
As cidades norte-mineiras de Lontra e Japonvar retomaram a produção de leite após um período de queda entre as famílias rurais. A partir de 2020, os produtores adotaram práticas técnicas de manejo e uma nova estratégia de comercialização. Cinco anos depois, o trabalho conduzido pelo Sistema Faemg Senar mostra resultados e transforma a realidade local.
A evolução foi impulsionada pela Assistência Técnica e Gerencial (ATeG). O zootecnista Weudes Rodrigues Andrade, que acompanhou de perto a reorganização produtiva, lembra que as comunidades não tinham tradição forte no leite e dependiam quase exclusivamente do queijo. Essa limitação tornava a renda instável e vulnerável às variações de preço. “Era a única fonte de renda que os produtores tinham, mas enfrentavam muita dificuldade para comercializar, principalmente na época de chuva, quando o preço do queijo cai demais por causa do excesso de produto”, relatou.
O avanço veio com a implantação de uma linha de captação direta para os laticínios, o que deu aos produtores uma alternativa mais segura e previsível de venda. “Buscamos uma nova opção para comercializar o leite e deu certo. Primeiro conseguimos apoio da Emater e de uma cooperativa, depois da prefeitura e da Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba). Em 2021, já tínhamos três tanques de resfriamento instalados, e todos seguem em funcionamento”, contou Andrade.
Apesar dos ganhos, a alimentação do rebanho ainda é o ponto mais sensível. A baixa incidência de chuvas exige planejamento rigoroso na produção de silagem e no manejo do pasto. “É uma região com pouca chuva, então o produtor precisa se programar para ter volumoso o ano inteiro, principalmente na seca, quando o preço do leite sobe”, explicou o técnico. Ele destaca que os produtores já absorveram bem esse conhecimento e hoje atuam de forma mais independente.
A mudança já é percebida no dia a dia das famílias. A produtora Osvania Gonçalves de Souza lembra que antes havia dificuldade para manter volume suficiente, o que levava empresas a retirar os tanques das comunidades. “O tanque chegava e, meses depois, ia embora porque não conseguíamos entregar o ano todo. Agora isso mudou, e o leite voltou a ser nossa principal renda”, contou.
Os resultados também aparecem na história de Edson Wander Gandra Oliva, produtor há três décadas, que viu sua produção crescer após melhorar o manejo e a gestão financeira. Ele admite que antes não acompanhava os números da propriedade. Com o apoio técnico, passou a controlar despesas, avaliar o retorno e ajustar alimentação e genética. “Aumentei a produção. Depois do ATeG, passamos a ter acesso às coisas corretas e a errar menos. Antes eu entregava 40 a 60 litros por dia; agora são 150. Até dezembro quero chegar a 200 litros, e em 2026 espero dar outro salto”, afirmou. Mesmo no período mais seco do ano, os tanques das comunidades registram mais de 700 litros captados por dia.
