Profissionais estão preocupados com os jovens que cada vez mais lêem menos

Jornal O Norte
15/07/2005 às 19:50.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:48

Káthira Cangussu


Repórter


kathira@onorte.net

Ler é essencial. Através da leitura, testamos os nossos próprios valores e experiências com os dos outros. No final de cada livro ficamos enriquecidos com novas experiências, novas idéias, novas pessoas. O ato de ler contribui decisivamente para o processo civilizatório de uma população, no seu desenvolvimento social, econômico e político. Não há nação desenvolvida que não seja uma nação de leitores.

Porém, uma estatística foi trazida à tona através de um levantamento que define o perfil dos alunos no Brasil, realizado pelo Inep - Instituto nacional de estudos e pesquisas educacionais. A pesquisa traz um dado preocupante: dos 270 mil alunos analisados, 7,4% passaram pelo ensino fundamental, sem nunca terem lido sequer um livro. Mais da metade (55%) leu nenuma ou, no máximo, três obras.

Encontrar culpados para o problema torna-se difícil, e talvez não seja necessário como primeiro passo. Estudantes e professores se esquivam da responsabilidade. Hoje, o hábito de leitura entre jovens se restringe ao uso de iternet, televisão e rádio.




Falta de leitura prejudica o aprendizado e a convivência escolar

A CULPA É DA SOCIEDADE

Para a psicóloga Maristella Beníccio, o fato de os jovens não possuírem o hábito de leitura, muitas vezes são causados pela própria sociedade.

- Hoje, mesmo nas escolas, as pesquisas não são feitas mais através de livros didáticos, mas pela internet. As pesquisas, as notícias, as buscas de informações são procedimentos realizados em segundos. Hoje, os jovens pensam não ter tempo para fazerem mais nada, por isso consideram ser perda de tempo fazerem a leitura se a Internet oferece tudo pronto. Mas não se pode deixar de lado o velho livro didático, de cabeceira. Um bom jornal também pode trazer muitos conhecimentos - completou.

A mídia eletrônica, por outro lado, tende a ser indiferente. Apesar da existência de boa televisão, boa escrita na internet e videogames que testam a lógica, a mídia eletrônica, em grande parte, convida a uma recepção inerte. A pessoa seleciona o canal, mas então a informação chega pré-processada.

- A maioria das pessoas usa a televisão como meio de desligar suas mentes e não ativá-las. Muitos leitores assistem à televisão sem risco, mas para quem a televisão substitui a leitura, as conseqüências são abrangentes. Por outro lado, a leitura de livros é uma entrada para o diálogo. Um livro pode ser um amigo, falando não com você, mas para você - acrescenta.

- O fato de os  índices de depressão estarem subindo, enquanto os índices de leitura estão caindo não é por acaso – diz, por sua vez a pedagoga Mirtis da Silva Lins, 47 anos, que há vinte e cinco trabalha com alunos que possuem dificuldades em leitura e aprendizado.

- Existem motivos para que os jovens acabem tendo pouca leitura. Antes de qualquer coisa, nós precisamos levar em consideração alguns fatores como a televisão - diz a professora de Pedagogia, Edna Maria Martins.

Ela afirma que entre as pessoas de faixa de 17 e 18 anos, foi acostumada a ficar diante da televisão.

-Antigamente leitura era para a elite, não havia democratização do ensino. Quando uma maior camada da população teve acesso à escola e oportunidade de ler mais a televisão chegou e estimulou a queima de algumas etapas na formação destes jovens. E, com a imagem e o visual, a TV acaba sendo um estímulo maior do que os livros.

DIFICULDADES PARA ENTENDER

A fonoaudióloga infanto-juvenil, Andréia Pereira de Freitas, disse que durante a aprendizagem da escrita, a criança passa por várias fases até chegar à hipótese alfabética, na qual realiza uma análise sonora da palavra que vai escrever, fazendo corresponder a cada som de fala um significado que vai ser escrito.

- A produção escrita da criança torna-se legível para o adulto, embora não haja ainda o domínio das regras de ortografia, o que ocorre posteriormente, de forma gradativa. Também esse processo deve ser estimulado, através da apresentação de materiais escritos na escola e no ambiente familiar, já que se trata de uma aquisição cultural, ou seja, que não ocorre apenas internamente na criança - completou.

Para a professora de português, Paola Fonseca Ferreira um problema decorrente da falta de leitura é a dificuldade de compreender o que se lê.

- O aluno poderá ficar prejudicado por ter passado a vida toda sem o hábito da leitura. A leitura é uma prática social básica para que qualquer sociedade se desenvolva. Independente da forma e do tempo médio que as pessoas gastam com essa prática, ela é o pilar para o desenvolvimento mundial - disse ela ressaltando ainda que, além de tudo, as pessoas só falam e escrevem bem quando há um contato permanente com a leitura. Por isso, a leitura não pode ser relegada a segundo plano em nenhuma sociedade. Ela remete ao conhecimento, que por sua vez, pressupõe poder.

A estudante do ensino fundamental, Larissa Nunes Maia critica os professores, que muitas vezes são culpados pelo não hábito de leitura.

- Não podemos esquecer que muitos fatores podem ser responsáveis pela falta de gosto na leitura. No ambiente escolar, por exemplo, há momentos em que o professor deixa de ser um incentivador, o intermédio entre o aluno e o conhecimento, passando a exercer uma relação de autoritarismo no processo do aprender através da leitura - afirma a estudante.

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