Reciclagem de latinhas é recorde e gera mais renda para famílias de todo o país

Mais de 98% do material consumido no país foi reaproveitado em 2021, beneficiando milhares de famílias que vivem de catar recicláveis nas ruas

Larissa Durães*
Publicado em 17/05/2022 às 10:55.
 (FOTOS LARISSA DURÃES)

(FOTOS LARISSA DURÃES)

A reciclagem de latinhas de alumínio bateu recorde no país em 2021. Foram 33 bilhões de latas recicladas, o que equivale a 98,7% das 33,4 bilhões de unidades consumidas pelos brasileiros. O número, divulgado pela Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alumínio (Abralatas), mantém o Brasil na liderança do ranking de nações que mais reciclam esse tipo de embalagem.

De acordo com a Recicla Latas – entidade gestora criada pela Associação Brasileira do Alumínio (Abal) e a Abralatas – as 415,5 mil toneladas de latinhas de alumínio recicladas no ano passado ajudam não só a preservação do meio ambiente, mas também representam importante fonte de renda para várias famílias.

Esse volume de reciclagem, segundo a Recicla Latas, representa uma taxa de redução média de 95% de emissões de gases do efeito estufa. 

Por outro lado, a prática é a principal forma de sustento de cerca de 800 mil catadores e catadoras em atividade no país, segundo o Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR).

Esses dados são motivo de comemoração nesta terça-feira (17), em que se celebra o Dia Internacional da Reciclagem. Instituída pela Unesco, a data tem o objetivo de estimular a reflexão sobre a importância de fazer o descarte correto do que é consumido, favorecendo o reaproveitamento.

Apesar dos dados positivos com relação à reciclagem das latas de alumínio, o país ainda precisa avançar muito nesse quesito, principalmente no que diz respeito a outros tipos de resíduos. Sem contar a necessidade de se criar melhores condições de trabalho para os catadores, aliados da sociedade nesse processo de preservação ambiental.
 
CATADORES
Em Montes Claros, a estimativa é a de que cerca de 1.500 pessoas trabalhem catando material reciclável nas ruas da cidade. “Infelizmente, esse levantamento fica a desejar no município”, afirma o fundador e presidente do projeto Amor e Vida, Josmar Xavier dos Santos.

Segundo ele, a entidade já pediu à Prefeitura de Montes Claros para que esse mapeamento fosse feito, o que ainda não aconteceu. O projeto Amor e Vida, criado na cidade há 11 anos, conta com 900 associados.

“Esse pessoal em vulnerabilidade social precisa de cuidados. E hoje, a salvação tem sido os recicláveis. Muitas famílias em Montes Claros vivem de recicláveis”, afirma Josmar.

Ele ressalta que “o que é lixo para muita gente é luxo para quem tem entendimento e respeito sobre esse assunto”. É o caso de Francisco Alves Fernandes, de 55 anos. Há 35 ele trabalha catando material reciclável em Montes Claros. Agora, ele integra o quadro de funcionários da associação, o que é motivo de muita alegria. “Tem um mês que estou na associação. Agora está uma maravilha, porque vou ter um fixo, acho que vou receber um salário mínimo”, diz, satisfeito. 
 
O PRIMEIRO
O projeto Amor e Vida foi o primeiro galpão de coleta seletiva em Montes Claros, criado por meio de uma parceria com o Ministério Público (MP) e a prefeitura. Depois, surgiram outros, porque o município viu que era necessário e viável e apoiou a construção de novos espaços, explica Josmar.

Cerca de 40 pessoas trabalham no galpão e recebem um salário mínimo (R$ 1.212). Os demais contam com assistência em cursos profissionalizantes e recebem por dia, caso trabalhem e entreguem material.

Importante, mas desvalorizado
A dura rotina de um catador vai pesando com o tempo. “Chega uma hora que não é fácil, pois, é um trabalho muito pesado”, afirma Josmar Xavier. Opinião compartilhada pela ex-catadora, Maria do Socorro Soares, hoje presidente da Associação Montes Claros de Catadores de Recicláveis (Montesul). A entidade reúne 15 catadores atuantes e 25 cadastrados.

Para ela, a profissão é de extrema importância. “É importante para mim, importante para as famílias que vivem disto e importante para a cidade”. Cada quilo de latinha que a associação vende rende de R$ 7 a R$ 8. E é desta venda que ela paga os catadores. “A gente paga o catador aqui por quinzena. Já teve quinzena que conseguimos pagar R$ 250 por família. Sei que é pouco, mas é para sobreviver mesmo”, afirma Socorro.
 
VALORIZAÇÃO
Para Socorro, os catadores precisavam ser mais valorizados tanto pelo poder público quanto pela sociedade, pois são peça importante na manutenção da limpeza da cidade. “Pegamos o material nos lotes vagos, de porta em porta, em todos os lugares, sem distinção”, explica. Além disso, afirma que a estrutura do galpão podeira ser melhor, o que aumentaria a renda dos trabalhadores.

O ganho dos catadores da Montesul, por exemplo, poderia ser bem maior se não tivessem que vender o material reciclável para atravessadores. “A gente sempre vende para um ferro-velho aqui na cidade, justamente porque não conseguimos imprensar o material, e ele só pode sair prensado para as fábricas”, lamenta Socorro, contando que a associação possui a prensa, mas não tem como usá-la porque o galpão, localizado no bairro Santa Rafaela, não tem energia elétrica.

Segundo Socorro, quando tudo está prensado e triturado, o valor do reciclável sobe. “A gente ganha bem mais, porque também evitaria o atravessador e mandaria direto para BH, ou para quem pagar melhor em qualquer lugar do Brasil”, explica.

A Prefeitura de Montes Claros foi procurada para falar sobre o assunto, mas não respondeu à demanda.

*Com Agência Brasil

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