No quarto trimestre de 2023, as mulheres brasileiras ganharam em média 20,8% menos do que os homens, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em comparação com o mesmo período de 2022, em que a diferença era de 22,3%, a pesquisa indica uma diminuição, porém, a disparidade salarial ainda persiste.

Lara Ribeiro de Almeida, pós-doutoranda da Fundação Oswaldo Cruz, atualmente conduzindo pesquisas na Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), argumenta que os efeitos na trajetória profissional e, por conseguinte, na remuneração das mulheres derivam de uma estrutura que favorece os homens, mesmo em ambientes acadêmicos e/ou públicos. “Quando se está ali, vai fazendo outras provas que ajudam a subir de hierarquia para ganhar mais, dentro da própria universidade. E muitas vezes a mulher fica para trás, porque ela não consegue produzir como o homem, não por falta de competência. Mas, muitas vezes, porque engravidam e precisam tirar licença maternidade. E acaba perdendo os adicionais de salário que ela poderia conseguir se não se ausentasse”, relata. 

Em sua perspectiva, isso não lhe parece justo. “Não é justo, porque o homem não sai da universidade porque teve filhos, porque tem uma mulher pra cuidar do filho dele, mesmo que isto custe a carreira dela e um menor salário por optar por isto. Por isso, deveria ter uma compensação para a mulher não perder tanto enquanto cuida de uma nova vida”, finaliza. 
 
TEMPO
“Carreira é tempo. Quanto mais uma pessoa se dedica a uma carreira mais ela aumenta o rendimento. Tem estudos que comprovam isto. Por isso, mais, ela vai subir ou ganhar”, comenta o economista, Aroldo Rodrigues. 

No entanto, ele admite que a concentração da responsabilidade pela criação dos filhos na figura feminina representa um obstáculo para as ambições profissionais das mulheres. “Atrapalha a mulher, porque ela biologicamente e por questões sociais também, tem um papel mais próximo com os cuidados e criação dos filhos. Mas já existe legislação que proíbe discriminação de salários por qualquer motivo, não só porque é mulher. Não pode discriminar ou pagar uma pessoa menos, ou mais por qualquer característica. O que acontece, é que por conta da maternidade a mulher acaba tendo uma desvantagem na carreira por ter que dedicar em uma jornada tripla, como casa, filhos e trabalho. Isso prejudica o trabalho dela e o ganho final”, pontua.
 
CONSEQUÊNCIAS
Graciete Afonso Prioto de Castro, advogada e vice-presidente da 11ª subseção de Montes Claros da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), concorda que a disparidade salarial decorre do preconceito dos homens em relação à maternidade. Ela observa que algumas empresas discriminam mulheres devido à maternidade, o que as impede de avançar profissionalmente, já que assumem a maior parte das responsabilidades domésticas sem apoio masculino. Isso resulta na impossibilidade de participar de reuniões tardias ou viajar, limitando suas oportunidades de crescimento e ganhos. 

“Igualdade se você está numa empresa e é gerente, diretora, você ganha o mesmo valor, porque o salário é esse, o problema é chegar nesses cargos, a oportunidade não é igual. Porque as pessoas têm preconceito que a mulher chegue ao poder da mesma forma que o homem. Porque a dificuldade da mulher de chegar ao poder é bem maior com todo o histórico que ela carrega sozinha, das questões familiares e maternidade, nas costas”, declara a advogada. “E isso vai custar caro ao país, porque as mulheres, por terem todas essas dificuldades de serem promovidas e ganharem mais, estão optando por não terem filhos. E isso vai custar caro ao país”, conclui.

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