A empreendedora e chef de cozinha, Andréa Pereira, considera que ser uma mulher negra no campo empreendedor apresenta desafios, mas é algo possível de ser superado (LARISSA DURÃES)
Mulheres negras representam 47% das empreendedoras no Brasil, conforme revelado por uma pesquisa conduzida pelo Sebrae Delas. Segundo a coordenadora, Renata Malheiros, as mulheres empreendedoras no Brasil têm cerca de 16% a mais de escolaridade, mas registram um faturamento 16% inferior ao das empresas lideradas por homens. Ao realizar uma análise por raça, observa-se que as mulheres negras dedicam 7% a menos de horas em comparação com as mulheres brancas. “Há claramente uma sobrecarga de trabalho doméstico sobre elas”, acredita a coordenadora.
Para a empreendedora e chefe de cozinha de Montes Claros, Andréa Pereira, ser uma mulher preta no empreendedorismo, não é fácil, mas factível. “Inicialmente sempre há dificuldades. As pessoas não entendem que as mulheres podem ser grandes empreendedoras também. Então, devido a essa dificuldade, se tornou um pouco mais difícil, mas não impossível”, comenta.
Andréa relata ter enfrentado maiores desafios no contexto bancário. “Eles não confiam tanto na capacidade das mulheres, especialmente mulheres negras. Com relação ao espaço físico, não houve muitos problemas, mas lidar com os bancos é mais complicado devido à necessidade de empréstimos e negociações. É mais difícil para mulheres negras. Eu tive que provar minha capacidade e enfrentei certas dificuldades, mas agora está tudo dando certo”, diz e acrescenta que para abrir precisou de figuras masculinas e brancas ao seu redor. “Para abrir o meu negócio, tive que ter dois sócios brancos. É difícil encontrar mulheres ou pessoas negras para empreender e ser aprovado, especialmente nos bancos”.
Apesar dos desafios, a chefe de cozinha comemora a conquista de proporcionar empregos para seis pessoas em seu estabelecimento. “Já estou em funcionamento, mas ainda não inaugurei, mas aqui eu tenho seis funcionários, que trabalham comigo. São colaboradores, independente de cor ou raça. Eu então estou conseguindo gerar emprego e renda pra algumas famílias”, diz orgulhosa.
BLACK MONEY
Carla Jemima, gestora de projeto da Black Money, destaca a importância de entender o contexto do empreendedorismo negro no Brasil. Ressaltando que, historicamente, a população negra enfrentou a escravidão, levando muitas mulheres a empreenderem para comprar a liberdade de seus familiares. Após a abolição, a falta de acesso ao trabalho formal impulsionou o empreendedorismo como forma de sobrevivência. “Hoje, especialmente as mães solteiras negras, enfrentam dificuldades no mercado de trabalho, o que leva elas a empreender para sustentar suas famílias, apesar das barreiras no acesso ao emprego formal”, explica.
Segundo Jemima, o empreendedorismo afrodescendente, liderado por mulheres, foca em áreas como beleza, saúde e culinária, atendendo às necessidades da comunidade negra e criando oportunidades para outros. “Um número crescente de mulheres negras está se destacando como empreendedoras no Brasil, enfrentando barreiras estruturais no mercado de trabalho formal”.
O movimento Black Money destaca esses casos, promovendo a aceleração de empreendedores onde 70% dos participantes em média são mulheres. “Contudo, elas enfrentam dificuldades de acesso ao crédito e ao mercado imobiliário devido ao racismo estrutural. Isso resulta em empreendedores negros faturando menos que seus pares brancos”, diz Carla, que acredita que para superar esses desafios, é crucial incluir pessoas negras nos espaços de poder e promover políticas inclusivas. “O movimento busca impulsionar a economia da comunidade negra e oferecer oportunidades de sucesso”, explica.