“Não dá para comprar um botijão de gás”

Montes-clarenses reclamam do pequeno reajuste no salário mínimo

Larissa Durães
15/12/2022 às 00:29.
Atualizado em 15/12/2022 às 00:29
Da esquerda para a direita: “Tem que comprar só o básico. É trabalhar pra comer, sem diversão e prazer”, lamenta Luiz José; para empresária Rejane Aparecida Gonçalves Pereira, o que não está bom, são os altos encargos. (ARQUIVO PESSOAL)

Da esquerda para a direita: “Tem que comprar só o básico. É trabalhar pra comer, sem diversão e prazer”, lamenta Luiz José; para empresária Rejane Aparecida Gonçalves Pereira, o que não está bom, são os altos encargos. (ARQUIVO PESSOAL)

O salário mínimo deverá passar de R$ 1.212, para R$ 1.302 a partir de 1º de janeiro. O valor atualizado está em uma medida provisória publicada na segunda-feira (12) no Diário Oficial da União.

A Secretária-geral da Presidência da República explicou que o reajuste considera uma variação da inflação de 5,81%, acrescida de ganho real de cerca de 1,5%. É aplicável a todos trabalhadores (setores público e privado), aposentadorias e pensões.

Para a economista e coordenadora do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), Vânia Vilas Bôas, o reajuste de R$ 90 equivale a um reajuste de 7,42%. 

Observando que a inflação oficial do IPC está em torno desse percentual, fazendo assim enxergarmos de que na realidade o trabalhador, na verdade, não estará tendo aumento de salário. 

“O aumento se daria se fosse acima do processo inflacionário. Na realidade, está mantendo o poder de compra”, destaca. 

A economista explica que manter o poder de compra em um cenário em que as pessoas estão com o poder aquisitivo jamais baixo, mais endividadas, sem postos de trabalho significa que este ‘aumento’ na realidade não vai gerar ganho para o trabalhador. 
 
QUEM RECEBE 
É o que pensa o autônomo, Luiz José de Sales, que lamenta o pequeno aumento.  

“É muito pouco porque não dá pra comprar nem um botijão de gás”.  

Para ele se for isto mesmo, o trabalhador deverá vender o almoço para comprar a janta. 

“E ainda ficar devendo no supermercado, no cartão. E orar pra que Deus não deixe ir o nome para o SPC. Tem que comprar só o básico. É trabalhar pra comer, sem diversão e prazer”, lamenta. 

Vânia explica que este é o valor apontado neste primeiro momento e que ainda pode mudar. E destaca que é importante entender que o salário mínimo, conforme a nossa legislação está hoje, é o menor valor pago a um trabalhador adulto que é remunerado, pelos honorários do seu trabalho. 

“Lembrando também que no Brasil a gente vem de um cenário de muitos anos em que o poder de compra não vem sendo restabelecido de ante dos aumentos dos salários mínimos, então temos uma perda gradual que já vem, há anos do poder de compra deste trabalhador. Este valor de R$ 90, não vai de forma alguma deixar o trabalhador alegre e satisfeito e garantir a ele um poder de compra maior”, conclui.
 
QUEM PAGA 
Em relação ao empregador , o reajuste de R$ 90 acaba por impacta muitojá que os encargos trabalhistas são reajustados. 

“Esse é o grande problema que temos no Brasil porque aumenta o salário e aumentam os problemas. Lembrando que ainda temos aqui no país a inflação psicológica, que é quando historicamente se diz que aumentou o mínimo sobe tudo, por isso não vai adiantar subir o salário. Pois, leva os serviços de prestação e serviços a aumentar os seus serviços prestados com valores acima da inflação”, ressalta a economista Vânia Vilas Bôas. 

A empresária Rejane Aparecida Gonçalves Pereira, acha natural que o aumento aconteça. O que para ela não está bom, são os altos encargos dos governos.  

“Os encargos são muito altos e acaba que o aumento do salário coincide no começo do ano que é quando vem as taxas de IPTU, IPVA e vários outros impostos e isso sobrecarrega as empresas prejudicando o faturamento dos comércios que ficam comprometidos para pagar todas essas despesas”, reclama a empresária. 

Dívida histórica

Questionada pelo O NORTE, sobre como viver no Brasil com um salário mínimo tão baixo, e com tudo tão alto, como luz, gás, comidas entre tantas outras coisas, a economista Vânia Vilas Bôas explica que historicamente o país tem uma dívida com relação ao trabalhador de salário mínimo, desde 1940 de quando foi pago o primeiro salário mínimo até agora. 

“Tivemos períodos da economia que tivemos inflações e hiperinflações e o salário mínimo não foi corrigido. Isso foi perpassando vários períodos e décadas. Então, temos um mínimo que na realidade não garante o poder de compra porque atravessamos todo esse período sem reposição do salário para corrigir nem o processo inflacionário e isso deixou essa dívida histórica”, explica. 

“É importante lembrar também, que foi em 1994, pela primeira vez que o salário mínimo chegou a 100 dólares. Antes disso, nosso salário não valia nem 100 dólares. Então o Brasil tem essa dívida histórica com o reajuste do salário e com o trabalhador”, finaliza a economista. 

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