, setor que comporta uma demanda cada vez maior no país, contam com os programas de trainees.
- Em sua maioria, exigindo uma formação sólida, bons conhecimentos de idiomas e de informática, muitas vezes, os candidatos com este perfil conseguem superar as barreiras da falta de experiência e conquistar uma vaga - revela a consultora.