Mais de 11 milhões de brasileiras deixaram o trabalho por terem suporte com os filhos (FREEPIK)
Uma pesquisa do Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades (Made) revela que mais de 11 milhões de mulheres abandonaram o mercado de trabalho no Brasil, em 2022, apesar de desejarem continuar trabalhando, para cuidar dos filhos e da casa. Esse fenômeno, que afeta 6,8 milhões de mulheres negras e 4,3 milhões de mulheres brancas, representa uma perda significativa de força de trabalho qualificada em um país que enfrenta uma rápida transição demográfica e envelhecimento populacional. A falta de políticas de apoio, como creches em tempo integral e licença parental, impede que muitas mães retornem ao mercado formal, resultando em um desperdício de capital humano e redução da força de trabalho potencial em cerca de 10%.
Ana Karen, é um exemplo dessa realidade. Ex-auxiliar administrativa, ela conta que deixou o trabalho após o nascimento do segundo filho. Ana já era mãe de uma menina de 8 anos e com a vinda do segundo filho ficou mais difícil conciliar maternidade e trabalho. “Agora, com a bebê, ficou ainda mais difícil, porque além da mais nova, eu também preciso cuidar da mais velha. Não tenho família aqui em Montes Claros para ajudar, então precisei parar de trabalhar”.
Ana acredita que se houvesse uma creche perto de seu trabalho ou de casa, voltaria a trabalhar.“Mas não tem nem creche particular, nem municipal perto da minha casa ou do meu trabalho. É muito difícil”. Tenho duas crianças, uma precisa ser levada e buscada na escola, e a pequena requer cuidados constantes. Uma creche próxima já ajudaria muito”, acredita.
Para ela a perda com saída da mulher do mercado de trabalho é mútua. “Eu ter que deixar (o trabalho), não foi bom nem para eles, nem para mim. Eles perderam uma pessoa experiente, e para mim também foi difícil. A falta de apoio para deixar as crianças, afeta tanto o empregador quanto o empregado”, lamenta.
Fernando Queiroz, assessor do Sindicato do Comércio (Sindcomércio) de Montes Claros, destaca que uma medida importante, em função falta de creches municipais, para manter as profissionais no mercado são as associações e sindicatos priorizarem a escolaridade dos filhos dos trabalhadores de baixa renda, com a implantação de escolas ou creches. “No momento está em andamento, aqui em Montes Claros, a ampliação do Colégio Sesc, para acolher mais filhos de trabalhadores. No entanto, a capacidade é limitada e idealmente, uma parceria com o poder público para criar creches ajudaria a reduzir a perda de mão de obra no setor”, ressalta.
Gilmar dos Santos, professor de Ciência Política no Curso Ciências Sociais da Unimontes, afirma que “Não há uma política nacional consistente para garantir a assistência às crianças pobres na primeira infância. Portanto, empresas, especialmente fábricas, poderiam contribuir com creches para os filhos de suas funcionárias. Já existem algumas iniciativas nesse sentido, tanto no setor privado quanto no público. Montes Claros, por sua vez, ainda carece de infraestrutura adequada para a educação infantil, especialmente para crianças de zero a três anos. Apesar dos avanços para crianças de três a cinco anos. Isso impede que muitas mulheres, mesmo capacitadas, ingressem no mercado de trabalho por não terem onde deixar seus filhos”, explica o professor.
Além disso, Santo acredita que a criação de creches em período integral é fundamental, pois, meio período não é suficiente para mães que trabalham oito horas por dia.