
O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) de Montes Claros registrou uma alta de 0,81% no mês de junho de 2025, mais que o dobro do índice de 0,31% observado em maio. Os dados são da pesquisa mensal realizada pelo Setor de Índice de Preços ao Consumidor do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). Com o resultado, o acumulado da inflação no ano chega a 3,61%.
Segundo a economista Vânia Silva Vilas Bôas, responsável pela análise dos dados, o comportamento do IPC em junho apresentou algumas peculiaridades. “O grupo alimentação (0,46%), que vinha liderando a inflação, teve um aumento bem menor (0,14%) do que nos meses anteriores. Muitos dos produtos alimentares que pressionaram os preços desde o início do ano passaram a registrar queda, como a carne bovina (-0,15%), banana-caturra (-5,99%), o arroz (-1,20%) e o feijão (-2,31%)”, explicou.
Apesar da desaceleração no grupo alimentação, a inflação foi impulsionada por aumentos nos itens de habitação, principalmente pelos reajustes nos aluguéis e na tarifa de energia elétrica. “A energia subiu 7,36%, devido à adoção da bandeira vermelha, e os aluguéis tiveram alta de 7,03% por conta dos reajustes contratuais em junho”, detalhou.
Para o empresário Andrea Carpentieri, dono de um restaurante na cidade, a situação tem exigido medidas estratégicas para manter o equilíbrio financeiro sem repassar integralmente os aumentos aos consumidores. “Tanto a energia quanto o aluguel foram os principais elementos desse aumento. Infelizmente, não tem como repassar tudo isso para o consumidor final”, afirma. Segundo ele, a empresa tem buscado alternativas internas, revisando planilhas, despesas e custos para tentar “enxugar” onde for possível. “Fica muito difícil repassar para o consumidor final, é impossível.”
Diante desse cenário, algumas mudanças nos processos se tornam inevitáveis. “Infelizmente, às vezes, a única forma para sustentar essa situação é absorver o prejuízo temporariamente, talvez reduzindo um pouco a margem. A esperança é que essa inflação possa se tornar mais estável”, explica. Ele ressalta ainda que prefere não aumentar os preços para não criar uma imagem negativa junto ao público. “Acho muito injusto passar isso para o consumidor final. Não queremos parecer caros, sabe?”.
Apesar das dificuldades, Andrea reconhece que houve uma leve melhora no preço de alguns produtos, ajudando a manter o equilíbrio nas compras. “Teve e temos que reconhecer que alguns produtos diminuíram o custo. Aumentou o azeite, mas talvez diminuiu a carne; aumentou a farinha, mas talvez diminuiu o tomate. É preciso buscar esse equilíbrio entre os produtos”, pontua. Ele destaca ainda que manter a qualidade é uma prioridade. “Não pode alterar a qualidade porque o cliente percebe na hora se você está comprando produtos baratos”.
TARIFAS
A economista adverte que as tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos podem impactar setores estratégicos no Brasil, afetando o emprego e os preços, principalmente dos alimentos. “Apesar disso, acredito que a queda nos preços de alguns itens continue no segundo semestre, ajudando a controlar a inflação.”
O empresário expressou apreensão quanto às possíveis tarifas comerciais, destacando que um aumento poderia elevar os custos dos alimentos no Brasil. “Por precaução, decidi reforçar os estoques de produtos importados. Vou tentar amenizar os efeitos de um eventual aumento nos custos”, concluiu.